Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com.br
A
sociedade secular moderna, base do Estado laico, ao mesmo tempo em que defende
a liberdade de consciência e de cultos, a boa convivência entre os credos e
religiões, combatendo o preconceito e a discriminação religiosa, atenta com
acuidade para a separação entre Estado e Igreja. Esta visão de origem
renascentista deu ao homem uma imagem sobre si mesmo e abriu-lhe a
possibilidade do aprimoramento de seus próprios ideais. Esta concepção de
comportamento e de consciência social contribuiu de forma expressiva para o
desenvolvimento da arte, filosofia, ciências e de uma consciência livre.
Todavia, a liberdade ilimitada, sem freios, carrega o perigo do
descomprometimento com uma consciência crítica e um velado desprezo pelo
esforço de pensar. Este “deixai fazer, deixai passar” em épocas eleitorais,
gera consequências desastrosas, entre elas a de tornar a população joguete nas
mãos de políticos desonestos, mas bem articulados na mídia e nas estruturas
milionárias das campanhas eleitorais.
A vitória da politicalha ordinária, alheada dos
padrões positivados pela legislação eleitoral, se faz por conta da escassez de
raciocínio e da pouca informação de eleitores analfabetos funcionais, “livres”
para serem manipulados. Este quadro tenebroso floresce em solo adubado
principalmente pela alienação do povo cristão e pelo pouco caso dos que pregam
nos púlpitos das igrejas, acomodados e pouco interessados em identificar
candidatos comprometidos com valores morais cristãos (solidariedade, caridade,
ética, justiça) e com competência administrativa e legisferante. Não me parece
que paz, prosperidade e dignidade humana sejam valores alcançáveis apenas pelo
discurso moralizante, oração ou evangelização, mas também com a incorporação de
práticas de cidadania concretas, entre as quais, com a devida vênia, a
militância política.
Em que pese a prioridade da missão das igrejas
no mundo ser a de proclamar o “evangelho do Reino” e a relação com o mundo vir
depois, isto não significa que devam se omitir ou sentir como secundária ou
opcional a relação com o mundo, mesmo porque, a proclamação do evangelho não
pode ficar restrita ao aspecto verbal, mas deve incluir ações concretas
que expressem o amor de Deus pelas pessoas, conforme Tiago 2.14-17 e João
3.16-17: 1 - “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as
obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e
tiverem falta de mantimento quotidiano e algum de vós lhes disser: Ide em paz,
mantenham-se aquecidos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias
para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras,
é morta em si mesma”. 2 -"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o
seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida
eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas
para que este fosse salvo por meio dele”.
Por estes motivos, não creio ser
aceitável que cristãos de carteirinha e líderes religiosos se excluam da vida
política, como se sua sagrada missão evangelizadora nos púlpitos possa, por si
só, concretizar o Reino ainda nesta terra. É preciso participar da política e
identificar bons candidatos com os sinais do Reino de Deus: solidariedade com os
sofredores (Mt 25.34); Humildade (Mt 5.3); fazer a vontade de Deus (Mt 6.10 -
7.21; 21.31,43); justiça, paz e alegria (Rm 14.17); fidelidade (Lc
19.11ss); dependência e confiança em Deus (Mt 19.23s - Mc 10.23-25 - Lc
6.20); novo nascimento (Jo 3.3,5); amor a Deus e ao próximo (Mc 12.34); justiça
(Mt 5.10 - 6.33); obediência (Mt 5.19s) e vigilância (Mt 25.1).