quinta-feira, 9 de setembro de 2010

”DEIXAI FAZER, DEIXAI PASSAR”


Cesar Techio - Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com

Excepcionais foram os anos vividos no seminário. Lá pelos idos de 1974, num belo dia de primavera, anotei num caderninho: “Laissez faire, laissez passer et le monde va de lui-même”, em português “deixai fazer, deixai passar que o mundo marcha sozinho”. O candente sorriso de Frei Anselmo Hugo Schwitzer trazia, em plena aula matutina, uma frase que marcaria para sempre, em parte, minha postura perante a vida. Bem mais tarde, já na faculdade de economia da UFPR, soube que este era o ideário da Escola Fisiocrata que tratava da teoria econômica contra a política intervencionista do Estado na vida privada dos cidadãos. A fisiocracia considerava a terra ou a agricultura a única fonte de riquezas e as outras formas de produção mera transformação dos produtos da terra com menor margem de lucro.

Estavam enganados. Hoje sabemos que outros setores da economia, como serviços e a agroindústria, por exemplo, agregam valores aos produtos e geram muito mais lucro. Com “Tablado Econômico” ou Tableau Economique, Francois Quesnay (1694-1774) criou o conceito de equilíbrio econômico. Na base conceitual de tal teoria, a liberdade de ação. Teoria econômica à parte, a ingênua concepção do “laissez faire” dos tempos da adolescência (que ainda dita meu comportamento) é de que o rigor absoluto no trato dos problemas do dia a dia ou nas relações com as pessoas em geral, especialmente para com as que nos são caras, é inútil e gerador de uma tremenda infelicidade.

Tolerância máxima no convívio social em situações irrelevantes ou que pouco contribui para mudar o mundo faz bem ao coração e torna a alma ainda mais linda. O exercício da compreensão e a receita do perdão (setenta vezes sete) desarmam o espírito e evita doenças físicas e emocionais. Nesta curtíssima passagem é preciso certa displicência na disciplina ou, disciplina na displicência, a fim de evitar infarto do miocárdio ou ainda um acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame cerebral. Paciência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Bom humor é sinônimo de inteligência. Mas, inteligentes também são aqueles que sabem viver de forma serena, discreta, procurando respeitar o modo de viver dos outros. O problema é que, egocêntricos, queremos que as pessoas sejam como um pacote de presente, perfeitinho. E, diante de qualquer pequeno deslize já julgamos, condenamos e lançamos de ponta cabeça para a masmorra. Pobres diabos, não atentamos para a receita de felicidade e de bem estar que Jesus nos legou: “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão”. Imbecis, tratamos a “ferro e fogo” nossos filhos, consortes (melhor: cônjuges, os que levam o jugo do casamento), pais, parentes, empregados e amigos. Com os estranhos nos deleitamos em delicadezas, gentilezas e amabilidades. Um bom papo com os amigos, tempo para descontração, lazer, descanso e atenção para com as coisas mais simples da vida (que realmente valem a pena) podem defenestrar o excesso de seriedade derivadas das graves responsabilidades que carregamos, resultando em alta qualidade de vida.

Pensamento no dia 7 de setembro: "Quem é bom, é livre, ainda que seja escravo. Quem é mau é escravo, ainda que seja livre." (Santo Agostinho)