Cesar Techio - Economista
– Advogado
No início deste ano, escrevi, que a greve nacional dos caminhoneiros não pode
parar setores essenciais da economia, sob pena de agravar o sofrimento do povo
brasileiro. Os fundamentos da greve de fevereiro de 2015 traziam uma pauta de
reivindicações. Todavia, na atual, a principal ou única pauta é a da renúncia
da presidente da República. Chegamos, então, a um ponto no qual se está
considerando que a democracia liberal não oferece mais alternativa e que o
Estado Democrático de Direito, e especialmente a política sustentada por ele,
são meras fachadas para a manutenção de privilégios, corrupção, desigualdades
econômicas. Tudo fruto de vitórias eleitorais compradas a dinheiro. Frente o
esforço para o desenvolvimento do sistema produtivo, do trabalho, do
trabalhador e da atividade empresarial, a legitimidade do sistema de
representação política (em especial para o cargo de Presidente da República,
comprometido pela ineficiência e assolado por uma gigantesca onda de corrupção
em meio ao naufrágio da economia) não detém mais qualquer legitimidade. Frente
à desigualdade econômica e a miséria enfrentada pelos setores produtivos e
pelos trabalhadores, a igualdade política é uma farsa e a representação um
mecanismo para perpetuar a mesma farsa.
Esta me parece ser a racionalização ideológica a que chegaram os caminhoneiros.
Segundo eles, somente vão recuar se a presidente renunciar, porque não há para
onde recuar. Com inflação alta, desemprego, moeda desvalorizada, combustíveis e
energia elétrica explodindo, resolveram apelar para a greve, todavia, por
motivos políticos e por uma questão de sobrevivência. Do outro lado da mesma
moeda, em palestra proferida nesta segunda feira (09/11/15), no maior evento de
gestão da América Latina no HSM Expomanagement 2015, em São Paulo (http://www.hsmeducacaoexecutiva.com.br), Abilio Diniz (presidente do
Conselho de Administração da BRF) disse que a turbulência que o país atravessa
não tem causas econômicas, mas sim políticas e vai passar: "No momento em
que tivermos uma estabilidade política, a virada da situação econômica será
muito rápida, porque será restabelecida a confiança. Não sei quando isso vai
acontecer, mas espero que seja rápido. Não é possível que os homens que
comandam esse país não percebam que ainda não temos uma crise econômica, mas
vamos ter em breve se a situação se mantiver assim". Referindo-se ao
agronegócio brasileiro chegou a afirmar que o mesmo é uma fortaleza mundial:
“Esse Brasil continua exportando, se supera e só pede para o governo não
atrapalhar". Abílio Diniz recomenda ao empresariado que não reclame da
crise, mas que busque maneiras de enfrenta-la, pois, "reclamar da crise
não adianta nada”. Analisando estes dois quadros, ou estas duas falas,
dos motoristas de caminhões e de Abílio Diniz, fico imaginando que, se o
desastre econômico do Brasil (que já se faz presente, conforme indicadores
econômicos), tem mesmo natureza exclusivamente política, então a solução também
deve ser de natureza estritamente política. E para isso é preciso acreditar que
as verdadeiras mudanças somente podem ser realizadas de forma duradoura na
época das eleições, através do voto. Mesmo porque, já se sabe que não
adianta votar num incompetente, como um asno, e depois fazer greve pela
renúncia do eleito, pois no caso dos caminhoneiros vai sobrar mais uma vez para
todos nós, o povo.
Pensamento da semana: “A inflação é como o pecado:
todo governo a denuncia e a pratica.” Frederick William Leith-Ross