Cesar Techio
Economista – Advogado
Normalmente quando
as eleições mudam um governo e derrubam um velho modo político de agir,
sobrevém um tempo para discutir a realização do novo, debater opções,
aperfeiçoar novas parcerias e cumprir compromissos assumidos. A base para a
manutenção de uma estrutura de poder democrática e vitoriosa deve ter assento
numa necessidade insopitável: a de cumprir as promessas, acordos e obrigações
de campanha. A prova da seriedade e lealdade de um político só pode ser
fornecida pragmaticamente, dentro do entendimento de que compromissos políticos
não se discutem, rigorosamente se cumprem. Trata-se de um código operacional ou
ético que garante a governabilidade. Estamos, então, dentro da esfera do
constitucionalismo liberal-democrático no qual é buscado um consenso que torna
os interesses ideológicos conflitantes toleráveis por todos. Estratégias às
eleições com abertura do leque pluripartidarista, debate e concessões, tornam
possível evitar conflitos, ajudam a garantir a vitória e a governabilidade.
Exemplo promissor desta modalidade de acerto foi a criação de duas chapas de
situação na última eleição municipal em Concórdia, uma delas congregando o
Partido Social Cristão, Partido Comunista do Brasil, Partido Progressista e
Partido da Republica. O desempenho desta chapa quanto ao número de
sufrágios obtidos, proporcionalmente à coligação, ou seja, somando os votos das
duas chapas, assumiu a seguinte configuração: PP, com 2.855 votos, segundo mais
votado; PSC, com 1.293 votos, quarto mais votado; PCdoB, com 901 votos, sexto
mais votado e PR com 231 votos, oitavo mais votado, perfazendo um total de
5.280 votos, ou seja, 25,53% dos votos validos da coligação. Este acerto
garantiu a vitória do prefeito João Girardi que ganhou as eleições com uma
diferença de apenas 4.733 votos válidos. Tratou-se de um efeito colateral
indesejável, mas compreensível: “vão-se os anéis, ficam os dedos”. Interessante
notar que, em que pese com menos votos na legenda do que o PP (2.855 votos) e
PSC (1.293 votos), o PCdoB, com apenas 901 votos, elegeu um vereador. Por
apenas 99 votos o PSC não elegeu Marcos Dartora.
E, neste ponto, chegamos a pedra angular que norteou o espírito de união
interpartidária: o diálogo intenso; a valorização das siglas que garantiu que
os suplentes assumissem um período na Câmara e o compromisso com uma
administração voltada aos interesses do povo mais sofrido. O ensaio político
que vivenciamos demonstrou que é possível conciliar os projetos de cada partido
com os princípios maiores de se fazer o bem. E tudo isso, graças ao
constitucionalismo liberal-democrático que sustenta uma perspectiva de bem
estar e de tolerância entre ideologias que torna funcional as estratégias de poder.
Esta teoria vivenciada na prática por partidos como o PSC, PT, PCdoB, PP, PDT,
PR, PPS e PRB não me parece, “prima facie”, oculte uma realidade social que
ultraje “homens moralmente sensíveis”, no dizer de Marx, porque segundo ele, o
Estado liberal seria apenas um grupo especial, representando e servindo apenas
a um interesse especial, verdadeiro instrumento da classe dominante e,
portanto, não representativo dos vários interesses conflitantes da sociedade. É
que a nossa prática demonstra que, sob a proteção dos princípios
democráticos, não são irreconciliáveis os vários interesses da sociedade,
conquanto que os que levantem as bandeiras da política sejam pessoas íntegras,
honestas, comprometidas com a democracia e com o cumprimento da palavra.
Pensamento da semana: O homem que acha que a
sua vida não tem sentido não é apenas infeliz, mas também muito mal preparado
para a vida. Albert Einstein.