sexta-feira, 23 de novembro de 2012

DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL: COMO COMEÇAR


Foto: Emílio, exemplo de gente que trabalha.

Cesar Techio
Economista – Advogado

            Parece contraditório, mas infelizmente é o que acontece: o Poder Público se comporta e funciona exatamente como uma empresa capitalista; comanda toda a administração e todo o resultado da atividade econômica migra para os seus cofres; paga aos trabalhadores (funcionários) um salário de mercado e cobra dos usuários finais dos serviços públicos muito mais do que o custo deles. É uma pena que os prefeitos e os que além deles comandam os municípios não se atenham para o fato de que a verdadeira mudança deve, em primeiro lugar, pôr em relevo o papel da Administração e o papel dos cidadãos e da comunidade em geral. A ideia central é de que os cidadãos devam administrar a si próprios através de modelos alternativos de administração pública cooperativa.

Conforme Bernard Lavergne, algumas características das administrações públicas cooperativas são a de possuir autonomia administrativa, comercial e financeira; possibilitar a participação de acionistas usuários ou consumidores dos produtos que a sociedade fabrica ou dos serviços que presta e o de pagar dividendos ou ações. (El Socialismo com rostro humano. Buenos Aires, INTERCOOP, pág. 196, 1971).

            Tema de minha crônica anterior, a sugestão se encaixaria perfeitamente no modelo de empresas de economia mista. Todavia, a participação societária dos demais acionistas deveria ser limitada a um percentual que possibilitasse o ingresso de pessoas físicas de baixa renda. Por exemplo, se poderia criar uma empresa de economia mista para assumir a gestão de água e esgoto, após municipalização do sistema gerido precariamente por empresa estatal. Dela participariam pessoas do povo em geral. Uma empregada doméstica, por exemplo, poderia comprar R$ 100,00 (cem reais) em cotas; um empresário com maior poder aquisitivo, R$ 3.000,00 (três mil reais) e assim por diante. A própria comunidade consumidora poderia se associar a empresa municipal de economia mista e, ao invés de investir em poupança, engordando os lucros do sistema bancário, investiria num retorno mais garantido, associando-se ao Poder Público. Com isso geraria mais empregos diretos e indiretos para seus próprios filhos, tributos e impostos para o próprio município, além receber um bom dinheiro anual através dos dividendos.

            Criar empresas mistas com total alteração da distribuição funcional da renda e das decisões, na mesma linha das experiências operacionais das cooperativas, faz parte do elenco de sugestões que desafiam a inteligência e a boa vontade dos gestores públicos. Visitar, entender e posteriormente adotar as experiências de administrações públicas cooperativas existentes no mundo, deveria ser a primeira iniciativa dos prefeitos eleitos e de suas assessorias. A mudança precisa começar pelas entranhas do próprio sistema de gestão, repensando o direito público e introduzindo nele a ideia de cooperação.

Pensamento da semana: "Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro." Provérbio Indígena.