quinta-feira, 3 de setembro de 2015

"A vida de Cabelos Brancos"


Cesar Techio
Economista – Advogado

        Enquanto esperava ser atendido em meio a conversas paralelas, animadas, observava aquele semblante bem talhado, silente, centrado, contornado por uma áurea cinza, elegante, intrigante, de raízes espraiadas num tempo que me ocorreu à memória, em curtos vislumbres. Certamente possuíam outras cores, cabelos esvoaçados pela infância ao correr para o abraço do pai, a quem nosso povo chamava com carinho e admiração de Dr. Maruri. Todos gostariam de tê-lo mais tempo, com a generosidade de quem atendia com devoção a doentes pobres sem cobrar, visitando-os em casa. E os tons de cinza? Não os teve.

          Não tão cinzas quanto às das belas mechas da filha Rosaura, a quem observava, depois de tantas décadas, absorto, pensando no esvair de um tempo que me parece ainda tão presente. Coincidentemente me chamou e, ao fim do atendimento, fez o convite para “A vida de Cabelos Brancos”, exposição que acontece hoje, às 19hs30min, no Memorial Atilio Fontana, de fotografias inéditas da professora de artes do IFC Concórdia e artista plástica Glaucia Feraso. No convite a razão de minha introspecção: “O tempo é relativamente escasso. Desafiados somos a compreender e a aproveitar, da melhor maneira possível o tempo que passou. Somos marcados a ferro e brasa em nossos corpos, em cada pedaço de pele que habitamos. Registramos o tempo involuntariamente. Na cabeça vemos o tempo com mais vivacidade na ausência de uma cor que já existiu, e que deixou de ser, podendo ser retomada a qualquer momento, por vaidade, por vontade, por preenchimento de vida em cor. Quando passa o tempo, a vida de cabelos brancos se mostra ainda viva”.

             Assim sempre me parece, quando encontro velhos amigos e conhecidos, todos de cabelos cintilantes, mostrando nos olhos a impressão ascua, reluzente, de um tempo que teima em desnudar a minha saudade. Enfim, justifica a artista: “Neste trabalho, minha proposta é revelar um pouco deste mistério que não escolhe idade. Meu intuito é mostrar que existem histórias de vida e que de certo modo estão presentes no nosso cotidiano, nos lembram do passado e fazem parte de uma memória. O prazer de todos os dias compartilhar esta vivacidade dos fios brancos que invadem o nosso corpo, sem pedir licença, e que por vezes tentamos mascarar”.

Pensamento da semana: Quando a velhice chegar, aceite-a, ame-a. Ela é abundante em prazeres se souberes a amar. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres. Sêneca.