quarta-feira, 26 de junho de 2013

MOVIMENTOS: PROJETOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS?



                     Cesar Techio - Economista – Advogado
        
            
            Os movimentos de rua espalhados por todo o Brasil apresentam demandas particulares e isoladas contra a carestia de vida; a inflação que inviabiliza a sobrevivência; a precariedade do acesso a bens e serviços; a corrupção sempre presente no sistema político brasileiro; a concentração de poder econômico e financeiro versus a pobreza das massas; a proverbial capacidade de mentir dos políticos; o sistema capitalista não distributivo de renda e propriedade, entre outros. A demanda pela diminuição do valor de passagens de ônibus, transformada em luta pelo transporte público gratuito, de qualidade e contra o gigantesco lucro das empresas que prestam este serviço na forma de concessão, foi apenas o início de um movimento que estabeleceu um novo espaço para múltiplas e diferentes demandas. O movimento cresceu através de demandas heterogêneas, diferentes, que se identificam uma com as outras formando uma onda crescente de descontentamento: o sem teto se identifica com o agricultor explorado, este com o professor aviltado no salário e assim por diante.  

            A partir deste momento, em que se instala uma crise identificada com uma corrente contínua de várias demandas por cidadania, o discurso deixa de pertencer a um segmento e passa a ser expressão de todas as situações vivenciadas por todos os cidadãos. O movimento também possui caráter independente, de natureza civil, com sua própria forma, com seu próprio sistema de referências, apartado dos políticos e dos partidos políticos. Aparentemente surgiu sem lideranças específicas. Alguns jovens apareceram saindo do encontro com a Presidente da República na condição de responsáveis pelos movimentos nas grandes capitais. Mesmo diante da proposta de reforma política, ao sair do encontro reafirmaram uma completa emancipação em relação às leis e estruturas do sistema de direito estabelecido, o que, a primeira vista faz parecer que o movimento nacional se alimenta por critérios cegos ou por ausência de critério.

            O certo é que as massas tem personalidade distinta da de seus componentes e a emancipação do movimento de demandas proporcionado por elas não tem projetos concretos de construção de políticas públicas. José Renato Soethe, em artigo publicado na rede social Facebook constata que as ideias e proposições dos protestos de rua precisam ser organizadas: “Mas, como organizá-las? Para isto, talvez, a pergunta metodológica é a de como melhor organizar estas manifestações. A possibilidade de uma melhor organização das ideias, proposições e demandas depende de uma melhor organização das manifestações. Como transformar estas contribuições em canais de construção de políticas públicas? Alguém tem alguma contribuição acerca disto? Eu tenho...”. Então, resta aguardar a urgente contribuição do professor da Unisinos, uma vez que a emancipação do movimento sem sujeito, nome ou projeto parece ser "responsabilidade" do outro, da massa abstrata que caminha pelas ruas empunhando palavras de ordem no âmbito da subjetividade e, com efeitos colaterais indesejados por ela mesma, de quebra-quebra, desordem e desorganização.


            Pensamento da semana: Parabéns a Everson Durgante e a juventude “VemPraRua” pelo movimento pacífico e propositivo de Concórdia.