Cesar Techio
Economista – Advogado
Lula acha que Concórdia está
desconectada do mundo, que por se tratar de um município incrustado em meio a
uma região topográfica acidentada, no oeste catarinense, por aqui ninguém vê
televisão, não ouve rádio e não lê jornais e revistas. Com a clara pretensão de
se afastar da investigação da Operação Lava Jato que se aproxima dele, atacou
sem qualquer escrúpulo seu próprio partido: “O PT perdeu um pouco do sonho da
utopia. A gente só pensa em cargo, em ser eleito, ninguém trabalha de graça
mais. Estamos querendo salvar nossa pele e nossos cargos ou criar um novo projeto?”.
E, publicamente vem criticando a política econômica da presidente que ele mesmo
colocou no poder. Em meio o furacão que começou com o mensalão e arrasta
lideranças políticas e empresariais para o centro do petrolão, Lula pretende
descolar sua imagem do próprio PT e do governo, de olho nas eleições
presidenciais de 2018. Também não é pra menos. Conforme o Instituto Datafolha, em
pesquisa divulgada na Folha de São Paulo de 23/06/2015, o PT possui somente 11%
da preferência do eleitorado. Pesquisa anterior, do dia 20, mostra a
desaprovação da população com o próprio governo da presidente Dilma Rousseff: Ótimo/bom:
10%, - Regular: 24%, - Ruim/péssimo: 65%, - Não sabe: 1%. É claro que isto tem
a ver, não só com o desastre da política econômica, mas com as investigações e
processos que jogaram atrás das grades dirigentes de partidos, empreiteiros e
que se aproxima perigosamente da maior estrela do PT.
Mas, como aqui no interior desta
cidadela de Concórdia também se lê jornais, se assiste televisão e se ouve
rádio, a conclusão sobre a fala de Lula é de que ele só pode estar falando sobre
si mesmo e de seus amigos mais próximos, dada a sua direta responsabilidade pelo
comando do país nos últimos anos. Se a estratégia de Lula para descolar do PT parece
escancaradamente uma piada, para petistas éticos, corretos e honestos, pode dar
certo.
É o caso de Concórdia, município
também governado pelo PT. Depois de 16 anos de administração petista, apoiada
por partidos coligados, João Girardi e Neodi Santhier deixarão os cargos no
início de 2017, admirados e respeitados pelos concordienses. A política transparente,
sustentada por uma gestão competente e de visão de futuro, faz com que, ao contrário
do que pretende Lula a nível nacional, o PT de Concórdia naturalmente se
“descole” da figura do ex-presidente e de Dilma Rousseff. É que, por aqui,
com a devida vênia, não me parece que nenhum petista queira “salvar a pele” ou
tenha perdido o sonho, o sono ou ainda a tranquilidade de consciência. O PT de
Concórdia, é preciso convir, tem diferenças abismais do PT de Lula e está muito
longe dos “rolos” do tesoureiro João Vaccari Netto, vulgo “mochila” ou “mochilinha”
para os mais íntimos.
E não me surpreenderia se, a exemplo da
senadora Marta Suplicy, lideranças políticas da região apresentassem desfiliação
à legenda. Só para lembrar, outros partidos também se encontram envolvidos em
denuncias de corrupção, tanto é, que a lista do petrolão reúne a cúpula do
Congresso Nacional e mais 5 partidos (PMDB, PP, PT, PTB, PSDB). Para piorar, um
dos maiores empreiteiros do país e amigo de Lula, Ricardo Pessoa, delatou a
entrega de dinheiro desviado da Petrobras para turbinar a eleição de várias
figuras da República. A lista com os
nomes desta gente tá na Veja, edição 2432, pág. 39, que circula hoje, ali no
centrinho, na Banca Camargo.