sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O CARÁTER DA MÚSICA E A MÚSICA DO CARÁTER

Quase errei na data. Num repente me apercebi de que já se grafa 2016. Bem, só se passaram treze horas e meia...

Estava eu a escutar uma música e lembrei que tenho alguns conceitos a respeito, um deles o que me faz concluir que devo conhecer parcela do caráter do indivíduo ao ver sua reação diante de uns ruídos. Pensa bem se tem alguma coisa a ver. Penso que sim!

A fabricação de sons e ruídos tem tudo a ver com comunicação. As primeiras tribos passaram a fazer uns grunhidos para contato entre indivíduos e entre si. Tem uns grunhidos chatos que perduram até os nossos dias... Já ouviu equinos em pleno cio? Você já ouviu um cabrito no sacrifício? É pressentimento, o bicho sente antes do encostar da faca a mulher da foice chegando com seu capotão. Berra, berra muito, desesperadamente, esperneia em vão. Taí um ruído nada bom.

Bem, falávamos em música, não é mesmo? E da possibilidade de conhecer parcialmente o caráter de cada ouvinte apaixonado, ou de cada detentor de direitos autorais. Um parêntese. A música não tem outra origem senão a necessidade de emocionar os guerreiros com gritos, os gritos de guerra. Daí por diante chegamos a usar da matemática para alinhar de forma artística sons melodiosos em notas para que fossem agradáveis ao ouvir e que despertassem emoções. Virou uma baita indústria. Mas assim como os primeiros cânticos emocionassem guerreiros em torno de uma causa, tem por aí uns autores nacionais que levam exércitos no balanço de suas músicas, pelo gingado em si, pelo desprendimento que possa proporcionar.


Se o Stédile não fosse tão metido a parar em pé e tivesse uma veiazinha artística, faria um estrago botando o rebanho a mugir. Um estouro da boiada, ninguém segura, só chumbo grosso. Deixa quieto porque vai que ele queira fazer aulas de canto no meio das fazendas invadidas... Duvido que o Chico Buarque vá se expor à malária para assumir o ministério da cultura. Claro, ele teria que saber fazer boas letras para explicar para a terneirada como se muge bonitinho (O Stédile, não o Chico Bruaca, este bem que poderia montar uma peça tipo “O Malandro” para nos dar um cenário de corrupção, violência, falta de saúde, falta de vergonha que está rolando na pátria amada, talvez sob o título “O Corrupto” – Oportuno, não é? Poderia ser assim: “O corrupto, na dureza, senta à mesa da Petrobrás...”. Vou propor uma parceria, mas quero cinquenta e um por cento).

E então eu estava a escutar uma música, não enigmáticos João Bosco, Zé Ramalho ou Alceu Valença, ou contestadores roqueiros, esses até que estavam na vitrola mas foram abafados pelos potentes alto falantes de uma picape dirigida por um agroboi, ou agroboy, como queiram, placas de fora, um turista em ebulição. É aí que eu me refiro. Analisemos a música, depois seu apaixonado. Versos mal rimados e distribuídos em estrofes acéfalas. O que diziam? Bobagem, não fale a pena transcrever. A melodia? Um nheque-nheque compassado de duas ou três notas para tirar a bunda do banco. Só.

É, o que tem por aí é pobreza em todos os sentidos. Até pobres pastores e presidentes de casas legislativas, o Fernandinho (me refiro ao Collor e não ao Beira-Mar), coitado, teve a Casa da Dinda invadida e seus carros importados de lá removidos. Não dá pena do maroto? Cadê a tal Dinda que não põe ordem na casa? Ah, a pobreza musical... O que quer a indústria da música? Será que não está alinhada ao sistema para abobalhar a moçada? Claro que sim!!! Na minha adolescência, durante a ditadura militar, os Incríveis gravaram diversas composições que cultuam a Pátria e isso contribuiu para forjar o sentimento que eu tenho por esta nossa Terra. E isso que aí está sendo badalado, altamente divulgado em mídias de conluios, entorpece, cega, idiotiza.

Então, para tirar dúvidas, vá falar com o turista agulha e desfrute de sua alta prosopopeia, de sua vasta visão social e política. Dá ou não dá para conhecer um pouco o caráter do ouvinte apaixonado? A que exército ele pertence?

Renato Maurício Basso