Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com
Pessoas mortas controlam as vivas. A afirmação tem sentido. Desde a infância, somos condicionados pelos nossos pais a sermos o que eles foram. Eles por sua vez foram condicionados pelos pais deles, nossos avôs e estes pelos pais deles, nossos bisavôs. Após gerações, continuamos errados, cometendo os mesmos erros, ligados na tradição (palavra de radical grego que significa trair). Assim, traímos a evolução e continuamos controlados pelos mortos, ligados a eles genética, emocional e ideologicamente. E, como autômatos vamos controlando nossos filhos e estes controlarão os deles, sempre repetindo os mesmos erros, as mesmas doenças, as mesmas crenças, as mesmas burrices dos que morreram. A revista Veja, edição 2247, numero 50, pág. 73, que circulou no dia 14/12/2011, traz uma reportagem sob o título: “Só faltava esta: xiitas do Afeganistão são massacrados em feriado religioso”. A encrenca tem a ver com uma disputa que se estende há séculos sobre quem são os legítimos herdeiros do fundador da religião muçulmana. Mais adiante outra reportagem, “Guerra Perdida”, estampa o conflito conhecido como Guerra do Vietnã, na qual milhares de jovens americanos e vietnamitas perderam a vida. E assim caminha a humanidade. Desde os grandes massacres promovidos por ditadores, regimes totalitários ou em nome da religião ou ainda da política, até as encrenquinhas domésticas e fofocas entre vizinhos. E sempre foi assim. Ficamos transferindo hábitos, ódios, egoísmos, de uma geração para a outra. Por isso digo que pessoas que morreram há séculos continuam controlando os vivos.
Mas, hoje, temos grandes oportunidades para mudar o eixo desta tradição (traição). É preciso romper este círculo vicioso, a começar pelos relacionamentos mais simples. Lançar um olhar de amor, consideração e respeito pelos outros, eis o primeiro segredo. O segundo é cuidarmos da nossa própria vida. Lavar a boca toda a vez que nos dá aquela coceirinha para fofocar da vida alheia e deixar os outros viverem em paz. Emendar notícias é especialidade dos fofoqueiros. Entretanto, nem tudo o que nos falam ocorreu exatamente como nos falam. A religião, cor da pele, opção sexual e política, sob o ponto de vista dos princípios e fundamentos da nossa constituição, dizem respeito a intimidade e privacidade de cada um. Cada qual torce pelo time de sua preferência e precisamos frutificar a tolerância com relação a isso.
Enfim, precisamos regressar a infância, consertarmos os erros que nos inibem de viver em paz e fraternalmente começar tudo de novo. Primeiro é necessário rompermos o cordão umbilical com a maneira errada de viver daqueles que já se foram. É fundamental cortar as velhas raízes e liberar na nossa cabeça e coração, uma nova consciência, um novo renascer. Uma vez destruído o controle das gerações passadas, com uma nova visão será possível curtir essa vida com muito mais alegria e saúde. Neste ano que chega ao fim, vamos jogar no lixo os preconceitos, a rabugice, o mau humor, as fofocas e largar de vez “do pé” das pessoas. Vamos amar de verdade, a começar pela nossa família, nossos filhos, consortes, parentes e amigos. Depois as pessoas que são diferentes, que pensam e que vivem de forma diferente do que nós. Tenhamos coragem para fazer isso. E feliz ano novo!
Pensamento da semana: “Rogério Pacheco, um grande defensor dos interesses do povo e de um Plano Diretor mais inteligente. Em meio a surdos e mudos, faz história na oposição e merece nosso respeito.”