Renato
Maurício Basso
Collor
se comportou de modo diferente ao sabatinar Janot, a quem chama de “janó”,
talvez em alusão a “nó em pingo d’água” ou espertalhão. A ironia era a mesma, a
raiva destilada em seus olhos de psicopata também, mas o ataque pessoal contra
Janot não se fez presente desta feita. Não ouvimos ele qualificar o sabatinado,
cara a cara, olho no olho, de fdp, fascista ou tosco, como o fez em plenário
dias atrás.
Será
que lhe faltou coragem ou sua assessoria o orientou para que pegasse mais leve,
alertando-o que muita gente está falando que malcriação tem lugar no boteco, no
lupanar e não no Senado Federal? Ele não sabe disso, é comum não se saber
certas coisas.
Evidente
que Janot não iria revidar provocações de baixo calão, nome feio e impropérios
contra sua pessoa, para não ter que se dar por impedido ou suspeito no processo
que fez debutar contra o senador, disso Collor não precisaria ter medo.
Menos
mal que não assistimos à reprise daquela pouca vergonha e não precisamos nos
indignar mais uma vez com a forma vulgar que identifica aquele senador.
Mas,
apesar da incisiva inquirição do Fernando e de algumas alfinetadas do PT e do
PCdoB (submissos úteis que apontaram Gilmar Mendes como prevaricador por
engavetar processos e Janot como seletor de
acusações), ordenadas pela presidenta, Janot foi aprovado pela Comissão
que o sabatinava no Senado.
O
que mais me chamou a atenção naquela sessão, todavia, foi a figura do próprio
sabatinado durante o ataque de Collor. Até que se saiu “mais ou menos bem”, em
que pese a insistente coçada no nariz e as olhadelas para aquele que presidia o
ato. Pareceu meio incomodado naquele momento, não a vontade. Naquele momento
não convenceu ao responder que tinha alugado, sim, uma mansão no lago Paranoá,
por R$63 mil mensais, para atividades do Ministério Público Federal, ele
próprio.
O
problema com essa mansão é que após três meses de vigência do locatício,
“descobriu-se” que a legislação distrital não permite atividades comerciais ou
burocráticas lá, que é um bairro estritamente residencial. Collor apresentou
documentos e Janó, a meu ver, quis dar nó em pingo d’água, quando se defendeu
dizendo que, realmente, só se flagraram da situação ilegal quando do momento da
mudança, da ocupação do imóvel. Mas aí já se tinham passado três meses desde a
assinatura do contrato e lá se foram R$189 mil reais, dinheiro público, pelo
ladrão. Só então, antenou-se para a porcaria que fez e disse que já foi ao
Judiciário para tentar rescindir o contrato. Vai perder a ação e pagar multa
rescisória mais honorários advocatícios porque o proprietário, seja lá quem for,
não tem culpa de nada. Quem deveria ver com antecedência se no Lago Paranoá
pode, ou não, funcionar o escritório do Janot, é ele próprio. Não colou... Ah,
mas a mansão tem uma bela piscina e ampla área de lazer...e o preço? Até que
não está muito alto...
Outro
episódio que não me agradou foi a contratação de uma empresa para administrar a
campanha do Procurador-Geral da República a sua recondução ao cargo. Ele não
negou. Convenhamos, será que o povo tem que pagar a campanha do Janot para que
ele continue no cargo que ocupa? Não gostei. Cheira a maracutaia porque ele
mesmo está denunciando políticos que fizeram campanhas de forma ilícita. Quanto
foi mesmo que gastamos com isso?
Collor,
por sua vez, apresentou documentos a respeito e indagou ao nariz incomodado dos
motivos que o levaram a contratar um dos sócios de tal empresa para
assessorá-lo diretamente na Procuradoria, tudo pago por nós. Mesmo diante do
documento flamejado pelo senador, disse que o fulano não era proprietário da
empresa e que, como se trata de bom profissional, não havia problemas na
contratação.
Suas
explicações mais uma vez não me convenceram e quando lembro que o cidadão foi
indicado por Dilma para continuar no cargo, me dá calafrios.
No
final, já sem a pressão de Collor, esparramou-se em frases de efeito moral, em
necessidades de cumprimento às leis, em imperiosa obrigação de conter a
corrupção, em paladinagens que a mim só ofertaram dúvidas. Infelizmente. Gosto
das coisas claras.
A
esta altura da vida o ser humano já não mais me surpreende com suas atitudes,
então a minha infelicidade ao ver o discurso de Janot não foi surpresa, foi sentimento de impotência mesmo.
Gostaria
de ver sua recondução condicionada à elucidação dos fatos trazidos à baila por
Collor, mas, mais uma vez infelizmente, na política brasileira a coisa não
funciona assim e tudo vai a roldão porque não se podem parar as acusações na
Lava-Jato numa hora dessas. A Dilma, se não o indicasse, estaria demonstrando
temor de ser por ele denunciada e a oposição, se não o aprovasse na sabatina,
também. O Collor já está denunciado, então pode berrar. Que barbaridade!
É,
se formos esclarecer tudo, a engrenagem política, nos moldes que aí estão, se
quebra e muita gente vai se ver com o Judiciário.
O
Collor, raivinha de chiliques e ataques pessoais, maroto, tem culpa no
cartório, assim como a Dilma e o PT que dispensam divagações, agora, o Janot
com essa ladainha moralista sem me convencer da moralidade das suas
contratações... Falta dizer que a briga que Dilma comprou contra Collor ao
reindicar Janot é coisa pouca, são dois decadentes, não vale a pena perder
tempo com isso.
Só
um bom vinho pra alegrar. I see You.
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