BOCA MALDITA
Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@yahoo.com
Gregório de Mattos Guerra, colega advogado nascido em Salvador – BA em 1696, se fazia aguçado na análise sobre a realidade política e social da época. De linguagem ferina, não lhe escapavam instituições e pessoas. Rebelde e mordaz criticava os padres corruptos, o governo e a falsa nobreza. Suas sátiras abalavam a sociedade que lhe deu a merecida alcunha de “Boca do Inferno”. Da literatura brasileira, (matéria obrigatória para o vestibular aos tempos do Colégio Positivo), bem me lembro, no retorno das aulas pelo início da Rua XV, da analogia introspectiva entre a figura do Dr. Gregório e os personagens da “inteligenzia” política e empresarial curitibana que se empoleiravam na Boca Maldita para falar mal de todo mundo. Essa era e ainda é a tradição por lá. Governadores, prefeitos, vereadores, empresários, de vários partidos e tendências ideológicas, se reúnem para o cafezinho e para descer a verborréia, numa crítica social democrática e imprescindível. No Paraná, partidos políticos e candidatos se criaram e se destruíram, graças à catarse patriótica da Boca Maldita. Uma cidade sem a sua Boca Maldita deve ser considerada alienada, amorfa, sem sal. O problema, é que cidadelas provincianas nem sempre dispõem de um belo e largo calçadão no qual possam se instalar grupos antagônicos. Aqui, por exemplo, fica difícil misturar oposição e situação no mesmo espaço. Com isso, a democracia fica prejudicada, pois quem chega ocupa o lugar, deixando de fora outras línguas ferinas. Na realidade, a útil crítica social desenvolvida por estes “bolsões democráticos” perderam força nos últimos tempos, graças ao fisiologismo e oportunismo da política brasileira que mistura onças e gatos.
Mesmo assim, a nossa “Boquinha” (ali, do cafezinho central) anda atenta às manobras políticas de olho nas eleições ao governo do Estado. Comentário afiado de um freqüentador: “Quem acredita na briga entre Ângela Amin e Hugo Biehl para a majoritária ao governo do Estado? É puro jogo do Amim (PP) para arrumar emprego para o Biehl como vice de Ideli Salvatti (PT) e, de lambuja, ver seu caminho livre para as eleições ao senado. O partido não tem força para concorrer com chapa pura e Ângela Amin não emplaca como vice de Ideli, porque duas mulheres não ganham eleição”. Comentários sobre eventual explosão da Tríplice Aliança (PMDB, PSDB e PFL), correm soltos pela nossa Boca Maldita. Leonel Pavan (PSDB) quer ser candidato a governador. Acontece que, na vaga que lhe foi prometida pelo atual governador Luiz Henrique, estão de olho outras eminências, como Pinho Moreira (PMDB) e Raimundo Colombo (PFL). É claro que Jorge Bornhausen não se contentará com nada menos do que a vice-governança. Se não obtiver êxito, como na política brasileira tudo é possível, não é de se espantar se pintar no palco a dupla Ideli e João Rodrigues (PFL): ”É que o João tem forte representatividade no Oeste, ao contrário de Saretta que possui influência mais pontual (Concórdia e alguns municípios da região).”
Mas, como a “Boca” é fértil em imaginação, tem gente que sonha com chapa pura em todos os partidos. Imaginem o PFL (mania de chamar o DEM de PFL) com Colombo e João Rodrigues; o PP com Espiridião e Hugo; o PSDB com Pavan e o senhor X; o PMDB com Pinho Moreira e o senhor Y e, finalmente o PT com Ideli e Saretta. Mas isso é coisa do passado, vociferou um entendido da nossa Boquinha: “Hoje em dia, para viabilizar a conquista pelo poder, coligações são obrigatórias, quaisquer coligações, até mesmo entre o PT e PMDB; PT e PSDB ou PFL”. Quem paga prá ver? Pensamento da semana: “Errar é humano. Culpar outra pessoa é política”. Hubert H. Humpherey.