Cesar Techio
Economista – Advogado
Mahatma
Gandhi enumerou sete perigos para a virtude humana: 1° - Riqueza sem trabalho;
2° - prazer sem consciência; 3° - conhecimento sem caráter; 4° - negócios
sem ética; 5° - ciência sem humanidade; 6° - religião sem sacrifício e 7°-
política sem princípios. Fiquemos, como tema desta nossa conversa semanal, com
os perigos da “riqueza sem trabalho” e dos “negócios sem ética”. Tendo como
base uma extremada ganância e uma ausência absoluta de escrúpulos e compaixão
por suas vítimas, estelionatários aparecem, volta e meia, sorridentes e
cativantes, no seio das comunidades. A própria origem da palavra estelionato,
“stellio”, nos dá uma idéia das estratégias do agir destes camaleões: “lagarto
que muda de cores, iludindo os insetos de que se alimenta”. (Fonte: Mirabete,
Julio Fabrinni; Fabrini, Renato N. Manual de Direito Penal; parte especial; 25ª
Edição, Atlas, São Paulo, 2004).
Sem quaisquer ressaibos ou cautelas, os cidadãos empreendedores caem na
lábia, na conversa fiada, no conto do vigário, hipnotizados pelo carisma
envolvente dos festivos golpistas. Sem reservas e precauções de estilo, confiam
a eles e a todos os que se escondem por trás deles, seus negócios e o dinheiro
suado de suas famílias. E, “data vênia”, dinheiro não falta. Haja dinheiro
fácil e abundante escoado da economia popular de anos, bom para fazer a festa
das aparências que tomam conta do clima de carnaval das quadrilhas que protegem
o esquema. Cumpre, no entanto, não obliterar de que, se as vítimas são
ingênuas, nem todos cultivam o retardo mental a que certos segmentos se propõem
para a manutenção do engodo, de incalculável repercussão futura. Primeiro no bolso dos enganados e depois nas
lides forenses de um judiciário cada vez mais atento as manobras dos que,
segundo Mahatma Gandhi, enriquecem sem trabalho e fazem negócios sem ética.
De
acintosa indigência moral essa “cambada de vagabundos” convence não só vítimas
de poucas luzes, mas gente de atilada inteligência. Afinal, “amigo é amigo” e a
ilusão de que o trato dos negócios tem mesmo lastro na idoneidade da propaganda,
vale o sorriso, o carisma, a música, o churrasco, o aperto de mão, a tapinha
nas costas. E assim se entrega as economias e a própria vida, para que o
dinheiro e as finanças se multipliquem milagrosamente nas mãos desta gente, sem
lastro no trabalho e na seriedade. E é claro, sempre a favor do golpista estelionatário
e de sua trupe, jamais em benefício dos que confiaram nele. Mas, milagre da
multiplicação, pra valer, somente Jesus Cristo fez.
Pensamento da semana: O novo Código Civil elegeu a boa fé objetiva como fundamento de
todo e qualquer negócio jurídico. Sem ela, impõe-se a ineficácia, invalidade e
nulidade das falcatruas.