quarta-feira, 5 de outubro de 2011

“Raiva”


Foto: Tucanos em Concórdia, centro urbano.

Cesar Techio
Economista – Advogado - cesartechio@gmail.com

È surpreendente como não sabemos lidar com as adversidades. Por qualquer motivo somos tomados por expressões de raiva que embola nosso raciocínio e acaba contaminando outras pessoas, criando um clima triste e perigoso que muitas vezes se torna uma bola de neve. Com a raiva nos tornamos vis e habituados com ela, passamos a assumi-la como parte de nossa personalidade. E assim, de natureza raivosa, acostumados a sermos amargos e secos, criamos situações de infelicidade. A raiva é um sentimento mesquinho, destrutivo, burro que cria conseqüências com as quais acabamos por arcar e, em decorrência disso vivemos em tempestade. O remédio para a raiva é nos separarmos dela e, sem reprimi-la ou expressa-la, passar a observar o quanto parecemos idiotas quando cooperamos com ela. Serenidade e tranqüilidade não caem do céu, mesmo porque somos responsáveis pelas nossas reações no dia a dia.

Assim, por exemplo, quando observo as loucuras no trânsito, principalmente de motoristas que não dão seta ao mudarem de direção, ao invés de chamá-los por merecidos adjetivos e proferir impropérios, passei a abençoá-los. Assim, acreditem, vou, aos poucos, me arvorando da pretensão de ser um grande abençoador e o transito de Concórdia, o mais abençoado do Brasil. Também conclui que a raiva é um fenômeno social, pois é impossível senti-la quando se está sozinho, por exemplo, bem cedinho, quando o transito veicular queda-se inerte no silencio da manhã (enquanto ainda dormem os abençoados). Pelas ruas vazias não se tem desculpa para a raiva. Não aparece nenhum mentecapto para frear quando se deve acelerar; acelerar quando se deve frear; defletir à esquerda, quando se deve virar à direita; andar mais depressa, quando se deve andar mais lentamente; andar devagar, quando se deve apressar... De fato, no alvorecer, com as ruas vazias, não existe motivo para a ansiedade, impaciência e nem para ela, a raiva.

A raiva também é um fenômeno político, pelo que percebi, pois é impossível senti-la num sistema de democracia inteligente. O direito de votar, por exemplo, inato a todo cidadão, nivela, por baixo o voto de um inconseqüente qualquer, de um irresponsável preguiçoso e vagabundo, com o voto de um juiz. Num sistema inteligente, o voto deveria ser conquistado pelos méritos, conquista oportunizada a todos, sem exceção. Um candidato deveria fazer jus a oportunidade de representar o povo, através de seu preparo intelectual, sua experiência empresarial, seu esforço na vida. Um cidadão que devotou toda a sua vida, ao estudo das finanças e da economia, que se esforçou o máximo para analisar e saber todo e qualquer detalhe fundamental das finanças públicas deveria ser elevado ao cargo de secretário das finanças. Aqueles que se dedicaram ao estudo da administração pública; os educadores que se aprofundaram na vivencia e filosofia da educação; os cidadãos que se esforçaram para conquistar um título universitário em medicina; deveriam liderar setores ligados a administração, educação e saúde pública. Do povo viriam nossos líderes (vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, prefeitos, governadores e presidentes). “Do povo, para o povo, pelo povo”, bem como manda a democracia. Com uma diferença. Do povo viriam somente os esforçados, capacitados, preparados. Com a meritocracia, duvido que alguém enfartasse de raiva por suportar pseudo-lideres, idiotas, exploradores, ladrões, ambiciosos, corruptos, bobões e aproveitadores. Aqui entre nós: quem escolheria um médico para tratar da própria saúde, só porque ele fala bem? Quem escolheria um engenheiro para construir a própria casa, só porque ele discursa “até pelos cotovelos”? É por conta destes detalhes, que decisões de políticos fomentam a concentração da renda, a exploração do trabalho pelo capital, a miséria, a fome. E a raiva!

Pensamento da semana: Zeca Olmi no PSD, sistema da meritocracia à vista?