terça-feira, 28 de setembro de 2010

"BRASIL 2011: FIM DA LINHA"

Cesar Techio - Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com
O título em epígrafe completa a trilogia “Brasil 2011”, com “salve-se quem puder” e “se correr o bicho pega”. No epicentro destas reflexões, exemplarmente a tentativa de Lula, de seus assessores do Gabinete da Presidência da República e da candidata à sucessão presidencial, de criar uma mini-constituição, tendo como base uma grave inversão dos valores humanos. O instrumental de análise utiliza, singela e basicamente, os princípios universais e constitucionais do direito natural, da dignidade da pessoa humana e da liberdade democrática. Assim, se Lula lesse essas crônicas, conforme afirmou teria que “dar mão à palmatória”, (“Quando falam mal de mim e eu estou errado, dou a mão à palmatória" disse essa semana, em campanha eleitoral). Teria mesmo que concordar com todas as críticas da imprensa com relação a sua postura e política relativa aos direitos humanos e a sua aproximação a governos ditatoriais, sanguinários e antidemocráticos. Em “Delírios e Sucessos de Lula”, reconheci o êxito das políticas de renda mínima e segurança alimentar do seu governo, que permitiu que 23 milhões de pessoas saíssem da linha de pobreza extrema e que fossem criados 11 milhões de empregos.

O problema é que a solução magna do processo produtivo e do problema social, pelo que se conclui das idéias originais contidas no seu Plano Nacional de Direitos Humanos, se resume na destruição da propriedade privada, no controle do judiciário, na mordaça às religiões e a imprensa; motivo da analogia à ideologia de esquerda “a la soviética” (que desmoronou junto com o murro de Berlim). Todavia, é bem verdade que o outro lado da moeda mostra que Lula, sob o apoio do sistema bancário e do liberalismo econômico, construiu um governo no qual os trabalhadores ficaram inteiramente subordinados ao capital, à avidez do lucro, à idolatria da riqueza e, principalmente, à concentração de renda, a maior do planeta. Sob essa égide, realmente é ingenuidade culpar a esquerda e as Igrejas traídas que o apoiou nas duas últimas eleições a presidente da República. As perguntas que ribombam na cabeça destes arrependidos e de todo o povo brasileiro são as seguintes: 1º - De que adianta aos trabalhadores e as suas famílias saírem da linha da miséria se continuam escravos do sistema, empregados com salários de fome e sem perspectiva de saírem desta escravidão? 2º - A riqueza capitalista estará segura com a morte da democracia? 3º - De que adianta um prato de comida sem liberdade?

Ora, tanto o capitalismo, que objetiva “o primado do indivíduo sobre a sociedade”, como o socialismo, que objetiva “o primado da sociedade sobre o indivíduo”, identificam-se pela exploração da classe trabalhadora porque consideram como fim último da economia a “máxima produtividade de bens e serviços”, sobrepondo-o aos direitos fundamentais da pessoa humana. Assim, é cabível o esclarecimento de que, tanto o equivocado apoio ao projeto da esquerda (capitalismo de Estado, tipo Venezuelano e Cubano, que destrói todas as liberdades e ameaça direitos fundamentais), como o apoio à direita (exploradora e concentradora de renda), tem raiz numa equivocada visão de autonomia econômica. As duas ideologias possuem o desenvolvimento econômico como único objetivo, subordinando todos os valores do direito natural e do espírito aos elementos da matéria. Sob o pálio destes dois sistemas, a liberdade da classe trabalhadora não passa de uma utopia discursiva. Ambos os regimes jogam o homem, ou no farisaísmo do orgulho coletivo ou do lucro individual burguês. Decorrem desta conclusão, os títulos desta trilogia e a aconselhável opção pela doutrina social da igreja.

Pensamento da semana: “A democratização das nossas sociedades se constrói a partir da democratização das informações, do conhecimento, das mídias, da formulação e debate dos caminhos e dos processos de mudança.” Betinho.