quinta-feira, 1 de julho de 2010

SADIA: ROMPEU-SE O CORDÃO UMBILICAL


Cesar Techio - Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com

Em meados de novembro de 2007 a Perdigão passou a deter o controle acionário total da Batávia e consequentemente a gerir a marca daquela empresa. Em 2009, a fusão da Perdigão (68%) com a Sadia (32%), aprovada com recomendações pela Secretaria de Acompanhanto Econômico (SEAE) neste mês de junho de 2010, resultou na maior empresa multinacional brasileira de alimentos processados. A realidade é que os cenários destas megafusões decorrente de políticas econômicas, financeiras e de mercado, impuseram novas relações com as comunidades que abrigam suas unidades industriais e empresariais. O novo cenário se reduz num verticalismo exclusivista à dimensão da maximização do lucro, excelência dos produtos, otimização do mercado de insumos e consumidor. Subordinando o projeto de crescimento a formação de um oligopólio com alto poder de mercado, não se pode negar que o novo paradigma empresarial realmente tem absoluta e inquestionável capacidade para impor preços estratosféricos, muito acima dos custos e em prejuízo do consumidor. A megafusão segue o passo do mercado mundial, dividido em grandes mega-empresas e oligopólios. Não tem outro jeito. O rumo é por aí mesmo. Nossa maior sorte é que, no caso da Brasil Foods, trata-se de empresa nacional, o que impede sejamos submetidos a políticas de preços ditados por interesses externos.

Sem descurar da relevante função social das empresas, da geração de empregos e tributos, o foco hoje tem cores emocionais, na medida em que a fusão, no caso de Concórdia, transformou a unidade local numa simples fábrica, assim como as demais espalhadas pelo país. Tal contingência, por motivos óbvios, rejeita a construção emocional, de afeto e de cumplicidade entre os sonhos do fundador Attilio Francisco Xavier Fontana e a comunidade local (berço da matriz durante décadas). Não reconhece as origens nem a história, uma vez que tudo passa a se processar dentro de um projeto de crescimento global, que leva em conta o comportamento dos mercados mundiais.

Profícuas, prósperas, admiráveis e afetuosas relações, que marcaram as matizem entre a extinta empresa e suas origens restam deslembradas. A Sadia se fazia presente na vida das pessoas e das instituições, se preocupando de forma muito especial com a qualidade de vida e com o desenvolvimento do município. Esta visão humanista e humanitária sofreu uma perversa metamorfose, obsedada por diretrizes visivelmente antipersonalistas, de mercado. Apodada de paternalista, as velhas relações de equilíbrio, serenidade e amor entre o fundador, sua amada Sadia e a comunidade foram sucateadas e substituídas por relações comerciais que estimulam a sensação de saudade, abandono e inquietude. Rompeu-se o cordão umbilical. Os tempos são outros. Salvo a visão de uma estátua de bronze do saudoso e amado fundador da Sadia, que insiste em fincar os pés na praça em frente à empresa, nada mais lembra a poderosa matriz do conglomerado Sadia.