terça-feira, 30 de abril de 2013

GREVE: HUMILHAÇÃO DOS TRABALHADORES


                     Cesar Techio - Economista – Advogado


  As greves são humilhantes para os trabalhadores que não possuem controle sobre os instrumentos de produção e, por isso, se obrigam a vender sua força de trabalho pelo salário imposto pelos patrões que se prevalecem de um mercado saturado por mão de obra em excesso. No entanto, as relações de produção, ou seja, o relacionamento social no processo produtivo não precisa ser marcado pela dominação e exploração dos donos do capital sobre a classe trabalhadora. Se, por um lado elas podem ser de respeito recíproco e de solidariedade, com salários justos, por outro os trabalhadores podem concentrar seus esforços e inteligência para alterar a equação “força de trabalho” e “capital” através de modelos de autogestão empresarial. É preciso entender que a produção de bens e serviços abrange de modo dialeticamente inseparável as forças produtivas (tipos de instrumentos de produção, experiência dos que manejam esses instrumentos, hábitos de trabalho) e as relações de produção (relacionamento social no processo produtivo) e que, dentro deste contexto, é necessário buscar uma relação mais justa, especialmente entre força de trabalho e capital. O foco principal, ao invés da humilhante e eventualmente necessária greve, deveria ser a organização da classe trabalhadora na forma de autogestão visando o controle acionário ou gerencial das empresas.

   As “Encíclicas Sociais” que embasam o magistério católico sobre estas questões, abominam a exploração capitalista e repudiam toda a forma de exploração de mão de obra e de “mais valia”. Então, não é necessário ser marxista de carteirinha, senão cristão consciente, para perceber que nas relações de produção, o valor do trabalho humano deve prevalecer a toda e qualquer situação. Documentos da Igreja Católica, mas de concepção universal, apontam neste sentido, ou seja, da prevalência do trabalho humano sobre o capital, como por exemplo: Rerum Novarum (A Condição dos Operários); Quadragesimo Anno (A Restauração e Aperfeiçoamento da Ordem Social); Mater et Magistra (A Recente Evolução da Questão Social);Pacem in Terris (Paz na Terra), Populorum Progressio (Progresso dos Povos) e Centesimus Annus (Centenário da Rerum Novarum). Acresce aos mesmos  as orientações dos Conselhos Episcopais de Medelin (Colômbia) ePuebla (México) que obrigam a igreja a se envolver na defesa dos oprimidos e com os problemas político-sociais; contra a pobreza, a fome, o analfabetismo, a adoração ao lucro, a marginalização popular e a exploração da classe trabalhadora.    

   De forma que, tanto a educação cristã conscientizadora, como a assunção pelos trabalhadores de modelos de autogestão, devem se constituir em importantes motores propulsores de organização e de justiça social. Principalmente em momentos em que a alienação capitalista toma conta de forma contraditória de estruturas cristãs comprometidas com o combate a exploração do trabalho; geradora de greves, humilhação para os trabalhadores  e  profundo  constrangimento para o povo cristão.

Pensamento da semana: “Que cegueira a minha, a de não vos ter conhecido antes e mais cedo, Senhor! Porque não empreguei toda a minha vida em vos servir? Perdoai Senhor, a este pecador!” São Camilo de Lellis.