quarta-feira, 26 de agosto de 2009

TAPA NA CARA

TAPA NA CARA
Cesar Techio - Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com

Estupefato, nesta segunda feira o povo brasileiro assistiu o presidente do Senado, Jose Sarney discursar no plenário da Casa do Povo, em homenagem aos 55 anos do suicídio de Getúlio Vargas e aos 100 anos do falecimento do escritor Euclides da Cunha, autor de "Os Sertões". Em cena deprimente, com o plenário vazio, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), cobrou explicações do indigitado orador, sobre as acusações que lhe pesam: "Senador José Sarney, a situação do Senado Federal não está tranqüila, não está resolvida. As pessoas desejam um esclarecimento mais cabal, que as dúvidas sejam esclarecidas. A solução não está bem resolvida. O arquivamento das representações não significou que nós tenhamos resolvido os problemas do Senado". Cheio de pudor, José Sarney revidou a intervenção: "Acho que Vossa Excelência foi indelicado comigo, Vossa Excelência que é um homem tão educado. (...) Tomado por tamanha visão política Vossa Excelência deixa de respeitar as regras mais comezinhas do dia a dia da Casa". Ou seja, o discurso de Sarney cedeu lugar ao que verdadeiramente interessa ao povo brasileiro: sua participação na fundação que leva seu nome, os negócios com crédito consignado de seu neto, a nomeação de servidores com relações próximas, os atos secretos, etc. Em meio a este turbilhão, o PSDB e o DEM, vencidos no caso das onze denúncias contra Sarney, abandonam e propõe a extinção do Conselho de Ética. Também pudera, três petistas, aplaudidíssimos por Renan Calheiros e Fernando Collor de Mello, votaram a favor do arquivamento das denúncias. São eles: João Pedro (AM), Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC). A atitude do senador Eduardo Suplicy, após o pedido de desfiliação da senadora Marina Silva (PT-AC) e do senador Flávio Arns (PT-PR), demonstra claramente que o PT foi rachado para sempre. E não é para menos. Flávio Arns pretende que a Justiça diga que o PT foi infiel ao seu ideário político. Eduardo Suplicy e Pedro Simon (PMDB-RS), em meio a 81 senadores que compõem o Senado Federal, ergueram bandeira contra a vergonhosa bandalheira que se instalou no Congresso Nacional e tiveram a coragem e dignidade de baterem de frente contra os amigos de Sarney, incluindo o presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Para nós, catarinenses, o que mais impressionou foi o voto subserviente da Senadora Ideli Salvatti, um verdadeiro tapa na cara e na decência dos eleitores e uma amarga decepção e vergonha aos petistas de boa índole. A ingerência do governo na Receita Federal, com a posterior exoneração de Lina Vieira veio coroada com o pedido de exoneração de seis superintendentes regionais, cinco coordenadores e o subsecretário de fiscalização. Diante desta onda antiética que avassala o país, o que podemos esperar da política brasileira? Não é para menos que no final do editorial da TVBV (TV Barriga Verde) do dia 19/08/2009, as Forças Armadas foram lembradas como porto seguro em meio à gravíssima crise instalada no país. Com efeito, cadê os homens de bem que deviam integrar os partidos políticos e fazer deles a esperança por um futuro melhor? Será que somente uma intervenção militar poderia mandar para casa políticos descomprometidos com o bem comum, com a ética, a moral, a probidade e a honestidade? Não acredito. Lançando um olhar sobre a nossa recente história, ainda fico com a Ordem dos Advogados do Brasil, com o Ministério Público e com o Poder Judiciário, verdadeiras ilhas de resistência moral e ética em meio a este mar emporcalhado de lama que envolve as instituições e a política brasileira. Pensamento da semana: De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86).