quarta-feira, 18 de abril de 2012

ESCALADA


(l'acquisto di ingredienti al supermercato per fare un buchada)

Cesar Techio - Economista – Advogado cesartechio@gmail.com

Meados de abril, céu azul, final de tarde outonal, um bolo de chocolate em meio ao burburinho do centro da cidade e o Monte Kilimanjaro, com 5.892 metros de altitude, no norte da Tanzânia; o Aconcágua com 6.962 metros de altura, na Argentina e o Monte Everest, a maior montanha da superfície da terra, localizado na cordilheira do Himalaia, entre a China e o Nepal, com 8.848,43 metros de altura. Nas planícies anda a maior parte da humanidade. Andar e viver nelas não exige muito autocontrole, concentração de águia, destreza felina, força muscular, articulação de aço, movimentos curtos e sucessivos, pulos de leopardo, necessários em escaladas de grandes montanhas. Em meio a buzinas e andares apressados dos transeuntes, discorria sobre montanhismo internacional, técnicas de sobrevivência, complexidades do gelo em escarpas, convidando minha mente a navegar pelos majestosos cumes das cordilheiras de onde se pode ver os sulcos dos vales, a sinuosidade dos rios, a clareza cristalina das nuvens e a imensidão dos horizontes penetrando a alma. E fazer longas caminhadas, explicava. De Santiago de Compostela, jornada de 800 km, na Espanha ao Museu Fritz Plaumann aqui pertinho de Concórdia. Voltado para a afirmação da justiça como instrumento humanístico, tinha a impressão de que o envolvia, quase que exclusivamente, uma atmosfera intelectual, própria de quem vai fundo na doutrina, na jurisprudência e na capacidade de sintonizar suas decisões judiciais, ao amor à verdade e à dignidade do ser humano.

Por isso minha surpresa ao ouvi-lo. E mais uma lição, de que é preciso aceitar o ser que pulsa dentro de cada um de nós na sua totalidade. Se nos tornarmos somente intelectuais e não dermos atenção ao corpo que palpita cheio de emoção, energia e amor pela natureza, deixando-o preso atrás de uma pilha de livros, ele ficará desequilibrado, com fome, sede e definhará. Também se ouvirmos somente o corpo e fizermos ouvidos moucos à responsabilidade do estudo, a necessidade de crescermos intelectualmente, em consciência crítica e conhecimento, nos tornaremos pobres, miseráveis, sem idéia de quem realmente somos. Sedentários, nos tornaremos pesados, debilitados, perdidos, sem perspectivas, uma anomalia mergulhada numa vida que não vale a pena viver. Toda a cisão gera esquizofrenia, toda a divisão gera loucura e insanidade.

É no encontro entre a capacidade intelectual e o corpo disposto a dançar, caminhar e escalar montanhas que se encontra a inteireza do equilíbrio, a saúde, o sentido da existência e a verdadeira alegria de viver. Sabedoria, integridade, espirituosidade, mas também esporte e integração com a natureza. Rejubilar-se com os píncaros da consciência e de tudo o que ela é capaz. Festejar o entendimento, a inteligência. Mas também aproveitar a natureza e tudo o que ela pode nos oferecer, sem ter que fazer escolha entre uma e outra, sem conflito ou culpa. “Mens sana in corpore sano” ("uma mente sã num corpo são") já diziam os Romanos. Por que não desfrutar esse imenso universo? Ter prazer com o frescor das matas em longas caminhadas, em pescar num riacho qualquer, ter prazer com o sol, com o ar, com o cantar dos pássaros ao longo do caminho, com as montanhas, com a própria existência? O seu corpo não merece a condenação de um claustro, mas a sua gratidão. Ele é a coisa mais milagrosa e sensacional da vida. Leve ele para escalar esta belíssima chance de viver e ser feliz.

Pensamento da semana: Integridade, equilíbrio, reserva moral do judiciário, montanhista e amante da natureza. Adilton José Detoni, um concordiense de coração.