MBA DE FERRANTES E O ARQUIVO PÚBLICO DO PARANÁ
Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@yahoo.com
Foi no início da década de 80, em Curitiba, que conheci Mba de Ferrantes, então diretor do Departamento Estadual de Arquivo e Microfilmagem do Paraná, o Arquivo Público do Paraná, o qual, certa feita, presenteou-me com um exemplar do Boletim do Arquivo do Paraná, ano VIII, n° 11, de 1982, em cujas páginas consignou um artigo de sua autoria, intitulado “Data Vênia”. No mesmo tecia considerações a respeito de um requerimento do então deputado Fidelcino Tolentino (depois Prefeito de Cascavel), à Mesa da Assembléia Legislativa, “... solicitando as segundas vias de documentos da receita dos anos de 1949 a 1960, que se encontram na DRR de Cascavel, para que sejam tombadas pelo patrimônio histórico e entregues aos cuidados do Município de Cascavel...”
Meu culto Diretor chamou a atenção para a “relevante” proposição e interesse por documentos que, “públicos ou privados, são efetivamente a fonte informativa primária sobre o desenvolvimento econômico e social e constituem, por essa razão mesma, uma parte incomensurável do patrimônio cultural de um povo”.
Lembrou, ainda, que “os documentos públicos são propriedades do povo e por delegação do povo são administrados pelo Governo” nos Arquivos que são “as instituições especificamente previstas para sua guarda, conservação, organização e serviço eficaz e econômico.”
Em defesa dessa guarda, o inesquecível Diretor, por quase três décadas a frente daquela instituição, lembrou que os documentos “não podem, jamais, ser retirados da custódia dos Arquivos que cumprem em conseqüência, missão indispensável em toda a sociedade, e nenhuma instituição pode substituí-los nessa missão”.
Concordando com o pleito do Deputado, entendeu indispensável diligência para saber se, a par do Museu de Cascavel existia também um “Arquivo de Cascavel”, instituições as quais, “com a Biblioteca de Cascavel, deverão formar a trilogia em que se assentará, indispensavelmente com a Universidade, a estrutura primordial do movimento cultural da próspera e vigorosa comuna interiorana”
Relendo o documento, em cujo único exemplar o magnífico Dr. Mba de Ferrantes lançou sob a impressão de sua assinatura, nova assinatura original com belíssima caneta presenteada por algum amigo ou parente, assaltou-me grande saudade daquele ilustre paranaense, e a consciência de que aqui, nesta comuna de Concórdia, muito precariamente possuímos, um tímido museu que se esfacela esquecido em algum canto da cidade, e uma biblioteca que estudantes sequer sabem onde fica.
Se me fora permitido colaborar nesse segmento com as autoridades do meu município, é certo que lhes aconselharia, com a urgência que o caso requer, a construção de um prédio adequado para a instalação do Arquivo de Concórdia. E, em anexo o Museu de Concórdia e a Biblioteca Pública Municipal. Três atividades distintas, sendo que o Arquivo, digo pela experiência privilegiada sob a tutela daquele diretor e do saudoso Chefe da Divisão de Guarda de Documentos, Gersino Pinheiro, haveria de contar com especialistas a par de apropriada sistemática para resgatar e guardar documentos públicos, fonte primária de nossa memória e, no dizer de Mba de Ferrantes, “parte incomensurável do patrimônio cultural de nosso povo”. Era 28 de dezembro de 1981...