quarta-feira, 8 de agosto de 2012

AS CAMPANHAS ELEITORAIS E O ÓLEO LUSTRA MÓVEIS



Cesar Techio – Economista

cesartechio@gmail.com

A vergonha, sentimento que normalmente cada ser humano carrega desde o nascimento e que serve de freio diante de certas situações, parece naufragar de escafandro no mar encapelado das campanhas eleitorais. Candidatos jamais vistos, estranhos da convivência e dos serviços sociais, como num passe de mágica aparecem em festas comunitárias com a maior simpatia, como “velhos amigos”, “conhecidos de infância”, de eleitores atônitos. Neste ambiente surreal, todo mundo sorri, se faz de tonto, se refestela, enche a pança e faz de conta que acredita nas promessas da reforma do mundo em troca do voto. Diante destas nuances da democracia, quedei-me a refletir sobre a origem do ânimo que movimenta estes candidatos pára-quedistas. Cheguei à hilariante conclusão que só pode ser obra de algum produto mágico, como os utilizados para lustrar móveis, aqueles que dão um super brilho fazendo a madeira parecer nova, conservada, bonita, linda de se ver. E, antes que alguém me acuse de irreverente, quero afirmar que esta conclusão é fruto de aprofundado estudo dos efeitos e eficácia destes produtos na madeira. No mercado há mais de oitenta anos, o Óleo de Peroba, por exemplo, é um produto indispensável para as donas de casa. Dava gosto de ver o zelo e o carinho com que minha mãe, hoje no alto dos seus oitenta e seis anos, aplicava o produto pelos móveis da casa. Exalavam um cheiro de limpeza, pareciam novos. O problema (concluí), é que estes produtos só tocam a superfície, nunca ultrapassam a profundidade da madeira e não mudam nada além da aparência do candidato.

Dá um cheirinho de novidade, coragem para abraçar e interagir com eleitores desconhecidos. O “lustra móveis” dá verniz e brilho ao exterior do candidato, mas no interior ele permanece o mesmo, nada de essencial se modifica em seu ser. O eleitor esperto sabe que o óleo na verdade é uma ficção, uma ilusão, que cria uma imagem respeitável, uma polidez, mas que se trata tão somente de uma invenção que faz do candidato um hipócrita. Tapinhas nas costas, churrascos, festas, jantares, cervejadas e promessas em troca do voto agem como lubrificante e ajudam eleitores de poucas luzes a terem esperança de que, se eleitos, aquele vai ser o clima patrocinado por estes candidatos pelos próximos quatro anos.

Parece paradoxal, mas o óleo que dá lustro á cara de pau destes candidatos, faz deles uma bandeira de esperança, pois afirmam que mudarão para melhor a gestão pública, o jeito de administrar, os cuidados para com o meio-ambiente, com o meio urbano, com a vida das pessoas. Mas, no fundo, só mentecaptos acreditam nestas aleivosias, porque é sabido que óleo lustrador só dá brilho por fora. Quando as fundações são podres, quando os troncos de sustentação são atacados por cupins, o óleo, por mais efeito conservante que possua, não pode impedir que a casa caia. É preciso, então, analisar o íntimo, a fundação dos candidatos, seu caráter, seu testemunho, sua história de vida, a fidelidade aos compromissos assumidos, seu efetivo trabalho e suas obras.

Pensamento da semana: “Cuidado com as falsas promessas e com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. Vocês os conhecerão pelos frutos deles: por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? Pelos frutos deles é que vocês os conhecerão." (Mateus, 15,16 e 20).