quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A MORTE DE RICARDO VILMAR SEBEM




 Cesar Techio
Economista – Advogado


          É inacreditável a morte do Ricardo, nosso querido amigo de infância, pessoa amável, cordata, sempre contente, alegre e disposto a fazer os outros felizes. Um verdadeiro gênio, era concursado e funcionário modelar da Petrobrás. Morreu em passeio pela Espanha, de infarto, deixando chocados todos nós, seus amigos. Nunca mais veremos aquele sorriso e sentiremos aquele abraço fraterno, caloroso, humano e confortador, tão característicos do seu modo de ser. Ricardo com 52 anos era filho de José Sebem (80) e neto de Angelo Spricigo (100) e não consta em sua família intercorrências cardíacas, o que torna a sua morte física paradoxal.

  Diante de quadros tão emblemáticos, vivenciado por todos nós, todos os dias, com a morte de tantos jovens, entre os quais me ocorre à memória inúmeros amigos da juventude, constato que a vida é mesmo paradoxal. Ela não anda de forma linear, pelas veredas da lógica aristotélica ou pelos caminhos unidimensionais da matemática euclidiana, bases da formação com a qual fomos treinados a refletir e a pensar o mundo. Senão, como explicar que filhos precedam os pais na morte, numa total inversão da natureza? Na realidade, a morte começa no momento em que nascemos e mesmo que não pensemos nisso, somos forçados a conviver com ela diariamente num contínuo processo dialético hegeliano no qual nada é certo, lógico, estanque, e no qual não existem verdades absolutas.

  Saber que a morte está contida na vida e que, se quisermos viver plenamente também precisamos morrer cotidiana e concomitantemente é difícil de entender. Tudo o que aprendemos pela lógica, pela física e pela matemática (da qual o Ricardo era mestre) quase nada se aplica a vida real. Nesta, o imprevisto e a supresa derrotam nossas projeções, cospem na nossa cara e fazem pouco caso da nossa arrogância porque projetamos a nossa vida para viver eternamente, senão pelo menos até 100 anos (como o avô do Ricardo). É renitente a necessidade psicológica de focarmos a nossa existência na ideia matemática da longevidade e de que a nossa memória, identidade, livros, idéias e cultura, vão durar para sempre.

  Lamentavelmente nossas fotos e informações, por exemplo, as gravadas na forma digital, em downloads ou guardadas em “nuvens” pelos gigantes da informática, não vão durar mais do que o tempo de vida útil dessas empresas, que podem falir deixando de replicar e esvanecendo seus arquivos. Discos rígidos de computador, DVDs e CDs não se tornam confiáveis após cinco ou dez anos. As tecnologias mudam rapidamente e novas máquinas nem sempre possuem a capacidade para ler informações construídas com tecnologias do passado.

  A nossa civilização entrará em colapso, como ocorreu com outras no passado (Egípcios, Astecas, Maias, Gregos, Romanos). Em poucos séculos o ferro, o asfalto, o concreto, o aço e o metal das fundações dos prédios das nossas cidades também vão virar pó. O que mais dura, construídos pelo homem, são artefatos de vidro, cerâmica, ouro, alumínio e pedra. E o que menos dura? Nossa etérea e volátil pretensão de sermos eternos. Adeus Ricardo. Quem sabe um dia nossas almas eternas se reencontrem, com nossos amigos, na alegria do teu abraço.


Pensamento da semana: ”O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. (Maria Julia Paes de Silva). Ricardo, você era incomparável. Seu amigo de sempre: Cesar Techio.