Cesar Techio - Economista – Advogado
As greves são humilhantes para os trabalhadores que não possuem controle
sobre os instrumentos de produção e, por isso, se obrigam a vender sua força de
trabalho pelo salário imposto pelos patrões que se prevalecem de um mercado
saturado por mão de obra em excesso. No entanto, as relações de produção, ou
seja, o relacionamento social no processo produtivo não precisa ser marcado
pela dominação e exploração dos donos do capital sobre a classe trabalhadora.
Se, por um lado elas podem ser de respeito recíproco e de solidariedade, com
salários justos, por outro os trabalhadores podem concentrar seus esforços e
inteligência para alterar a equação “força de trabalho” e “capital” através de
modelos de autogestão empresarial. É preciso entender que a produção de bens e
serviços abrange de modo dialeticamente inseparável as forças produtivas (tipos
de instrumentos de produção, experiência dos que manejam esses instrumentos,
hábitos de trabalho) e as relações de produção (relacionamento social no
processo produtivo) e que, dentro deste contexto, é necessário buscar uma
relação mais justa, especialmente entre força de trabalho e capital. O foco
principal, ao invés da humilhante e eventualmente necessária greve, deveria ser
a organização da classe trabalhadora na forma de autogestão visando o controle
acionário ou gerencial das empresas.
As “Encíclicas Sociais” que embasam o magistério católico
sobre estas questões, abominam a exploração capitalista e repudiam toda a forma
de exploração de mão de obra e de “mais valia”. Então, não é necessário ser
marxista de carteirinha, senão cristão consciente, para perceber que nas
relações de produção, o valor do trabalho humano deve prevalecer a toda e
qualquer situação. Documentos da Igreja Católica, mas de concepção universal, apontam
neste sentido, ou seja, da prevalência do trabalho humano sobre o capital, como
por exemplo: Rerum Novarum (A Condição dos Operários); Quadragesimo
Anno (A Restauração e Aperfeiçoamento da Ordem Social); Mater
et Magistra (A Recente Evolução da Questão Social);Pacem in Terris (Paz
na Terra), Populorum Progressio (Progresso dos Povos) e Centesimus
Annus (Centenário da Rerum Novarum). Acresce aos mesmos as
orientações dos Conselhos Episcopais de Medelin (Colômbia) ePuebla (México)
que obrigam a igreja a se envolver na defesa dos oprimidos e com os problemas
político-sociais; contra a pobreza, a fome, o analfabetismo, a adoração ao
lucro, a marginalização popular e a exploração da classe
trabalhadora.
De forma que, tanto a educação cristã conscientizadora,
como a assunção pelos trabalhadores de modelos de autogestão, devem se
constituir em importantes motores propulsores de organização e de justiça
social. Principalmente em momentos em que a alienação capitalista toma
conta de forma contraditória de estruturas cristãs comprometidas com o combate
a exploração do trabalho; geradora de greves, humilhação para os trabalhadores
e profundo constrangimento para o povo cristão.
Pensamento da semana: “Que cegueira a minha, a de não vos ter conhecido
antes e mais cedo, Senhor! Porque não empreguei toda a minha vida em vos
servir? Perdoai Senhor, a este pecador!” São Camilo de Lellis.