quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

"ZILDA ARNS: ÚLTIMO DISCURSO"

Cesar Techio - Economista – Advogado

cesartechio@gmail.com

Centenas de leis e mecanismos legais disciplinam a conduta de agentes públicos e de políticos no Brasil, entre as quais, por exemplo, a Constituição Federal, o Código Penal (peculato; aplicação irregular de verbas públicas; concussão; corrupção passiva; prevaricação; condescendência criminosa, violação de sigilo funcional e de sigilo de proposta de concorrência, etc), a lei de improbidade administrativa, que trata do enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função, a lei de responsabilidade fiscal que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, a legislação eleitoral e assim por diante. Tanta lei até se justifica, uma vez que a corrupção desestabiliza a política e as instituições, compromete a segurança da sociedade, mina a democracia e os valores éticos, arrisca o desenvolvimento, afeta a economia e o próprio Estado de Direito.

Todavia, mesmo com o gigantesco esforço do Ministério Público, da Polícia Federal e dos mecanismos de repressão, toda essa legislação não desencoraja ao crime os meliantes transvertidos de honestos a cada campanha eleitoral, os bandidos empoleirados em cargos e funções públicas, os parlapatões que abusam do poder político e que compram e vendem o país traindo o povo em falcatruas criminosas. Traidores da pátria, destituídos de escrúpulos e de consciência cívica, não possuem medo das autoridades ou qualquer preocupação com o arcabouço legal que lhes obriga, em tese, a andar na linha. E se matam de rir frente às câmaras de televisão, certos da impunidade, da pouca memória e da burrice do eleitor. Sem peias, sem consciência, sem qualquer ordem de valores ou imperativo ético, estes vagabundos que denigrem a classe política, instauram o desrespeito a “res” pública e rompem com qualquer espécie de consideração para com os ingênuos eleitores que neles votaram.

O exemplo destes canalhas ilude e perverte a juventude, desagrega a sociedade e deixa a impressão de que se vive num país no qual as instituições estão à mercê de um mundo subterrâneo no qual, no dizer de Jacques Maritain, em Humanismo Integral: “aparece como máscara mentirosa toda a dignidade bem regulada de nossa consciência pessoal”. Desgraçados, combatem o Direito Natural, a lei inscrita por Deus no coração do homem, ou, no dizer do saudoso Pe. Bruno Hammes, citando Santo Tomás na disciplina de Introdução ao Direito, nos tempos da amada UNISINOS: “desprezam a lumen naturalis rationes, luz da razão natural, impressio divini luminis in nobis, impressão em nós da luz divina, fundamento do direito positivo.”

Entretanto, entremeio a este escárnio, infâmia e permissividade que inferniza (literalmente) a vida do povo sofrido, aparecem exemplos de santidade, de amor ao próximo, de compaixão e de caridade infinita. Como o de Zilda Arns, dedicada às crianças, vítimas esmagadas pela pobreza causada pela ação trágica destes malditos e corruptos políticos, que desviam o dinheiro da saúde, da educação e do desenvolvimento econômico. No Brasil precisamos de candidatos com o perfil de caráter e de ideais da “Heroína da Saúde Pública das Américas”. Mas também, de eleitores que tenham discernimento e saibam, com o voto, defenestrar da vida pública políticos fariseus.

Pensamento da semana: “Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los. Muito Obrigada, Que Deus esteja com todos.” Trecho do último discurso de Zilda Arns, no Haiti.