Cesar Techio - Economista – Advogado
Os grandes monstros
da história moderna, a partir de Hitler e Stalin, continuam a se reproduzir em
várias partes do planeta, não devendo ser desconsiderado que uma guerra nuclear
catastrófica tem todas as chances de ocorrer, especialmente através de um
regime ditatorial afastado das leis, da opinião pública e em especial de
qualquer noção de direitos humanos. A ditadura norte coreana despreza de forma
violenta e indiscutível a liberdade pessoal de cada indivíduo. A dignidade do ser
humano, sua liberdade de orientar-se e agir conforme sua razão, entendimento e
opção de vida é algo totalmente descartado por aquele regime tirânico. De uma
maneira geral, as pessoas que vivem em países ditatoriais e totalitários não
são vistas como indivíduos portadores de direitos e deveres, mas apenas como
objetos para o uso arbitrário da vontade egoísta dos tiranos de plantão.
Aristóteles define estes regimes como “um domínio irresponsável, sobre iguais
ou melhores, no interesse do dominador, mas não no interesse dos dominados”.
Com
métodos poderosos de persuasão e repressão (dinheiro, exército e meios de
comunicação), forçam o povo a aceitar a ideia de que o tirano é o próprio
Estado, a nação e que ele representa a vontade de todos e até de Deus. Sem
piedade ou qualquer sentimento de misericórdia ou respeito, os ditadores buscam
a todo o custo a coisificação e instrumentalização do ser humano, a quem forçam
a se tornar simples meio para fortalecer a sua sede de poder. Mas, além de
ignorarem as leis, os costumes e padrões morais de seu tempo; além de
massacrarem o próprio povo, escravo e vítima da miséria; além de encarcerarem,
torturarem e matarem os opositores políticos, seus filhos e famílias
(atualmente são mais de duzentos mil norte-coreanos nesta situação), os tiranos
possuem uma política voltada ao poder universal, além de suas fronteiras.
Completamente ensandecidos buscam coagir e obstruir o direito das nações de
viverem em paz. Tentam ostensivamente ferir a autodeterminação dos outros povos
no âmbito dos direitos fundamentais, apontando-lhes armas e estratégias
invasivas. Trata-se de poder ilegítimo que, dentro da globalização da
convivência humana e do direito internacional, deve ser suprimido com urgência
e determinação.
Mas,
ditadores e tiranos nem sempre vivem além-fronteiras. Em que pese obterem
notoriedade quanto mais alcançam o poder político, tiranos e ditadores muitas
vezes podem ser encontrados dentro de nós mesmos. Lá no fundo da nossa mente,
um simples exame de consciência pode às vezes revelar um Kim Jong-um qualquer.
Refletindo sobre o texto acima é possível que nos identifiquemos com alguns
ditadores da história recente. Basta nos perguntar o quanto
transformamos nossas atitudes e ações em egoístas interferências e
transgressões da liberdade dos outros. Pequenas violências como a falta de
atenção familiar, amor aos filhos, respeito aos pais e palavras vazias como “eu
te amo” sem correspondência concreta, não nos faz muito diferentes dos
ditadores que querem dominar o mundo. Que nossos beijos não sejam apenas
exercício dos lábios atrás dos quais não existe ninguém, mas uma força capaz de
extinguir os ditadores e tiranos que existem disfarçados dentro de nós.
Pensamento da semana: "As tiranias fomentam a
estupidez." Jorge Luis Borges.