terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"TERREMOTO NO HAITI OU NA VENEZUELA?"

Cesar Techio - Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com

O terremoto no Haiti, segundo Hugo Chavez, é um resultado claro de um teste experimental dos EUA que “devastou o país”, sendo que “o resultado final das experiências faz parte do plano de destruição norte-americano para o Irã, que consiste numa série de terremotos planejados para destruir o atual regime islâmico”. Não bastasse, Chávez ataca a presença humanitária dos americanos no Haiti, afirmando, entre outras coisas que: "o império norte-americano está tomando o Haiti sobre os cadáveres e as lágrimas de seu povo". "Tomaram o Haiti descaradamente sem consultar a ONU, a OEA. Estão se aproveitando da tragédia desse povo". Não bastasse, o Zé Dirceu (o nosso) disse o seguinte no seu blog: “Os EUA se aproveitaram do terremoto para ocupar militarmente o país com 10 mil soldados, inclusive estabelecer o controle sobre o aeroporto da Capital, Porto Príncipe.” (http://www.zedirceu.com.br).

Piadinhas de catecúmenos de lá ou de cá, a realidade é que começamos a semana com a notícia de que o ditador venezuelano mandou fechar cinco canais de televisão a cabo: Ritmo Son, Momentum, América TV, American Network e TV Chile, incluindo a Rádio Caracas Televisão, que possui a maior audiência do país, porque se recusaram a transmitir seu discurso em cadeia nacional. O que dizer de estapafúrdios, pueris e despropositados fatos? No caso dos comentários do Chávez (e também do Evo e do Zé), o presidente René Prevál respondeu afirmando que "os americanos estão aqui a nosso pedido e vieram para nos ajudar em nossas necessidades humanitárias e de segurança" sendo enfático em afirmar que “o Haiti não está sob tutela de ninguém". No caso do golpe contra a imprensa na Venezuela, partidos de oposição declararam que: "condenam, sem reservas, o fechamento da RCTV Internacional, o que consideram uma vingança contra a emissora de sinal aberto que foi injustamente estatizada em 2007 e mais um ataque à liberdade da Imprensa”. Por conta disso, o vice-presidente venezuelano e também ministro da Defesa, Ramón Carrizález, renunciou ao cargo (o que demonstra que pelo menos alguém tem juízo naquele país).

Excluindo a piada ridícula de que os EUA provocaram um sismo que abalou o Haiti, mesmo porque inexiste no planeta qualquer arma que libere tamanha energia, o que mais preocupa são as ações antidemocráticas de vários países latinos americanos. Não se pode negar que as ações de Chávez contra a liberdade de imprensa, elas sim são o epicentro de terremotos contra a democracia, com ondas sísmicas que repercutem e atingem vários países da América Latina. As ameaças autoritárias à imprensa atingem a Bolívia, Equador, Nicarágua, Paraguai, repercutem na Argentina em intimidações ao Jornal Clarín e ressoam no Brasil, como a tentativa frustrada de Lula em criar um Conselho de Jornalismo, através do qual a imprensa brasileira poderia ser controlada. Os efeitos da censura e os ataques a livre e plena circulação de opiniões, informações, notícias e idéias, são funestos, na medida em que atingem diretamente a vida dos cidadãos e a sua liberdade de viver num estado democrático de direito. Mas, pelos tremores vindos da Venezuela, parece que a esquerda latino americana tem saudades dos regimes truculentos da direita que varreu o continente há três décadas e dos quais, ela (esquerda), foi vítima.

Pensamento da semana: “Foi bom para nós aqui do consulado porque nos dará mais visibilidade. Acho que, de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá, tá f...". Comentário do cônsul-geral do Haiti em São Paulo, George Antoine, segundos antes de iniciar a gravação de uma entrevista para o SBT , sem saber que estava sendo gravado. (vejam no You Tube).