quarta-feira, 21 de agosto de 2013

VERDADE PELA METADE




       Neide de Azevedo Lima, uma das maiores escritoras e cidadãs deste país, participante da Comissão Verdade do Paraná, faz uso do contraditório ao artigo de Domingos Pellegrini publicado na Gazeta do Povo, do dia 17\08\13.




 Neide de Azevedo Lima
21\08\13

Considero você, um dos grandes escritores do Brasil. Poeta de grande sensibilidade me emocionou quando li Presente de Natal. Contudo, nem por isso, eu deixaria passar em branco, algumas observações sobre seu artigo. A Começar pelo Título.

Esse titulo:  VERDADE PELA METADE, foi muito apropriado, porque realmente está faltando muita gente no banco dos réus. A METADE DA VERDADE que está faltando são os torturadores, os assassinos, matadores profissionais que sentiram prazer em torturar, desaparecer com os corpos, jogá-los em alto mar, ou transportar os mortos ensacados para jogar em fornos de olaria para que não deixassem RASTROS.

Mas todos sabem, que se temos liberdade para escrever o que quiser, temos a liberdade para estabelecer o contraditório, e tecer algumas considerações interessantes sobre o título. Hoje podemos expressar nossas opiniões.  Essa liberdade é sagrada, para todas as pessoas que militam na imprensa. Já houve um tempo em que as receitas culinárias eram usadas como TAPA BOCA! Até uma canção linda apareceu com título sugestivo criado pelo poeta Maior Chico Buarque: CALICE!

Para que nós tivéssemos de volta essa liberdade, muitas vidas foram ceifadas. Muito sangue derramado. Muito choro e ranger de dentes, ocasionados por choques elétricos, paus de arara, e outros nomes de instrumentos usados na famigerada tortura explicita, foram usadas contra homens e mulheres. A maioria de jovens, ingênuos e idealistas, que se julgavam, contar só com o ardor da mocidade, e que com isso, poderiam mudar os rumos do País e garantir a volta da nossa liberdade. Queriam trazer de volta o direito de ir e vir, de morar no Brasil. Essa terra gigante pela própria natureza, sem que o ABAPORU, se levantasse para engolir os mais fracos.

Foi desfechado nos idos de 1964, o maior poderio bélico da Nação, por grupos que durante anos vinham cobiçando o Poder pelo Poder. Apoiado por Nações estrangeiras assumiram o PODER, e implantaram o regime arbitrário e violento que sonhavam. A nossa juventude idealista se revoltou, e foi massacrada com crueldade nunca sentida no Brasil. Foi um poderio bélico fantástico contra jovens desarmados, sonhadores, ingênuos, idealistas, que acreditavam poder acabar com o MONSTRO ABAPORU de pés e mãos grandes, cabeça pequena e estômago sedento de sangue e carne humana. Foram vítimas de monstros que se alimentavam da maldade e para o que é pior, passaram a sentir prazer em ser maldosos.

Diz o grande colunista. “A COMISSÃO VERDADE estava no Norte do PARANÁ, “menos para investigar do que a revisitar os crimes da Ditadura, como sempre esquecendo os “partidinhos de esquerda”, que pregavam a luta armada, do mesmo modo que os militares que tomaram o Poder.” Essa critica foi feita. Contudo, quem coordenou as AUDIÊNCIAS Públicas no Norte do Paraná fui eu. Designada pelo nosso Coordenador Dr. Pedro Bodê. Dai ter tomado a decisão de explicar melhor os objetivos da Comissão Estadual da Verdade.

Nós não temos o poder investigativo. Investigar crimes de tortura e morte compete á Policia. Nosso objetivo é dar oportunidade às vítimas que contem os horrores, que sofreram em prisões infectas e contagiosas, nos porões dos quartéis. Nosso objetivo maior é ouvir as histórias contadas, por quem viveu a história. Nosso objetivo principal é o Resgate Histórico da Verdade de uma época do Brasil. Esse resgate está sendo feito, para que não haja histórias fantasiosas e mentirosas, para acobertar o verdadeiro papel desenvolvido pela Ditadura Militar. É preciso que esses fatos venham à luz, para que eles nunca mais se repitam. E se hoje existe o direito de expressar livremente a opinião, esse Direito existe, porque, como diz a critica, “os porras loucas” derramaram o seu sangue. E esse sangue derramado, e o grito de protesto de uma nação inteira, garantiram o nosso direito de Livre Expressão do Pensamento. Uma coisa é inegável, esse direito nos foi assegurado, pelo sangue derramado dos “Porras Loucas”, que  ajudaram o povo a conquistar á Anistia por inteiro. Estamos empatados. O Critico literário, quer uma Comissão da Verdade, por inteiro. Não queremos ANISTIA por inteiro.

