quarta-feira, 25 de maio de 2011

CIRCO FANTÁSTICO


Cesar Techio - Economista –Advogado
cesartechio@gmail.com

Procuro, dentro de mim, respostas para as emoções que sinto quando assisto aos espetáculos circenses. Será que é pela beleza, pelo clima surreal, pela alegria de seus atores e atoras ou pelo fato de que, ao ingressarmos naquela atmosfera multicolorida, naquele clima de intensa felicidade, nos confrontamos com a criança que existe escondida dentro de cada um de nós? O problema é que o nosso corpo vai envelhecendo e com ele vamos perdendo a elasticidade da alma, a capacidade de nos alegrar. O problema não é a diversão, mas a supressão da diversão. Um ser humano que tem prazer em rir, jamais cairá num divã de psicanalista. Nunca vi um homem de bom humor ir ao psiquiatra por estar esquizofrênico. Dançar, contar e ouvir piadas, se afastar das mesquinharias dos rabugentos, desafiar a raiva dos frustrados e curtir a inocência de uma vida sem preconceitos e arrogâncias, é receita que prolonga os nossos dias sobre a face da terra. Quando as lonas de um circo me envolvem, fico a imaginar se é possível que um homem viva sem alegria. Ao observar as irreverências inteligentes e desafiadoras do palhaço Coca Cola do sensacional Circo Fantástico, me veio a resposta, de que somente é possível a um homem viver, se for com alegria.

Deparo-me, no dia a dia, com homens cheios de sentimentos de culpa por isso ou por aquilo e, por conta dessa situação não vivem. Confundem alegria com leviandade, seriedade com sisudez, “ser criança” com infantilidade. Tudo é pecado, tudo é errado. No fundo, a moralidade que pregam não passa de mecanismo de defesa, pura tapeação imposta pelo medo de ser feliz. A excessiva preocupação com o que os outros pensam ou dizem, infelizmente transforma seres que poderiam ser imensamente felizes, em mal humorados, insanos e hipócritas. Excessivamente preocupados com dinheiro, poder e aparência sofrem de complexo de inferioridade e rir, para eles, é sintoma de fraqueza. Tolos. Quando será que deixaram de ser criança? Ao visitar o circo me deparei com crianças de todas as idades, dos dois aos oitenta anos. O Circo Fantástico, formado por famílias bem estruturadas, amorosas e tementes a Deus (como vim a conhecer), mostrou aos que lotaram seu espaço, em belíssimas, simples e deslumbrantes apresentações, que a criança que existe em cada pessoa, apesar de escondida no peito, ainda está lá, viva e palpitante.

Por trás do palco, também vi organização, disciplina, crianças freqüentando as escolas da cidade, mães e pais diligentes, respeito, humanidade, todos comemorando o aniversário de um avô nos seus sessenta anos (o mágico do circo). Também constatei no curto tempo em que as luzes do circo iluminaram nossas vidas, que a alegria que por lá palpita tem base sólida. Têm raízes na cooperação e no trabalho, intenso, diário, desde a montagem de todo o sistema, até a saída em meio às intempéries deste final de outono e início de inverno. A coragem e determinação é o sustento que impele as famílias do circo a continuarem a missão, o sacerdócio de fazer rir e acordar todas as crianças que teimam em dormir dentro de cada um de nós. E, enquanto escrevo estas linhas, o circo se vai, em busca de novas crianças que esperam por eles. Mas também levam o nosso respeito, admiração e carinho, como retribuição por nos fazer lembrar de que, apesar de tudo, ainda vale a pena sorrir, viver e ser feliz. Adeus Circo Fantástico. Adeus amigos. Boa sorte. Voltem sempre.

Pensamento da semana: Um grande artista de circo é um grande homem numa grande criança. Victor Hugo