quarta-feira, 27 de junho de 2012

"SOCORRO, MEUS PAIS ESTÃO SE SEPARANDO"


Cesar Techio – Advogado –Economista

cesartechio@gmail.com

Este é o grito embrionário que ecoa no subconsciente dos filhos menores e adolescentes diante do turbilhão do divórcio que estraçalha as suas famílias, fonte primária de suas próprias existências. É precisamente os mais fracos, os que dependem afetiva e economicamente de seus pais para desenvolverem suas potencialidades e amadurecerem como pessoas, os que, em qualquer circunstância desta jaez, são violados na sua dignidade humana. Os que mais precisam de acolhimento, respeito e defesa, são sempre os que estão no olho do furacão das agressões e da violência emocional que envolve as separações familiares. Algumas crianças sequer possuem referência paterna, dado o fracasso das relações focadas exclusivamente em interações sexuais e biológicas. A superficialidade da vida interior e a esterilidade dos sentimentos, acompanha a maioria dos genitores que se centram e concentram de forma individualista e egocêntrica em seus próprios interesses, em detrimento da prole. Como estas crianças e adolescentes se abrirão para o mundo após interiorizarem o trauma da exclusão familiar que as frustram, empobrecem e mutiliam? Esta pergunta ecoa na cabeça de juizes, promotores, advogados, operadores do direito, assistentes sociais e psicólogos forenses que se deparam, no dia a dia, com tremendos escândalos gerados no seio de separações conjugais.

A verdade, dura e amarga, é que por trás da loucura das brigas de casais e de audiências judiciais de divórcio, onde as mazelas familiares são encobertadas pelo manto do segredo de justiça, aparecem à luz do dia rostos de crianças oprimidas e conspurcadas na dignidade pelos seus próprios genitores. Na realidade, o empobrecimento e marginalização dos filhos, largados ao próprio sofrimento, desrespeitados, manipulados, prostituídos e escravizados pelo abandono de seus pais, se constitui num passivo moral imperdoável.

Colocar um filho no mundo é fácil, mas é preciso consciência de que não se pode coisificar, tornar objeto um ser que exige compromisso paterno e materno não só no momento da concepção e do prazer carnal ou na hora do nascimento, mas durante toda a vida. Proclamar-se “humano” e “responsável” e cruzar os braços diante das necessidades da prole é pura hipocrisia, principalmente quando esta afirmação funciona como mecanismo destinado a preservar a própria imagem nas relações sociais. A idéia de parecer “santo” diante da sociedade, de amigos, colegas de trabalho e de estranhos, mesmo oprimindo, despersonalizando, pisando, traumatizando e fazendo passar fome os próprios filhos é típico de canalhas, reprodutores de “meia-tigela”, que não merecem ser chamados de “’homens’, muito menos de “animais”, porque estes, pelo menos, se necessário defendem a prole até à morte.

A indiferença frente a esta triste realidade é paga por toda a sociedade que sucumbe diante dos seus efeitos perversos: assaltos, estupros, assassinatos, roubos e mortes. Que pais e mães saibam que seus filhos são seres humanos, criados a imagem e semelhança de Deus e que a conta pelo abandono e pela irresponsabilidade um dia lhes será dura e impiedosamente cobrada.

Pensamento da semana:
“Tudo o que fizermos ao próximo, estamos na realidade fazendo a nós mesmos. Essa é a Lei da Ação e Reação. Todos nós estamos a cada segundo colhendo o que plantamos. O futuro em construção depende de nossas ações no passado e no presente.” http://joanadarc.wordpress.com

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"RIO +20 OU FÓRUM SOCIAL?" COM DIONÍSIO RICIERI MORÁS.


Frei Dionísio e os famosos fichários de sua vasta bibliografia: riqueza franciscana.




Cesar Techio – Advogado –Economista

cesartechio@gmail.com



“Por toda a parte surgem sintomas que sinalizam grandes devastações no planeta Terra e na humanidade. O projeto de crescimento material ilimitado, mundialmente integrado, sacrifica 2/3 da humanidade, extenua recursos da Terra e compromete o futuro das gerações vindouras. Encontramo-nos no limiar de bifurcações fenomenais. Qual é o limite de suportabilidade do super-organismo Terra? Estamos a rumar na direção de uma civilização do caos?” Esta questão, colocada por Leonardo Boff em “Saber Cuidar. Ética do Humano. Compaixão pela Terra”, Editora Vozes, 1999, abre início às aulas de Ecoteologia de Frei Dionisio Ricieri Morás.

