quarta-feira, 15 de abril de 2009

"SINDICALISMO E CRISE: AUTOGESTÃO"

“SINDICALISMO E CRISE: AUTOGESTÃO”
Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@Yahoo.com.br
Diante da grave e atual crise econômica, os sindicatos e organizações representativas da classe trabalhadora possuem nas mãos uma oportunidade histórica para intensificar incentivos e concretamente dar suporte à constituição de empresas autogestionadas. Empresas em concordata ou em situação falimentar podem, após estudos de viabilidade, ser transferidas para os próprios trabalhadores, que passariam, dentro da estrutura de poder, a assumirem a posição de acionistas majoritários. Com dívidas normalmente maiores do que o valor dos bens, estas empresas tornam-se, inicialmente, um problema para os novos donos, todavia, ao incorporar trabalho ao capital, as experiências de que se tem notícia, de regra são positivas, no sentido da viabilização financeira, com boas taxas de crescimento econômico a médio prazo.
De regra a capitalização pode ser realizada pelo passivo trabalhista ou desembolsado pelos trabalhadores através de percentual mensal deduzido do salário, a fim de quitar financiamentos de longo prazo a juros compatíveis com a atividade produtiva. No início o capital de giro pode ser constituído pelos produtos e estoques de matéria prima já existente, produtos semi-acabados, etc. ou desconto de duplicatas inter-empresarial já que os juros bancários são proibitivos. No Brasil existem várias experiências exitosas em autogestão, nas quais se observa que os trabalhadores estimulados pela nova condição de gestores, dão tudo de si e, de regra, viabilizam o negócio. Não raras vezes, os antigos proprietários são mantidos frente ao negócio na condição de gerentes ou consultores.
Milhares de empresas se encontram deterioradas e é do interesse dos próprios empresários obterem novos sócios como alternativa a um maior endividamento, a derrocada definitiva do negócio e como forma de se manterem no mercado. As perdas de postos de trabalho são noticiadas diuturnamente na televisão e mostram o desespero de pais de família descartados do mercado de trabalho devido a incapacidade conjuntural da economia em absorver mão-de-obra. Aliado a estes aspectos, o baixo desempenho econômico e alterações estruturais na maneira de produzir bens e serviços, traduzem um quadro de miséria que rapidamente contamina todas as classes sociais. Diante destes horizontes, os sindicatos devem urgentemente migrar da combativa postura de cobranças, reivindicações e greves para um urgentíssimo planejamento destinado a inserção dos trabalhadores no controle acionário de empresas autogestionadas.
No início as dificuldades são enormes (organização, capitalização, absorção da idéia de passar de empregado para patrão, etc.). Mas, a necessidade de se manter a atividade laboral e a própria sobrevivência, realmente deve fazer com que os sindicatos e demais organizações, passem a adotar o modelo de autogestão como derradeira alternativa para sobrevivência da classe trabalhadora. Pensamento da semana: “As experiências autogestionárias representam, diante do contexto atual de crise e desemprego, alternativas sociais e econômicas de sobrevivência, inclusão social, resgate da cidadania e de práticas coletivistas, solidárias e democráticas de produção.” (Valeska Nahas Guimarães e outros. UFSC: “Autogestão em Santa Catarina: Uma Tecnologia Social Emergente”).