quarta-feira, 28 de setembro de 2011

PREGAÇÕES TRIUNFALISTAS

Cesar Techio - Economista – Advogado

cesartechio@gmail.com



Abrir um livro qualquer e ler a primeira mensagem que aparece é um costume que remonta aos tempos da adolescência. Abriu-se à lume, nesta bela manhã de primavera, os versículos 8-9 do capítulo 4, de uma carta que Paulo escreveu para os cristãos de Coríntios. Disse ele: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos.” Transpondo mais de dois mil anos, a mensagem cai bem aos cristãos de hoje e demonstra que, mesmo tendo fé e sendo leal a Deus, as dificuldades fazem parte da nossa vida. Evidentemente que esta mensagem se contrapõe a ideologia dos pregadores do Evangelho, triunfalistas, de que basta se converter a Jesus e que todos os bens materiais, solicitudes, graças e bênçãos se derramam sobre a vida dos fiéis.

E mais, que a riqueza e sucesso para o crente é sinal de que Deus atende as preces de quem tem fé. Todavia, não me parece que Jesus tenha garantido sucesso financeiro aos que o aceitam. Ao contrário, ele afirmou textualmente que, por mais fé que tenhamos, enfrentaremos tribulações: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (João16:33). Então, porque enfrentamos tantas dificuldades, misérias e problemas que nos afeta a tranqüilidade, a saúde, a integridade física, emocional, financeira e a própria sobrevivência, mesmo cheios de fé?

Talvez, para desnudar nossa soberba, orgulho, prepotência, empáfia e nos colocar no nosso devido lugar. Talvez, para que possamos conhecer melhor o verdadeiro poder de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11,25). Talvez, para que conheçamos os nossos limites, fraquezas e desçamos ao nível daquilo que realmente somos. A pregação triunfalista que tem como base doutrinária e ideológica a prosperidade peca por vangloriar-se da excelência das revelações. Todavia, elas não pertencem ao pregador, mas sim a Deus. Então... cabe bem o espinho na carne de que fala Paulo: “E, para que não me exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.”

Dos meus adolescentes ouvidos, nos tempos de seminário, aos ouvidos de Francisco de Assis a respeito de como devem viver e portarem-se os pregadores, padres, pastores, bispos, missionários: “Não deveis possuir nem ouro, nem prata e não ter nas vossas cintas dinheiro como propriedade vossa, nem tampouco bolsa para o caminho, nem calçado, nem bordão” (Mt. 10, 9-10). Mensagem que também ecoa em Lucas: “Nada leveis convosco para o caminho, nem bordões, nem alforje, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas”; e em Marcos: “e ordenou-lhes que nada tomassem para o caminho, senão um bordão; nem alforje, nem pão, nem dinheiro no cinto, mas que calçassem sandálias e que não vestissem duas túnicas.(Marcos 6,8-9).