Neide de Azevedo Lima, uma das maiores escritoras e cidadãs deste país, participante da Comissão Verdade do Paraná, faz uso do contraditório ao artigo de Domingos Pellegrini publicado na Gazeta do Povo, do dia 17\08\13.
21\08\13
Considero
você, um dos grandes escritores do Brasil. Poeta de grande sensibilidade me
emocionou quando li Presente de Natal. Contudo, nem por isso, eu deixaria
passar em branco, algumas observações sobre seu artigo. A Começar pelo Título.
Esse
titulo: VERDADE PELA METADE, foi muito
apropriado, porque realmente está faltando muita gente no banco dos réus. A
METADE DA VERDADE que está faltando são os torturadores, os assassinos, matadores
profissionais que sentiram prazer em torturar, desaparecer com os corpos,
jogá-los em alto mar, ou transportar os mortos ensacados para jogar em fornos
de olaria para que não deixassem RASTROS.
Mas todos
sabem, que se temos liberdade para escrever o que quiser, temos a liberdade
para estabelecer o contraditório, e tecer algumas considerações interessantes
sobre o título. Hoje podemos expressar nossas opiniões. Essa liberdade é sagrada, para todas as
pessoas que militam na imprensa. Já houve um tempo em que as receitas
culinárias eram usadas como TAPA BOCA! Até uma canção linda apareceu com título
sugestivo criado pelo poeta Maior Chico Buarque: CALICE!
Para
que nós tivéssemos de volta essa liberdade, muitas vidas foram ceifadas. Muito
sangue derramado. Muito choro e ranger de dentes, ocasionados por choques
elétricos, paus de arara, e outros nomes de instrumentos usados na famigerada
tortura explicita, foram usadas contra homens e mulheres. A maioria de jovens, ingênuos
e idealistas, que se julgavam, contar só com o ardor da mocidade, e que com
isso, poderiam mudar os rumos do País e garantir a volta da nossa liberdade.
Queriam trazer de volta o direito de ir e vir, de morar no Brasil. Essa terra
gigante pela própria natureza, sem que o ABAPORU, se levantasse para engolir os
mais fracos.
Foi
desfechado nos idos de 1964, o maior poderio bélico da Nação, por grupos que
durante anos vinham cobiçando o Poder pelo Poder. Apoiado por Nações
estrangeiras assumiram o PODER, e implantaram o regime arbitrário e violento
que sonhavam. A nossa juventude idealista se revoltou, e foi massacrada com
crueldade nunca sentida no Brasil. Foi um poderio bélico fantástico contra
jovens desarmados, sonhadores, ingênuos, idealistas, que acreditavam poder
acabar com o MONSTRO ABAPORU de pés e mãos grandes, cabeça pequena e estômago
sedento de sangue e carne humana. Foram vítimas de monstros que se alimentavam
da maldade e para o que é pior, passaram a sentir prazer em ser maldosos.
Diz
o grande colunista. “A COMISSÃO VERDADE estava no Norte do PARANÁ, “menos para
investigar do que a revisitar os crimes da Ditadura, como sempre esquecendo os “partidinhos
de esquerda”, que pregavam a luta armada, do mesmo modo que os militares que
tomaram o Poder.” Essa critica foi feita. Contudo, quem coordenou as AUDIÊNCIAS
Públicas no Norte do Paraná fui eu. Designada pelo nosso Coordenador Dr. Pedro
Bodê. Dai ter tomado a decisão de explicar melhor os objetivos da Comissão Estadual
da Verdade.
Nós
não temos o poder investigativo. Investigar crimes de tortura e morte compete á
Policia. Nosso objetivo é dar oportunidade às vítimas que contem os horrores,
que sofreram em prisões infectas e contagiosas, nos porões dos quartéis. Nosso
objetivo maior é ouvir as histórias contadas, por quem viveu a história. Nosso
objetivo principal é o Resgate Histórico da Verdade de uma época do Brasil.
Esse resgate está sendo feito, para que não haja histórias fantasiosas e
mentirosas, para acobertar o verdadeiro papel desenvolvido pela Ditadura
Militar. É preciso que esses fatos venham à luz, para que eles nunca mais se
repitam. E se hoje existe o direito de expressar livremente a opinião, esse
Direito existe, porque, como diz a critica, “os porras loucas” derramaram o seu
sangue. E esse sangue derramado, e o grito de protesto de uma nação inteira,
garantiram o nosso direito de Livre Expressão do Pensamento. Uma coisa é
inegável, esse direito nos foi assegurado, pelo sangue derramado dos “Porras
Loucas”, que ajudaram o povo a
conquistar á Anistia por inteiro. Estamos empatados. O Critico literário, quer
uma Comissão da Verdade, por inteiro. Não queremos ANISTIA por inteiro.
Empatamos.
Os críticos querem uma Comissão da Verdade por inteiro, e a Comissão Verdade do
Estado do Paraná não quer Anistia Recíproca.
É preciso que os fatos sejam apurados. É preciso que a outra metade seja
punida. É preciso que aqueles que mataram, torturaram, enforcaram, queimaram
corpos em fornos de Olaria, também sentem no Banco dos Réus para serem
julgados.
O
prezado colunista tem razão. A NAVALHA
ATÉ GORA CORTOU DE UM LADO SÓ. Os torturadores, os matadores, assassinos, precisam
sentar-se no banco dos réus. A começar pelo Tenente Coronel da época Maurício
Lopes Lima, que foi absolvido e declarou à FOLHA DE SÃO PAULO QUE METRALHOU
Antônio Três Reis de Oliveira e a jovenzinha Aracelli em Tatuapé SP.
Como
se vê senhor Colunista, NÃO SÓ EMPATAMOS COMO EU GRITO “TRUCO”. E usando do meu
direito de livre expressão do pensamento de todos nós brasileiros, conquistado
e garantido pelo sangue derramado desses
“porra loucas”, heróis ingênuos, que acreditaram poder acabar com a
ditadura, infiltrados lá nos confins do Araguaia, e no sopé da serra de
Caparaó, nas proximidades do Pico da Bandeira, na divisa do Espirito Santo, sem
arma, sem munição e sem comida. Foram ingênuos
demais.
Digo isso sem blefar. Você
blefou. Blefar é tripudiar.
Fiz uso do meu direito ao contraditório. O
colunista tem razão. Está faltando muita gente no banco dos réus. Julgamento
para todos os torturadores e todos os assassinos, que recebiam em dinheiro por
cada uma das pessoas mortas. Anistia recíproca não.
Essa é a metade que está
faltando.
Como se vê, brasileiros e
brasileiras, não só empatamos no título, como eu grito “TRUCO” e faço um desafio.
Coloque
as cartas sobre a mesa, ou continue fugindo para não mostrar a OUTRA METADE DA
VERDADE PARA A NAÇÃO BRASILEIRA.