quarta-feira, 1 de agosto de 2012

AS PESQUISAS ELEITORAIS E O VINHO


Cesar TechioEconomista –


Fico perplexo com as seguidas pesquisas a que é submetido o processo eleitoral. A legitimidade do interesse público e a legalidade delas, assim como suas conseqüências no plano das estratégias políticas dos partidos e na cabeça dos eleitores é algo para se pensar nesta noite fria de inverno, em que me inspira um aroma de frutas vermelhas européias, com sabores tostados e notas de tabaco de um excelente vinho português. Escrevo por entre estas fragrâncias, na esperança de um bom percentual de aprovação do leitor. O problema é que não faço pesquisas do gosto (ou desgosto) popular por estas crônicas. Mas, se é verdade que pesquisas têm sabor de vinho, então não me assustaria o resultado. Pesquisa do tipo vinho tinto encorpado, por exemplo, no primeiro gole parece duro, um pouco agressivo; mas isso se dá porque permaneceu “fechado”. É só abrir a garrafa que o vinho passa por um processo de oxidação, “envelhecendo” rapidamente e em meia hora terá outro sabor. O problema é distinguir o resultado de uma pesquisa proveniente de vinhos varietais (vinhos de uma só uva) com os assemblage (vinhos que misturam uvas).

Se a casta for boa, acho que a beleza do resultado é sempre inebriante. O que importa é a honestidade da pesquisa. Uma pesquisa honesta é como um bom vinho. Apresenta nuance firme, traço marcante. Todavia, se for proveniente de videiras pouco cuidadas, normalmente atacadas por raposas sorrateiras, o resultado é enigmático e depois de uma taça ou duas já se cai no porre e na gargalhada. A expectativa sempre é grande, mas é o efeito que conta. A degustação de um vinho de qualidade, assim como a de uma pesquisa metodologicamente correta, feita por mãos de inquestionável saber e honestidade, inebria a alma, relaxa e ajuda os partidos a se posicionarem em suas estratégias. Mas, se proveniente de um Pinot Noir desqualificado, de segunda categoria, proveniente de uma uva terrível desde o plantio, então a decepção pode ser grande. “Enquetes”, por sua vez, são como vinho falsificado. Envenenam o fígado e tonteiam o eleitor. E este é o ponto. Será que as conseqüências de “consultas populares” duvidosas não tonteiam os eleitores? Não atingem o princípio da competição igualitária entre os candidatos? Não influenciam negativamente a vontade dos eleitores?

A quantidade é outro problema. Um bom vinho, bebido moderadamente, faz bem a saúde. Mas, beber muitas garrafas seguidas me parece profundamente negativo, tanto para quem bebe, como para a sociedade. “Duro no funcho”, de “cara cheia”, eleitores despreparados são facilmente manipulados e acabam atropelando a democracia. Que pesquisas embaladas por vapores etílicos são potencialmente capazes de influenciar o resultado do pleito, favorecendo a desigualdade entre os candidatos a mandatos eletivos, é possibilidade a ser considerada. Mas já é madrugada. Tomei este vinho com você, leitor. Por isso foi o melhor vinho. Espero que esta reflexão o ajude a escolher a melhor videira, a melhor garrafa. Escolha com calma, sem pressa. Beba com moderação. E, se o álcool não lhe faz bem, mesmo em minúscula quantidade, aproveite um bom suco. Mas lembre-se. Deve ser feito com uva de primeira.

Pensamento da semana: " In vino veritas" ( no vinho a verdade).