quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

DOR E MORTE NO TRÂNSITO


Cesar Techio
Economista – Advogado

         É necessária uma visão multifacetada e multidisciplinar dos aspectos que envolvem acidentes de veículos, seus efeitos e sequelas e acuidade para coletar dados que envolvem o momento do impacto, como por exemplo: aceleração, velocidade, frenagem e força inercial, temperatura, aderência dos pneus sobre o solo, peso, condições dos pneus, umidade, condições do tempo, horário e iluminação, condições topográficas e de pista, tempo de reação entre a visão do obstáculo e a decisão de parar ou desviar, condições de trafegabilidade, ângulo de impacto, força cinética e efeitos da colisão sobre a estrutura dos veículos e sobre o corpo humano, entre outros aspectos relevantes. Além da legislação, o operador do direito deve possuir conhecimento básico de diversas ciências, necessárias para embasar os pedidos de indenização, como por exemplo: engenharia de trânsito e de construção das estradas; astronomia e geografia (posição do sol no solstício de inverno em relação ao solo, pontos cardeais do local do acidente e ofuscamento da visão do motorista); matemática; física; medicina entre outras.

         Mas, foi estudando a fisiopatologia dos traumatismos no corpo humano diante de um acidente fatal em que a vítima foi uma adolescente florescendo para a vida, que percebi o quanto o corpo humano é frágil. Tomei por base a velocidade regulamentar de 40 km/h para o local. No exato momento do impacto, com a desaceleração repentina, o fígado que tem em média um peso de 1,700kg passa a 19 kg. O coração e o rim com 0,300 kg passam a 3,2 kg. O cérebro com seus 1,500 kg passa para 16,8 kg. O baço sai de 0,150 kg para 16,8 kg. Podemos afirmar que a 40 km/h o corpo humano pesa 12 vezes mais. Internamente, as deformações e rompimentos de veias e órgãos decorrentes de uma simples colisão a baixa velocidade apresenta um quadro gravíssimo com lesões provocadas pela energia cinética absorvida pelo corpo. É preciso considerar que a desaceleração abrupta na hora do impacto vai de 40 km/h para 0 km/h em milésimos de segundos. Com isso os órgãos internos simplesmente se estraçalham, muito embora este quadro não seja perceptível externamente.

            Os efeitos das colisões quando não matam, causam sequelas terríveis, não sendo raros os casos de paraplegia, tetraplegia, aleijões que dificultam deambular, perda de visão, perda de faculdades mentais ou deformidades estéticas. A dor dos familiares que perdem um ente querido por conta da imprudência de motoristas desatentos, não tem fim.  A atroz ausência de quem amamos representa uma catástrofe emocional e psicológica praticamente irreparável e profundamente perturbadora. A violência dos acidentes de trânsito arrebenta o sistema de saúde pública, quebra a economia do país e destroça as famílias desorganizando os afetos, os projetos dos pais de verem os filhos crescerem, o amparo econômico dos genitores aos filhos menores e assim por diante. Nenhuma indenização, por maior que seja o valor arbitrado pelo juiz, supre a presença querida dos filhos, pais, mães, irmãos, namorados, amigos e colegas mortos dolorosa e tragicamente no trânsito.


Pensamento da semana:  Os que amam profundamente, jamais envelhecem; podem morrer de velhice, mas morrem jovens. Martinho Lutero.