Empatamos. Os críticos querem uma Comissão da Verdade por inteiro, e a Comissão Verdade do Estado do Paraná não quer Anistia Recíproca.  É preciso que os fatos sejam apurados. É preciso que a outra metade seja punida. É preciso que aqueles que mataram, torturaram, enforcaram, queimaram corpos em fornos de Olaria, também sentem no Banco dos Réus para serem julgados.

O prezado colunista tem razão.  A NAVALHA ATÉ GORA CORTOU DE UM LADO SÓ. Os torturadores, os matadores, assassinos, precisam sentar-se no banco dos réus. A começar pelo Tenente Coronel da época Maurício Lopes Lima, que foi absolvido e declarou à FOLHA DE SÃO PAULO QUE METRALHOU Antônio Três Reis de Oliveira e a jovenzinha Aracelli em Tatuapé SP.

Como se vê senhor Colunista, NÃO SÓ EMPATAMOS COMO EU GRITO “TRUCO”. E usando do meu direito de livre expressão do pensamento de todos nós brasileiros, conquistado e garantido pelo sangue derramado desses  “porra loucas”, heróis ingênuos, que acreditaram poder acabar com a ditadura, infiltrados lá nos confins do Araguaia, e no sopé da serra de Caparaó, nas proximidades do Pico da Bandeira, na divisa do Espirito Santo, sem arma, sem munição e sem comida.  Foram ingênuos demais.
Digo isso sem blefar. Você blefou. Blefar é tripudiar.

 Fiz uso do meu direito ao contraditório. O colunista tem razão. Está faltando muita gente no banco dos réus. Julgamento para todos os torturadores e todos os assassinos, que recebiam em dinheiro por cada uma das pessoas mortas. Anistia recíproca não.

Essa é a metade que está faltando.

Como se vê, brasileiros e brasileiras, não só empatamos no título, como eu grito “TRUCO” e faço um desafio.


Coloque as cartas sobre a mesa, ou continue fugindo para não mostrar a OUTRA METADE DA VERDADE PARA A NAÇÃO BRASILEIRA. 


RELATOS INESQUECÍVEIS


Cesar Techio
Economista – Advogado

              A dedicatória de “Relatos Inesquecíveis” sintetiza 285 páginas de um soberbo relato da vida, pelos olhos, ouvidos e pelo coração do autor: “Aqui, algumas memórias, contos, histórias que ouvi ou vivenciei, porquanto que, escutadas, estas foram narradas, e as demais eu presenciei”. Principiando pelas linhas das primeiras páginas de uma obra que emoldurará o município de Concórdia na literatura brasileira como terra pródiga e abençoada pela inteligência ímpar de Achiles Bonassi, deparei-me, qual início de uma missa, com o pedido de perdão ao honrado senhor Naldo Penna. Uma tarrafa de pesca emprestada, a qual pensava nunca tê-la recuperado, passado anos da trágica morte de Naldo, encontrou-a na trave superior da propriedade rural demolida, uma pequena rede de pesca cuidadosamente envolvida nas espinhas do esqueleto inteiro de um peixe de bom tamanho. Morto inocentemente aos trinta e cinco anos quando tentava apaziguar uma briga, sendo Naldo Penna pobre e de família mísera e humilde, aperta a alma o autor ao lembrar que “mesmo num exercício de profundo raciocínio, é difícil traçar a magnitude da deprimente comoção na tarefa em que se deu a família do morto, com crianças de 2 a 12 anos soluçando e ajudando a mãe desfigurada (e grávida outra vez) a abrir a cova para o pai e marido ao lado, rígido e frio, com os olhos esbugalhados transfixando o infinito, num espaço pedregoso e afastado das outras tumbas.”

               Nossa sorte foi o autor colocar a pena no papel e trazer, através do seu olhar, os sentimentos, sofrimentos, alegrias e a vida de personagens reais, alguns anônimos outros conhecidos, mas que sobreviveram ao tempo, aquecidos em sua memória. Seu mérito foi o de tê-los aviventado e, por meio deles delineado princípios de vida aplicáveis para os mais jovens, para aquém das histórias que contou.

              Grandes tesouros da literatura, assim como a tarrafa de pescar e o peixe, “de bom tamanho” esquecidos sob a porta de uma propriedade rural, agora incrustado no primeiro capítulo de “Relatos Inesquecíveis”, somente vem à lume postumamente aos seus autores. No presente caso, os professores de literatura e de língua portuguesa de nossas escolas e universidades, tem a oportunidade de convidar às salas de aula um autor que se situa no centro de relatos de um modo de ser e de viver dos imigrantes europeus no início do século passado e da colonização do oeste catarinense. Autor que empolga pela maestria com que viveu e que sabe contar de forma surpreendente o que viu e viveu.

Pensamento da semana: "As quatro coisas que não voltam para trás: A pedra atirada, a palavra dita, a ocasião perdida e o tempo passado." (Autor desconhecido)