Quase errei na data.
Num repente me apercebi de que já se grafa 2016. Bem, só se passaram treze
horas e meia...
Estava eu a escutar
uma música e lembrei que tenho alguns conceitos a respeito, um deles o que me
faz concluir que devo conhecer parcela do caráter do indivíduo ao ver sua
reação diante de uns ruídos. Pensa bem se tem alguma coisa a ver. Penso que
sim!
A fabricação de sons
e ruídos tem tudo a ver com comunicação. As primeiras tribos passaram a fazer
uns grunhidos para contato entre indivíduos e entre si. Tem uns grunhidos
chatos que perduram até os nossos dias... Já ouviu equinos em pleno cio? Você
já ouviu um cabrito no sacrifício? É pressentimento, o bicho sente antes do
encostar da faca a mulher da foice chegando com seu capotão. Berra, berra
muito, desesperadamente, esperneia em vão. Taí um ruído nada bom.
Bem, falávamos em
música, não é mesmo? E da possibilidade de conhecer parcialmente o caráter de
cada ouvinte apaixonado, ou de cada detentor de direitos autorais. Um
parêntese. A música não tem outra origem senão a necessidade de emocionar os
guerreiros com gritos, os gritos de guerra. Daí por diante chegamos a usar da
matemática para alinhar de forma artística sons melodiosos em notas para que
fossem agradáveis ao ouvir e que despertassem emoções. Virou uma baita
indústria. Mas assim como os primeiros cânticos emocionassem guerreiros em
torno de uma causa, tem por aí uns autores nacionais que levam exércitos no
balanço de suas músicas, pelo gingado em si, pelo desprendimento que possa
proporcionar.
Se o Stédile não
fosse tão metido a parar em pé e tivesse uma veiazinha artística, faria um estrago
botando o rebanho a mugir. Um estouro da boiada, ninguém segura, só chumbo
grosso. Deixa quieto porque vai que ele queira fazer aulas de canto no meio das
fazendas invadidas... Duvido que o Chico Buarque vá se expor à malária para
assumir o ministério da cultura. Claro, ele teria que saber fazer boas letras
para explicar para a terneirada como se muge bonitinho (O Stédile, não o Chico
Bruaca, este bem que poderia montar uma peça tipo “O Malandro” para nos dar um
cenário de corrupção, violência, falta de saúde, falta de vergonha que está
rolando na pátria amada, talvez sob o título “O Corrupto” – Oportuno, não é?
Poderia ser assim: “O corrupto, na dureza, senta à mesa da Petrobrás...”. Vou
propor uma parceria, mas quero cinquenta e um por cento).
E então eu estava a
escutar uma música, não enigmáticos João Bosco, Zé Ramalho ou Alceu Valença, ou
contestadores roqueiros, esses até que estavam na vitrola mas foram abafados
pelos potentes alto falantes de uma picape dirigida por um agroboi, ou agroboy,
como queiram, placas de fora, um turista em ebulição. É aí que eu me refiro.
Analisemos a música, depois seu apaixonado. Versos mal rimados e distribuídos
em estrofes acéfalas. O que diziam? Bobagem, não fale a pena transcrever. A
melodia? Um nheque-nheque compassado de duas ou três notas para tirar a bunda
do banco. Só.
É, o que tem por aí é
pobreza em todos os sentidos. Até pobres pastores e presidentes de casas
legislativas, o Fernandinho (me refiro ao Collor e não ao Beira-Mar), coitado,
teve a Casa da Dinda invadida e seus carros importados de lá removidos. Não dá
pena do maroto? Cadê a tal Dinda que não põe ordem na casa? Ah, a pobreza
musical... O que quer a indústria da música? Será que não está alinhada ao
sistema para abobalhar a moçada? Claro que sim!!! Na minha adolescência,
durante a ditadura militar, os Incríveis gravaram diversas composições que
cultuam a Pátria e isso contribuiu para forjar o sentimento que eu tenho por
esta nossa Terra. E isso que aí está sendo badalado, altamente divulgado em
mídias de conluios, entorpece, cega, idiotiza.
Então, para tirar
dúvidas, vá falar com o turista agulha e desfrute de sua alta prosopopeia, de
sua vasta visão social e política. Dá ou não dá para conhecer um pouco o
caráter do ouvinte apaixonado? A que exército ele pertence?