Cesar Techio - Economista – Advogado
Quando Neuri Santhier
propôs a construção da barragem de contenção como uma das medidas aptas para
evitar enchentes nesta cidade, o prefeito João Girardi imediatamente entendeu
que esta seria, dentro de um sistema de contenção mais amplo, uma medida
imprescindível, necessária e de relevante interesse público. Pois bem, o último
dilúvio que se abateu sobre Concórdia entre o dia 14 (domingo) e 15
(segunda-feira) de junho, com uma precipitação de 164 milímetros, poderia ter
arrasado o entorno do Rio dos Queimados, a começar pelo Parque de Exposições,
passando pelo Posto Bassegio, Escola Cnec e ruas transversais a rua Dr. Maruri
até a rótula da Sadia. Choveu intensa e repentinamente, em 12 horas, mais do
que a média histórica do mês inteiro, que é de 161 milímetros. Com exceção de
pequena parte do Parque de Exposições e de uma casa acima da barragem, a vida
seguiu seu ritmo normal no centro da cidade, confiante na segurança da
barragem. Com efeito, trata-se de uma construção que adotou o modelo do tipo gabião,
caixas com pedras “amarradas” por mantas ou telas, em escada, sistema que
associa resistência hidráulica e estabilidade geotécnica. Mesmo que uma margem
de terra pura venha eventualmente a ceder, a barragem permanecerá estável, sem
risco de fragmentação.
Todavia,
em que pese estas salvaguardas, é
necessário e urgente a construção de painéis de concreto armado nas
laterais,
junto aos barrancos, para impermeabilizar a pressão da água e evitar a
solifluxão, que é a liquefação da terra e consequente possibilidade de
deslizamento de terras e aumento repentino do fluxo da água. No caso,
vem sendo adotados
um conjunto de procedimentos de operação, inspeção, monitoramento e
intervenções na barragem e em seu reservatório, com o objetivo de
garantir a
segurança pelo Secretário de Urbanismo e Obras de Concórdia, Mauri Maran
e sua
equipe.
Doutra banda, é
necessário que a Câmara de Vereadores aprove leis que implementem uma política
ambiental que proíba qualquer tipo de desmatamento na bacia hidrográfica do rio
dos Queimados, sob pena das obras de contenção de cheias virarem, a curto
prazo, obras estéreis e inúteis. A justificativa é simples: A terra sob as
matas possui a missão de reter enxurradas e absorver a água da chuva
conduzindo-a para o lençol freático. Neste sentido, é urgente dar fim a farra
de destruição da cobertura vegetal na nossa bacia hidrográfica, estancando de
vez alvarás de construção e licenças ambientais.
No
Bairro Liberdade (acima do Colégio Olavo) vasta área de mata antiga, permeada
com fauna e flora riquíssima, foi legalmente derrubada para dar espaço ao
Loteamento Dr. Argeu Vicente Gripa, de propriedade de Crippa Imóveis Ltda. Documentação
juntada no Procedimento Administrativo Disciplinar do Ministério Público n°
06.2012.00005696-3, instaurado a partir de abaixo assinado apresentado pela
Associação de Moradores do Bairro Liberdade, que também subscrevi, demonstra a liberação
da Fatma para o desmatamento, que inclusive já foi feito a base do ronco
impiedoso de motoserras. A princípio, as distâncias de fontes de água que
alimentam o Riacho do Sabão, que passa atrás da prefeitura e desemboca no rio
dos Queimados, foram observadas. Entretanto, mesmo legalizado em aclive
topográfico acentuado, o desmatamento eliminou a proteção que parte da mata exercia
na absorção de águas pluviais e colaborará com enchentes atrás da prefeitura e
no centro da cidade. Loteamentos assim, mesmo que amparados pela insensível legislação,
não ajudam a melhorar o meio ambiente. Com a palavra a corajosa Câmara de
Vereadores de Concórdia e ambientalistas.
Pensamento da semana: Não sei o que é pior,
se uma arma de fogo que mata ou uma motosserra que desmata. Juahrez Alves