quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Muamar Kadafi: Amigo, irmão e mártir?


Cesar Techio
Economista – Advogado
techio@concordia.psi.br

Na abertura da Cúpula da União Africana, em Sírtre, na Líbia, em 2009, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na condição de Chefe do Estado Brasileiro, chamou Muammar Abu Minyar al-Gaddafi de “Amigo e Irmão”. Ao assim proceder afrontou a Constituição Federal do Brasil, secular e de cores humanitárias. Longe de se lhe atribuir mais um rompante visando simples aproximação comercial e de avançar de forma atabalhoada numa diplomacia duvidosa e digna de desconfiança, “Lula” deixou público e consolidado suas diretrizes ideológicas e do governo que comandava. Não se trata, aqui, de estigmatizar a linha ideológica do ex-presidente e de seu governo, mesmo porque tal afirmação, no quarto encontro com o sanguinário ditador líbio, fez parte de uma orquestra harmonizada por “amizades” com outros líderes que ignoram completamente a palavra democracia e o que ela significa. Amizade, por exemplo, com Mahmoud Ahmadineja do Irã, com Daniel Ortega, da Nicarágua, com os irmãos Raúl e Fidel Castro de Cuba e com Hugo Rafael Chávez Frías, da Venezuela, este que afirmou diante da morte de “kadafi”: “Eles o assassinaram, é outro ultraje. Devemos lembrá-lo como um grande lutador, um revolucionário e um mártir". Que a diplomacia internacional sob o comando de Lula, defletida à esquerda ditatorial, foi uma vergonha, somente os fanáticos esquerdistas e outros “istas” podem negar. Os que amam a paz, os direitos humanos, o estado de direito, o secularismo do estado como prestador de serviços e a democracia multipartidária, não. Nenhum tipo de cooperação econômica ou tratado de livre-comércio pode ser estimulado com governos que trancafiam e matam opositores. Mesmo que tenham mais de 80 bilhões de dólares em suas contas pessoais, obviamente surrupiados do povo sofrido de seu país.

Ora, porque Lula, não chamou de irmão ou irmã, líderes de países livres, como Nicolas Sarkozy da França, Angela Merkel da Alemanha, Barack Obama dos Estados Unidos, David Cameron da Grã-Bretanha? Tinha ele todo o direito de “querer” ser irmão e amigo até de satanás, se quisesse, mas não na condição de presidente de um país que ama a democracia como o Brasil. Nós, brasileiros, não queremos nem ouvir falar destes ditadores, tiranos e apoiadores do terrorismo. Nós, os que amamos o Brasil e sua tradição democrática, desprezamos regimes sanguinolentos, ditatoriais e ficamos com o que afirmou o presidente americano, na quinta feira, dia 20/10/2011, ao se referir ao oriente médio: "Para a região, os eventos de hoje provam mais uma vez que os regimes mão-de-ferro sempre acabam. Em todo o mundo árabe, cidadãos se levantaram para exigir seus direitos. Os jovens rejeitam com força a ditadura, e esses dirigentes que tentam recusar sua dignidade não conseguirão fazer isso". Ficamos, com o povo líbio, no exato dizer da NATO (OTAN): "Nós recebemos com satisfação a notícia do fim do regime de Kadafi e concordamos que hoje é um dia extraordinário para a coalizão liderada pela Otan e, acima de tudo, para o povo líbio."

Uma coisa é certa. Ninguém e nada substitui a democracia e a rotatividade do poder num regime multipartidarista. O cidadão prestou serviços ao seu país na condição de presidente, com toda a honra e alegria deve pegar sua mochila e voltar para casa, bem no estilo franciscano. A síndrome de se agarrar ao poder a todo o custo, mesmo com as "melhores das intenções" e querer mandar no mundo, é próprio de psicopatas e loucos. Aliás, mesmo no regime democrático, a longa permanência de um grupo político ou de um partido no comando dos municípios, estados e do país, cria pequenos ditadores, cheios de vícios, pois passam a sentir que a Administração Pública é propriedade deles, assim como a "casa da sogra". A ausência de mudança é porta aberta para a corrupção, ganância e tirania.

Pensamento da semana: Nosso respeito e orações aos mais de 20 mil líbios que morreram desde o início da insurreição. Estes sim foram verdadeiros amigos, “irmãos” e mártires da liberdade.