Cesar Techio
Economista – Advogado
Enquanto esperava ser atendido em meio a conversas paralelas, animadas,
observava aquele semblante bem talhado, silente, centrado, contornado por uma
áurea cinza, elegante, intrigante, de raízes espraiadas num tempo que me
ocorreu à memória, em curtos vislumbres. Certamente possuíam outras cores, cabelos
esvoaçados pela infância ao correr para o abraço do pai, a quem nosso povo
chamava com carinho e admiração de Dr. Maruri. Todos gostariam de tê-lo mais
tempo, com a generosidade de quem atendia com devoção a doentes pobres sem
cobrar, visitando-os em casa. E os tons de cinza? Não os teve.
Não
tão cinzas quanto às das belas mechas da filha Rosaura, a quem observava,
depois de tantas décadas, absorto, pensando no esvair de um tempo que me parece
ainda tão presente. Coincidentemente me chamou e, ao fim do atendimento, fez o
convite para “A vida de Cabelos Brancos”, exposição que acontece hoje, às
19hs30min, no Memorial Atilio Fontana, de fotografias inéditas da professora de
artes do IFC Concórdia e artista plástica Glaucia Feraso. No convite a razão de
minha introspecção: “O tempo é relativamente escasso. Desafiados somos a
compreender e a aproveitar, da melhor maneira possível o tempo que passou.
Somos marcados a ferro e brasa em nossos corpos, em cada pedaço de pele que
habitamos. Registramos o tempo involuntariamente. Na cabeça vemos o tempo com
mais vivacidade na ausência de uma cor que já existiu, e que deixou de ser,
podendo ser retomada a qualquer momento, por vaidade, por vontade, por
preenchimento de vida em cor. Quando passa o tempo, a vida de cabelos brancos
se mostra ainda viva”.
Assim
sempre me parece, quando encontro velhos amigos e conhecidos, todos de cabelos
cintilantes, mostrando nos olhos a impressão ascua, reluzente, de um tempo que
teima em desnudar a minha saudade. Enfim, justifica a artista: “Neste trabalho,
minha proposta é revelar um pouco deste mistério que não escolhe idade. Meu
intuito é mostrar que existem histórias de vida e que de certo modo estão
presentes no nosso cotidiano, nos lembram do passado e fazem parte de uma
memória. O prazer de todos os dias compartilhar esta vivacidade dos fios
brancos que invadem o nosso corpo, sem pedir licença, e que por vezes tentamos
mascarar”.