Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com.br
É necessária uma
visão multifacetada e multidisciplinar dos aspectos que envolvem acidentes de
veículos, seus efeitos e sequelas e acuidade para coletar dados que envolvem o
momento do impacto, como por exemplo: aceleração, velocidade, frenagem e força
inercial, temperatura, aderência dos pneus sobre o solo, peso, condições dos
pneus, umidade, condições do tempo, horário e iluminação, condições
topográficas e de pista, tempo de reação entre a visão do obstáculo e a decisão
de parar ou desviar, condições de trafegabilidade, ângulo de impacto, força cinética
e efeitos da colisão sobre a estrutura dos veículos e sobre o corpo humano,
entre outros aspectos relevantes. Além da legislação, o operador do direito
deve possuir conhecimento básico de diversas ciências, necessárias para embasar
os pedidos de indenização, como por exemplo: engenharia de trânsito e de
construção das estradas; astronomia e geografia (posição do sol no
solstício de inverno em relação ao solo, pontos cardeais do local do acidente e
ofuscamento da visão do motorista); matemática; física; medicina entre outras.
Mas, foi estudando a
fisiopatologia dos traumatismos no corpo humano diante de um acidente fatal em
que a vítima foi uma adolescente florescendo para a vida, que percebi o quanto
o corpo humano é frágil. Tomei por base a velocidade regulamentar de 40 km/h
para o local. No exato momento do impacto, com a desaceleração repentina, o
fígado que tem em média um peso de 1,700kg passa a 19 kg. O coração e o rim com
0,300 kg passam a 3,2 kg. O cérebro com seus 1,500 kg passa para 16,8 kg. O
baço sai de 0,150 kg para 16,8 kg. Podemos afirmar que a 40 km/h o corpo humano
pesa 12 vezes mais. Internamente, as deformações e rompimentos de veias e
órgãos decorrentes de uma simples colisão a baixa velocidade apresenta um
quadro gravíssimo com lesões provocadas pela energia cinética absorvida pelo
corpo. É preciso considerar que a desaceleração abrupta na hora do impacto vai
de 40 km/h para 0 km/h em milésimos de segundos. Com isso os órgãos internos
simplesmente se estraçalham, muito embora este quadro não seja perceptível
externamente.
Os
efeitos das colisões quando não matam, causam sequelas terríveis, não sendo
raros os casos de paraplegia, tetraplegia, aleijões que dificultam deambular,
perda de visão, perda de faculdades mentais ou deformidades estéticas. A dor
dos familiares que perdem um ente querido por conta da imprudência de
motoristas desatentos, não tem fim. A atroz ausência de quem amamos
representa uma catástrofe emocional e psicológica praticamente irreparável e
profundamente perturbadora. A violência dos acidentes de trânsito arrebenta o
sistema de saúde pública, quebra a economia do país e destroça as famílias
desorganizando os afetos, os projetos dos pais de verem os filhos crescerem, o
amparo econômico dos genitores aos filhos menores e assim por diante. Nenhuma
indenização, por maior que seja o valor arbitrado pelo juiz, supre a presença
querida dos filhos, pais, mães, irmãos, namorados, amigos e colegas mortos
dolorosa e tragicamente no trânsito.
Pensamento da semana: Os que amam profundamente,
jamais envelhecem; podem morrer de velhice, mas morrem jovens. Martinho
Lutero.