Cesar Techio - Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com
Tenho lançado linhas e mais linhas nestas crônicas. Às vezes grito, outras murmuro. A maioria não ouve ou porque é surda ou porque é inconveniente ouvir. Mas o que realmente importa é que não sou mudo e, se a maioria não ouve, falarei, cada vez, mais alto. Dos oito mil trezentos e cinqüenta assinantes deste jornal, somando a leitores de outros jornais que acham conveniente publicar minhas crônicas, apenas parte ouvem as mensagens nas entrelinhas do que escrevo. É claro, porque o despertar para o verdadeiro sentido das palavras está escondido no meio delas. Por isso alguns não entendem, outros interpretam mal e perdem o caminho.
Mas uma coisa é certa. Somente aqueles que já passaram por algum sofrimento compreenderão: O pai que trabalha cujo salário não alcança o sustento do filho que passa fome; o aluno cuja greve lhe rouba os melhores dias de estudo; o professor que não recebe o suficiente para viver; o analfabeto que só sabe ler, mas não sabe interpretar e entender e por isso é logrado; o explorado pelo nepotismo econômico dos poucos que em nossa sociedade amontoam e acumulam riquezas; o assaltado pelos donos do dinheiro e do crédito que dispõem do sangue do povo trabalhador; o pobre que não consegue atendimento médico rápido e se lança no frio da madrugada para tentar uma consulta; o alienado pela televisão e internet, cujos tentáculos funestos e execráveis lhe apresenta risos e lágrimas prontas, impedindo-o de sentir e viver a própria vida.
O certo é que a dor purifica e dá compreensão e o sofrimento cristaliza a consciência, de tal forma que, sem passar por eles ninguém sabe o que é a vida. Os surdos a que me refiro são os mais violentos competidores pelo dinheiro e pelo poder econômico e político. São os que não lêem, não ouvem e pouco se importam com o dedo que lhes aponta e denuncia as violências e ausência de escrúpulos de consciência. Mas, os mais horrendos, duros, cruéis, atrozes e safados surdos a que me refiro estão empoleirados em cargos públicos, aviltando a administração pública nos municípios, estados e na união federal. Sentados no trono, presos a interesses escusos e atentatórios ao bem comum, a pátria se resume nos seus interesses particulares. E quando lêem estas crônicas, fazem de conta que a conversa não é com eles... É em outro município, outro estado, outro país.
Mas esta nação tem a Polícia Federal, o Ministério Público, o Poder Judiciário e ainda os cidadãos que começam a acordar e a ouvir e, finalmente, uma grande presidente. Diante do escândalo do Ministério dos Transportes, Dilma Rousseff “botou na rua” toda a cúpula do ministério o que demonstrou uma mudança radical na forma de governar o país. A revista Veja não só é “a vista da nação”, como a voz do povo, daqueles a que me referi acima. Enquanto denunciava os governantes e políticos em suas falcatruas, a resposta só vinha da polícia federal, ministério público e judiciário. Agora, a presidente demonstrou que não é surda, nem cega. Ouve a imprensa corajosa e age com dignidade, bem como deveria agir todo aquele que ocupa um cargo público.
Pensamento da semana: “Propina e prosperidade trilharam o caminho dos principais personagens envolvidos no escândalo que fulminou a cúpula do Ministério dos Transportes”. “O governo pagou 35 milhões de reais pela construção de apenas 2 quilômetros de uma estrada em Minas Gerais.” (Revista Veja, 13/07/2011, pág 64).