CRISTÃOS E CRISE ECONÔMICA
Cesar Techio Advogado – Economista - cesartechio@Yahoo.com.br
As desigualdades sociais constatadas nas gritantes e abismais diferenças entre os vários setores da economia, entre o meio urbano bem estruturado e atendido pelos serviços públicos e os cinturões de miséria e afavelamentos que rodeiam as cidades, são inaceitáveis, sob as luzes do cristianismo autêntico, depositário da fé e de princípios espirituais perenes. A pobreza evangélica que se contenta com pouco pode até ser uma virtude, mas nada tem a ver com a miséria, a fome e a humilhação que bate nas portas dos endividados, os quais, face a crise do capitalismo, não conseguem honrar seus compromissos ou até mesmo sobreviver com dignidade. Uma justa e correta distribuição de riquezas, se opõe à concentração de renda excessiva, na qual muito se deposita nas mãos de poucos e nada nas mãos da maioria. A presença de cristãos no corpo social exige uma atenção muito especial às mazelas que atingem cada família, cada trabalhador, cada jovem, mergulhados na desproporção estridente entre a evidente miséria e o hiper-consumo das minorias privilegiadas.
Esta atenção deve considerar e colaborar para com que o materialismo e a ostentação, não se sobreponham aos direitos fundamentais da pessoa humana lapidados na nossa Constituição Federal e no próprio Evangelho de Jesus Cristo. Ou seja, não é aceitável subordinar os valores e princípios humanistas, que se constituem na base da mensagem bíblica e no alicerce do Direito Natural, a exclusivos elementos de ordem material, financeira e de consumo. Segundo Leonardo Boff, em seus artigos semanalmente publicados na imprensa, o nosso sistema não tem lastro ou fundamento na cooperação e na economia solidária e fraterna. É “cada um por si e Deus por todos” ou, “salve-se quem puder”. E pior, todas as relações sociais e familiares ocorrem no plano econômico. Os que possuem condições se relacionam com seus filhos, quase que exclusivamente no plano material. Os que não possuem condições financeiras ressentem-se, do mesmo modo, das carências materiais e, neste contexto são geradas as frustrações, brigas e humilhações. Não é por nada que nossa juventude se queda nas drogas e a sociedade marginalizada se atira na violência que enche as cadeias e presídios do país.
Mas, devemos ter presente em nossa consciência e em nosso coração, que a doutrina cristã exige oposição a esta realidade e que somente ela tem condições para sanar estes males; somente ela perfila em perfeita concordância, as exigências de justiça social e de caridade a uma ordem sócio-econômica justa que, ao invés de oprimir e isolar, une os homens e estes frutificam no amor uns para com os outros. Da pós-graduação em cooperativismo, ainda ao tempo da Unisinos, permanece a convicção de que o modelo econômico cristão autêntico é o da cooperação e da solidariedade. Que, o capitalismo financeiro desenfreado concentra todo o sangue das riquezas nas mãos de poucos, quando para a maioria falta o necessário. Que, as lideranças cristãs têm a obrigação de pregarem a justiça social, de dizerem claramente que o direito aos bens materiais, assim como aos templos edificados, ao dinheiro das contribuições e aos bens doados, deve se subordinar, pela nossa lei (Código Civil), à função social da propriedade e, pelo Evangelho, às regras da caridade que auxilia, renova e resgata a vida das pessoas. Pensamento da Semana: “Eu santifiquei esta casa que me edificaste, para nela estabelecer para sempre o meu nome, e nela estarão sempre os meus olhos e o meu coração” (I Reis 9,3).