quinta-feira, 4 de setembro de 2008

UNIVERSIDADE DO ATRASO

“UNIVERSIDADE DO ATRASO”
Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@yahoo.com

O problema da reforma universitária ocupa espaço, há tempo, em assembléias, encontros de reitores, professores e alunos. Contudo, parece que não se tem discutido a necessidade de se criar novos modelos ou de se substituir as universidades problemáticas por tipos mais eficientes. Estatizar ou federalizar poderia interiorizar os problemas das universidades federais, elevar o custo e o que é pior, introjetar políticas desafinadas dos interesses e anseios microrregionais.
A GAZETA MERCANTIL há mais de 16 anos, em 12.06.92, publicou em sua página 04, um artigo de seu então diretor, OTTONI FERNANDES JR., alertando para o fato de que os meninos de rua estão em todas as cidades brasileiras e representavam uma gigantesca bomba social que explodiria mais cedo ou mais tarde. Desarmar essa bomba foi e é missão e responsabilidade primordial da União, Estados e Municípios, através do ensino fundamental obrigatório e gratuito.
O mesmo raciocínio não serve para o estudo universitário. Cursar uma faculdade é um enorme privilégio neste país. A este se agrega outro, o de estudar gratuitamente. Este é um equivocado paternalismo que contribui para que estudantes, que já não são mais crianças, mas homens e mulheres no pleno exercício de seus direitos civis e políticos, formem uma geração alienada e dependente. Mesmo os alunos comprovadamente carentes, matriculados em cursos que exijam dedicação exclusiva, assim que integrados no mercado de trabalho, devem devolver os empréstimos que o estado lhes concedeu para manter outras vagas para outros estudantes.
A mesma assertiva serve de paradigma para a própria universidade, a qual deve buscar autonomia financeira por si mesma, como reflexo de uma sociedade que deve caminhar com os próprios pés. Condicionada e alimentada pelas idéias do meio em que vive a universidade brasileira, a exemplo da norte americana, deve ser motriz a impulsionar o comércio, a indústria e o progresso econômico. Seus cursos e pesquisas hão de ser planejados considerando as reais necessidades das comunidades onde vivem. Esta universidade, real, deve possuir estruturas voltadas a documentação, pesquisa e assessoria.
Em conjunto com as Associações Comerciais e Industriais, deve manter um “Banco de Dados” com informações primárias e secundárias, que permitam tomadas de decisões rápidas e eficientes em escala global por parte do empresariado local e do Poder Público. Informações mensais e anuais, obtidas através de um “Diagnóstico/Prognóstico” permanente, além de permitir uma radiografia de tendências sócio econômicas e a correção dos rumos decisórios, deve servir como base para o desenvolvimento de pesquisas pelos professores e alunos.
Se a universidade brasileira quiser, realmente, contribuir para o desenvolvimento do país e das microrregiões, além de buscar uma pesquisa voltada para os efetivos interesses das comunidades na qual está inserida, deve buscar sua sobrevivência através de prestação de serviços úteis, assessoria e consultoria e avançar, sem paternalismo, para uma adequação estrutural, buscando o equilíbrio entre suas receitas e despesas. E mais, deve ser administrada por quem pense de forma criativa, pragmática e objetiva. No caso da UNC, sob esta ótica, decorrido tanto tempo da publicação deste mesmo artigo, neste mesmo jornal, em 26/06/1992 sob o título “Uma Universidade Real”, nada mudou: a universidade local continua distanciada das reais necessidades do mercado. Tanto é verdade, que muitas outras instituições de ensino superior, particulares, tomaram-lhe o espaço premiando-lhe 16 anos de ineficiência, cegueira e atraso.