O franciscano não poupa críticas ao projeto de desenvolvimento sustentável e economia verde defendido pela Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) como reflexo capitalista que visa sobreviver com um modêlo “cabresteado pelos interesses do agronegócio, indústria e comércio”. Segundo ele, o centro ideológico de discussão coloca interesses voltados à “produtividade”, sem se preocupar com algumas questões básicas, a saber: 1 – Pouco se importa com a conservação e recuperação das áreas utilizadas pelo agronegócio o qual, com a indústria e comércio criaram e impuseram uma cultura consumista que está acabando com a terra; 2 - Não percebe que a fome não é consequência da falta de alimentos, mas sim de má gestão na produção e distribuição (20% dos mais ricos consomem 80% dos alimentos disponíveis); 3 - Destina alimentos para produção de combustível (matérias agrícolas como plantas oleaginosas entre elas a soja, milho, beterraba, cana-de-açucar e biomassa florestal); 4 – Incentiva o disperdício e má utilização de alimentos que viram montanhas de lixo.

Diante destas questões conclama a que busquemos posição e nos perguntemos: Podemos viver com menos, com o apenas necessário? Não deveria haver disponibilidade mais equitativa de alimentos? É só dinheiro e gordura sob a pele que proporciona felicidade? Qual a compreensão atual sobre o ser humano e como ele está se relacionando com a ecologia? Com sua barba branca, ironia refinada e inteligência aguçada, Frei Dionisio Ricieri Morás, aluno de teologia do concordiense Leonardo Boff (com quem fisionomicamente se parece) afirma, parodiando seu professor que, no andar do atual ritmo de destruição da terra, o fim da humanidade poderá ser vivenciado já por esta geração e certamente não passará da próxima. Tudo por culpa “de vários seres humanos que criaram uma máquina de morte com armas nucleares, químicas e biológicas, capazes de eliminar a vida humana por vinte e cinco formas diferentes...”.(Leonardo Boff). Segundo Frei Dionísio Ricieri Morás, a teologia tem respostas para todas essas questões, núcleo central de suas palestras que conclamam os ouvintes a “criarem uma acumulação de consciência crítica cristã e ecológica”.

Para ele, o Forum Mundial Temático e Cúpula dos Povos tem muito mais a dizer sobre vida do que conferências capitalistas que visam tão somente a sobrevivência de um modêlo econômico consumista e mortífero.

Pensamentos da semana: “É preciso comer para viver e não viver para comer.” Frei Tarcísio Theeis, Luzerna, Seminário, fev. 1972.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

PLANO DE GOVERNO OU ESTELIONATO POLÍTICO?



Cesar Techio – Economista –

cesartechio@gmail.com

 
A partir deste mês de junho definem-se quais serão os candidatos dos partidos para o pleito municipal. Afora o calendário eleitoral, cada partido político ou coligação começa a trabalhar intensamente para formular o Plano de Governo. Que é o que mais interessa para o município e para os eleitores. Nele deve constar a proposta de planejamento e de políticas públicas a serem implementadas durante o futuro governo do candidato vencedor. Assim, é importante que os filiados dos diversos partidos contribuam para a formulação destas propostas. É preciso sugerir aos partidos quais os investimentos públicos mais relevantes para a população. Entretanto, é fundamental conduzir as respectivas propostas dentro de uma nova postura sobre a qualidade dos gastos em um ambiente no qual a responsabilidade fiscal deve ser a pedra angular na condução das propostas. As idéias devem ser gestadas e aparecerem no Plano de Governo como orientação indicativa aos futuros gestores e como compromisso que não pode se apartar desta realidade. Que realidade? A da restrição orçamentária. De forma que a tônica do Plano de Governo deve considerar as despesas orçamentárias, muitas já comprometidas por lei. O que importa, então, é que o Plano diga como direcionar os recursos do orçamento de forma a viabilizar uma melhor otimização do gasto público.

Precisamos saber dos candidatos quais os projetos de desenvolvimento e infra-estrutura que vão receber prioridade e recursos e quais as políticas públicas a serem adotadas para gerar mais trabalho, emprego, renda e qualidade de vida urbana. Por enquanto, as idéias vão surgindo aqui e acolá, mas o que realmente interessa é um Plano de Governo responsável, que possa ser viabilizado com as fontes orçamentárias. Não adianta jogar na cabeça do eleitor projetos mirabolantes sem condições mínimas de viabilidade orçamentária. Prometer o que não pode ser cumprido é estelionato político. Podemos e devemos gestar idéias indutoras para implementação de projetos, de acordo com as necessidades da população, mas sem demagogia.

