Cesar Techio
Economista – Advogado
É
inacreditável a morte do Ricardo, nosso querido amigo de infância, pessoa
amável, cordata, sempre contente, alegre e disposto a fazer os outros felizes.
Um verdadeiro gênio, era concursado e funcionário modelar da Petrobrás. Morreu
em passeio pela Espanha, de infarto, deixando chocados todos nós, seus amigos.
Nunca mais veremos aquele sorriso e sentiremos aquele abraço fraterno,
caloroso, humano e confortador, tão característicos do seu modo de ser. Ricardo
com 52 anos era filho de José Sebem (80) e neto de Angelo Spricigo (100) e
não consta em sua família intercorrências cardíacas, o que torna a sua morte
física paradoxal.
Diante de quadros tão emblemáticos, vivenciado por todos nós,
todos os dias, com a morte de tantos jovens, entre os quais me ocorre à memória
inúmeros amigos da juventude, constato que a vida é mesmo paradoxal. Ela não
anda de forma linear, pelas veredas da lógica aristotélica ou pelos caminhos
unidimensionais da matemática euclidiana, bases da formação com a qual fomos
treinados a refletir e a pensar o mundo. Senão, como explicar que filhos
precedam os pais na morte, numa total inversão da natureza? Na realidade, a
morte começa no momento em que nascemos e mesmo que não pensemos nisso, somos
forçados a conviver com ela diariamente num contínuo processo dialético
hegeliano no qual nada é certo, lógico, estanque, e no qual não existem
verdades absolutas.
Saber que a morte está contida na vida e que, se quisermos viver
plenamente também precisamos morrer cotidiana e concomitantemente é difícil de
entender. Tudo o que aprendemos pela lógica, pela física e pela matemática (da
qual o Ricardo era mestre) quase nada se aplica a vida real. Nesta, o
imprevisto e a supresa derrotam nossas projeções, cospem na nossa cara e fazem
pouco caso da nossa arrogância porque projetamos a nossa vida para viver
eternamente, senão pelo menos até 100 anos (como o avô do Ricardo). É renitente
a necessidade psicológica de focarmos a nossa existência na ideia matemática da
longevidade e de que a nossa memória, identidade, livros, idéias e cultura, vão
durar para sempre.
Lamentavelmente nossas fotos e informações, por exemplo, as
gravadas na forma digital, em downloads ou guardadas em “nuvens” pelos gigantes
da informática, não vão durar mais do que o tempo de vida útil dessas empresas,
que podem falir deixando de replicar e esvanecendo seus arquivos. Discos
rígidos de computador, DVDs e CDs não se tornam confiáveis após cinco ou dez
anos. As tecnologias mudam rapidamente e novas máquinas nem sempre possuem a capacidade
para ler informações construídas com tecnologias do passado.
A nossa civilização entrará em colapso, como ocorreu com outras
no passado (Egípcios, Astecas, Maias, Gregos, Romanos). Em poucos séculos o
ferro, o asfalto, o concreto, o aço e o metal das fundações dos prédios das
nossas cidades também vão virar pó. O que mais dura, construídos pelo homem,
são artefatos de vidro, cerâmica, ouro, alumínio e pedra. E o que menos dura?
Nossa etérea e volátil pretensão de sermos eternos. Adeus Ricardo. Quem sabe um
dia nossas almas eternas se reencontrem, com nossos amigos, na alegria do teu
abraço.
Pensamento da semana: ”O valor das coisas
não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por
isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas
incomparáveis”. (Maria Julia Paes de Silva). Ricardo, você era incomparável.
Seu amigo de sempre: Cesar Techio.