Cesar Techio
Economista –
Advogado
cesartechio@gmail.com.br
Parti de Curitiba às sete horas da manhã. Como acordei às cinco e meia, fotografei
a tímida aurora nascendo após uma noite de chuva, entremeio a selva de pedra. Entre
dois edifícios, ao fundo, consegui vislumbrar a majestosa Serra do Mar. Fiquei
nostálgico, recordando os tempos do vigésimo sexto andar do Edifício Rui
Barbosa, na Praça Santos Andrade. De lá, o vislumbre da Serra do Mar ao
amanhecer, era espetacular.
Numa sinaleira, da Avenida das Torres, intrigado com a Gazeta do Povo
circulando um dia antes, no sábado, depois de convocar o jornaleiro entretido
com a arrumação da pilha no gramado, comprei a edição de 18/11/2012: “Põe
ali na porta, cuidado para não amassar, que quero ver amanhã, quando chegar em
casa”. Depois de uma leitura sistemática, pensativo com o conteúdo do editorial e com a
coluna da Dora Kramer (Agencia Estado, página 18); logo adiante mais sereno com
o “sarapatel de coruja” do ministro Carlos Ayres Britto, o poeta
sergipano que encantou o Brasil com a justiça “ suave” e “firme”, no dizer de
Elio Gaspari, acabei desembocando na crônica “Nostalgia”.
Li e reli com vagar, assombrado diante das fotografias em torno da
escrita, olho no olho com o Zézito, “no balcão de seu bar, na década de 1960”.
Não conheci essa época de se viver em Curitiba, pois cheguei lá na segunda
metade dos anos 70, mas seu rosto me parecia familiar. Talvez essa impressão,
essa familiaridade, tenha a ver com a eterna democracia encravada nos bares das
capitais e de todas as cidades e vielas do interior deste imenso país, como os
daqui de Concórdia, de “gente contente e feliz” conforme ensina a canção.
Me emocionei ao fim da leitura. É como se por lá já tivesse passado, vivido e
frequentado o bar do seu Zézito. Introspectivo, inspirado no frescor destes
morros ondulados pelo verde do final da tarde, fixo a fotografia,
novamente, e sorvo mais alguns goles de cerveja que me parecem sair da garrafa
do balcão do bar da década de 60, com seu Zézito ao fundo, cigarro na
mão. “Seu Zézito, quanto deu?” (A crônica “Nostalgia” é
de Cid Destafani, publicado na Gazeta do Povo, com fotos da daquela
década, página 20, sob epígrafe “Vida Pública”).
O
quanto a vida se repete, sem a percebermos se repetindo? E com que velocidade? Conheceram-se
e se encontraram da forma que somente o fim da adolescência sabe como fazer. E
por si só já seria o suficiente, mas ele largou a faculdade de engenharia e foi
fazer cursinho com ela. Abandonou o curso matutino e frequentou o vespertino,
pois ela não conseguia acordar e chegar a tempo para as aulas. Saiu do seu
apartamento e foi junto sonhar o nascer do sol, com sacada de frente para a
Serra do Mar, a mesma de antanho, dos meus tempos. Ao anoitecer ele tocava
violão, enquanto ela despertava a cada nota para aquele novo viver; um olhar
distante para o ninho da família, outro para a surpresa do mover dos lábios
dele enquanto cantava para ela. Tanta vida, vitalidade e radiância no mergulho
para o longo caminho que se abria para o futuro, que viajamos juntos para tudo
o que já vivemos e ainda viveremos. E lá se vão trinta ou quarenta anos e, por
entre cada um deles os sentimentos e as saudades por cada momento. A vida se
vai e os amores se repetem. Com que constância?
Pensamento da semana: Amados leitores: Feliz
Natal 2012.