quinta-feira, 5 de novembro de 2009

“UMA VIDA”

Cesar Techio - Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com

Absorto em leitura cadenciada, mas ainda em curso devido ao curto espaço de tempo desde a emoção de meu pai ao receber “Uma Vida”, com dedicatória do autor, constato que o relato da vida de Osório Henrique Furlan apresenta obras e acontecimentos que não podem ser dissociadas do impacto que provocaram na história de milhares de pessoas e de famílias beneficiadas por suas idéias, convicções, fé, firmeza de caráter e iniciativas empresariais. A perspectiva histórica, a partir de Asolo, de onde partiram os avôs paternos, de Galópolis onde nasceu; de Concórdia berço da Sadia e de São Paulo, oferece um panorama amplo de realizações cujos fundamentos repousam em sólidas, amorosas e responsáveis relações familiares. Dessarte, o leitor se vê introduzido numa atmosfera familiar que condicionou uma caminhada empresarial de sucesso (fls. 131), e que levou a uma verdadeira mutação econômica e social na cidade de Concórdia – SC e após em vários segmentos empresariais do país. Com o livro de Osório Henrique Furlan vem à tona a consciência de todo o passado no presente, de tal sorte que se constitui em valioso manancial de exemplos nos quais devemos nos abeberar.
A empresa Sadia, potência agroindustrial na América Latina, jamais chegaria ao nível de expansão experimentado até 2008, sem a visão deste homem que, a partir de 1960, mudou-se para São Paulo e iniciou um processo de crescimento e implantação de filiais em todo o país, com representações e negócios no exterior (fls. 109 em diante). O estilo de gestão de Osório Henrique Furlan, “contribuiu para formar pelo menos três gerações de bons gestores e administradores” (fls.119). Entre eles Luiz Henrique Furlan, alçado em 2003 ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior do Brasil: “Luiz encarava aquele chamamento como uma missão, um serviço que deveria prestar ao país. Sem qualquer veleidade política, ideológica ou mesmo de vaidade pessoal, tinha motivos sinceramente patrióticos. Ele me fez lembrar meu velho pai Gotardo, que não por acaso me registrou como Osório, em homenagem ao general gaúcho que se tornou herói do Exército imperial brasileiro” (fls. 187).
Patriotismo que, salvo melhor juízo, custou caro à família. Não passa despercebida certa contrariedade do autor, na apresentação do livro, fls. 11/13: “Entrou no meu vocabulário a palavra “derivativo cambial” que, numa asserção simples, significa um grande jogo de azar. Esqueceu-se a lição do fundador Atílio F.X.Fontana para quem a base do sucesso da empresa era o trinômio homem, terra e técnica. Esqueceu-se que a vocação da empresa sempre foi a produção de alimentos e não a especulação no mercado financeiro.” Sobre o tema escrevi neste jornal em maio de 2009, sob o título “Sadia: Uma História”: “ Onde estava o “Head of the family” e “Commander” durante as equivocadas apostas em derivativos? Cuidando do desenvolvimento, da indústria e do comércio do país? Doando a sua vida, conhecimento, sabedoria e herdada sagacidade do avô em favor da sociedade brasileira? Doação patriótica: governo sem leme em casa”. Ainda sobre o tema, em abril de 2009, o “O Jornal” publicava: “Sadia, Nossa Empresa, Nossa Vida”, coincidentemente na mesma linha do pensamento de Osório Henrique Furlan: “Um bom departamento de estudos econômicos recomendaria, diante da volatilidade do mercado de ações, concentração de esforços e investimentos exclusivamente dentro da atividade de origem da empresa, privilegiando a vocação natural para qual foi criada. (...) Neste contexto, uma visão incessante e contínua voltada para as perspectivas dos fundadores deve acompanhar de forma reflexiva e comprometida as decisões dos atuais administradores, sobre os próximos passos, investimentos e estratégias.” (textos em http://cesartechio.blogspot.com). Pensamento da semana: “Um livro destinado aos que amam as origens, a família e a pátria”.