De forma que algumas perguntas devem ser feitas:

1° - O projeto que consta no Plano de Governo tem condição técnica de ser incluído no futuro Plano Plurianual – PPA? (Regido pelo artigo 165, inciso I da Constituição Federal, é o instrumento normativo sob o qual o município deve materializar o planejamento dos programas e das ações governamentais para os próximos quatro anos). 2° - Quais são as fontes de recursos ou de financiamento para implantação destes projetos? 3° - Qual o grau de endividamento decorrente deles?

Pensamento da semana: Maturidade, trabalho sério, honestidade, experiência e entendimento fazem bem à democracia.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Futuro Prefeito: Passaporte para a Vitória.

Cesar Techio – Economista -
 cesartechio@gmail.com

De um total de cento e quarenta e duas crônicas publicadas pelo “O Jornal” ao longo dos últimos anos, em torno de 39 escrevi com o objetivo de oferecer algumas reflexões a respeito de questões pontuais envolvendo a gestão pública. Sugeri, entre outras, como necessárias e de grande impacto em favor da população, as seguintes e justificadas ações de governo:

 1 - Acabar de vez com as enchentes finalizando o canal extravassor (iniciado na gestão Neodi Saretta). A barragem de retenção, embora útil, não capta a maior parte das águas da bacia hidrográfica que convergem para o Rio dos Queimados e destroem o centro da cidade.

 2 - Centrar ações políticas e esforços de gestão para fortes incentivos à implantação de empresas agroindustriais na forma associativa, cooperativa e comunitária. São as que mais agregam valor aos produtos rurais, mais geram e distribuem renda, tributos e empregos diretos e indiretos.

 3 - Concentração de investimentos em infra-estruturas urbanas localizadas em eixos de expansão para fora do atual anel central da cidade, com sistemas viários de primeiro mundo. É preciso impedir adensamentos populacionais com a finalidade de melhorar a qualidade dos serviços públicos e a mobilidade urbana.

4 - Proibição de escavações e novos loteamentos em encostas urbanas à custa da mata. Nossos morros estão entrando em colapso com sérios riscos à vida dos cidadãos e às futuras gerações.

5 - Recuperação da bacia hidrográfica do Rio dos Queimados proibindo a emissão de alvarás construtivos e licenças ambientais no entorno de cursos e fontes de água e em encostas. A plantação de árvores nativas visando reconquistar a flora e a fauna é a melhor forma de retenção de águas pluviais.

 6 - Nova rodoviária interestadual e desativação do terminal construído em parte da Rua Adolfo Konder. A atual rodoviária deve servir somente como terminal urbano.

 7 - Municipalização do sistema de água e esgoto e saneamento básico. O atual sistema é deficitário, velho e podre. Precisamos reassumir o controle destes serviços.

8 – Municipalização do transporte coletivo municipal através de empresa autárquica visando dinamizar novas alternativas transporte mais barato e abaixar custo operacional e valor de passagens. O valor das mesmas deve servir para cobrir manutenção e reposição de frota, descartando qualquer lucro.

 9 - Implementação de linhas de ônibus interbairros com trajetos circulares e mini-terminais interligadas possibilitando o deslocamento de um bairro para outro sem ter que passar pelo centro da cidade e sem o pagamento de nova passagem.

10 – Construção de Hospital Público Municipal na forma autárquica com nova estrutura de atendimento de emergência. O atual sistema está saturado diante da alta demanda.

11 – Construção de Mercado Público em regime de concessão de pequenos espaços para comercialização direta (sem atravessadores) de produtos hortifrutigranjeiros e agro-industrializados a fim de aumentar a renda dos agricultores e baratear o preço dos produtos para os consumidores.

12 - Escolas profissionalizantes (não recreativas) com transporte gratuito para crianças e jovens na área de esporte coletivo, em especial basquete, vôlei e futebol (de salão e de campo).

A convicção que tenho, após duras críticas e reflexões em favor da cidadania e do povo, aliás, sempre recebidas com espírito público e grandeza de um bom gestor, pelo atual prefeito João Girardi, é de que estas sugestões deveriam fazer parte dos planos de governo de todos os futuros candidatos ao executivo. Elas podem ser autênticos passaportes para a vitória.

Pensamento da semana: Eleitor esperto e inteligente sabe avaliar o valor de quem realmente trabalha pelo povo e não se ilude com marketing mediático e propaganda enganosa.