terça-feira, 11 de agosto de 2015

QUEM MATOU ANA SBARAINI?


Cesar Techio
Economista – Advogado

Três hipóteses são plausíveis para explicar o assassinato de Ana Sbaraini: crime passional, autodefesa ou homofobia. A primeira hipótese leva em conta o domínio da paixão e, neste caso, a necessária relação afetiva entre as partes, aliado a irrefreável possessividade e dominação. Controle e necessidade de vigiar os passos da pessoa que é objeto da paixão são características predominantes nos homicidas passionais e, de regra, remete-os para o centro do quadro criminoso. Segundo Luiza Nagib Eluf (http://www.luizaeluf.com.br/), os homicidas passionais trazem dentro de si uma vontade insana de autoafirmação. O assassino é cruel. Ele quer, acima de tudo, mostrar o poder do relacionamento e causa sofrimento a outrem. Sua história de amor é egocêntrica. Na sua vida sentimental, existem apenas ele e sua superioridade de subjugar. Ele transforma sua vida em um teatro e cria a separação, rejeição, subordinação e uma possível infidelidade do ser desejado. Não é de alta complexidade identificar as marcas de um crime passional pelo exagero dos golpes homicidas. Talvez um tiro fosse o suficiente, mas Ana Sbaraini foi alvejada por vários. E pelas costas. Provavelmente sem ter percebido que seria executada.

A segunda hipótese considera uma reação a eventual chantagem. Namorado, amante ou algum curioso por jogos sexuais diferentes, de posição social, familiar, profissional, política ou econômica avantajada, acuado e achacado por grave chantagem de natureza financeira ou até sentimental pode ter decidido colocar fim ao iminente risco de ser desnudado aos olhos de uma sociedade de regra moralista e conservadora.

 A homofobia é a terceira hipótese.  Luiza Eluf, revela o fato de ser “inaceitável que alguns seres humanos sejam tão intolerantes e autocentrados a ponto de querer impor a todos, em uma sociedade de milhões de pessoas, uma forma única e padronizada de exercer a sexualidade.” Se o assassinato de Ana Sbaraini foi fruto do odioso, diabólico e anticristão sentimento homofóbico, então se tratou de uma ação premeditada, cultivada pelo preconceito. Neste ponto, com razão o Papa Francisco quando questiona: "Se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” De fato, são princípios basilares do cristianismo, amar a Deus sobre todas as coisas e amar a próximo como a si mesmo (Mc 12:28-32); não julgar para não sermos julgados, não condenar para não sermos condenados e perdoar para sermos perdoados.

Enfim, qualquer que seja a hipótese para desvendar o mosaico que envolveu o assassinato de Ana Sbaraíni, uma coisa é certa: o mesmo foi cometido por uma verdadeira aberração ambulante, um degradado ético, absoluto analfabeto dos princípios cristãos, psicopata perigoso e rancoroso. E só ele pode explicar melhor quais foram os motivos do crime: paixão passional, autodefesa ou homofobia. De qualquer forma, convém lembrar que a prova indiciária pode constituir-se em elemento plenamente aceitável a sustentar uma condenação. Este risco deve ser avaliado com outros fatores, por exemplo, se houveram outros participantes no crime. Neste caso, a delação premiada permite a redução da pena de 1/3 a 2/3 para quem coopere voluntária, efetiva e plenamente com as investigações. Depois da denúncia do Ministério Público, aí já será tarde demais. E trinta anos de cadeia é muito tempo.

Pensamento da semana: “Também existe cura para a homofobia, sabia? Se chama ensino fundamental completo". Dani Calabresa