quarta-feira, 25 de abril de 2012

Terra: Vale de lágrimas do trabalhador.


                                              Curitiba - PR - Batel
cesartechio@gmail.com Advogado/Economista
“Este trabalho, que em Junho de 1848 os operários reclamavam de armas na mão, impuseram-no eles às suas famílias; entregaram, aos barões da indústria, as suas mulheres e os seus filhos. Com as suas próprias mãos, demoliram o lar, com as suas próprias mãos, secaram o leite das suas mulheres; as infelizes, grávidas e amamentando os seus bebês, tiveram de ir para as minas e para as manufaturas esticar a espinha e esgotar os nervos; com as suas próprias mãos, quebraram a vida e vigor dos seus filhos. – Que vergonha para os proletários! Onde é que estão essas bisbilhoteiras de que falam as nossas trovas e contos antigos, ousadas nas afirmações, francas de boca, amantes da divina garrafa? Onde estão essas mulheres prazenteiras, sempre apressadas, sempre a cozinhar, sempre a cantar, sempre a semear a vida gerando a alegria, dando à luz sem dores filhos sãos e vigorosos? Temos hoje as raparigas e as mulheres da fábrica, insignificantes flores de pálidas cores, com um sangue sem rutilância, com o estômago deteriorado, com os membros sem energia! Nunca conheceram o prazer robusto e não seriam capazes de contar atrevidamente como quebraram a sua concha! E as crianças? Doze horas de trabalho para as crianças.” Ó miséria! – Mas todos os Jules Simon da Academia das Ciências Morais e Políticas, todos os Germiny da jesuitaria, não teriam podido inventar um vício mais embrutecedor para a inteligência das crianças, mais corruptor dos seus instintos, mais destruidor do seu organismo do que o trabalho na atmosfera viciada da oficina capitalista. A nossa época é, dizem, o século do trabalho; de fato, é o século da dor, da miséria e da corrupção.” (O Direito à Preguiça, Paul Lafargue).

Estamos em 2012. E esse nosso século? Continuará a ser o século do adoecimento dos trabalhadores, uma tragédia de há tanto anunciada, segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT? “Ocorre anualmente no mundo, cerca de 270 milhões de acidentes do trabalho, além de aproximadamente 160 milhões de casos de doenças ocupacionais. Essas ocorrências chegam a comprometer 4% do PIB mundial. Cada acidente ou doença representa em média a perda de 4 dias de trabalho. Dos trabalhadores mortos, 22 mil são crianças, vítimas do trabalho infantil. Todos os dias morrem em média 5 mil trabalhadores devido a acidente ou doenças relacionadas ao trabalho.” “No Brasil, entre o ano de 2007 a 2010, segundo o Anuário da Previdência Social, ocorreram 2.840.451 milhões de acidentes do trabalho, sendo que 48.532 mil trabalhadores ficaram permanentemente incapacitados e 10.870 perderam suas vidas nos locais de trabalho.”

É pensando nisso que acontecerá o “II SEMINÁRIO REGIONAL TRABALHO E ADOECIMENTO: em Memória das Vítimas de Doenças e Acidentes Decorrentes do Trabalho no Alto Uruguai Catarinense”, na Casa da Cultura, sexta-feira, 27/04, a partir das 13h00min. A questão que se impõe é: Será possível conciliar trabalho com saúde, dignidade, felicidade, prosperidade, segurança pessoal e segurança econômica do trabalhador e de sua família? Conciliar trabalho e bem estar social? Conciliar trabalho e capital? Esse tema merece aprofundamento. E resposta a altura do tema.

Pensamento da Semana: Professor José Adelino Alves, Coordenador do CEREST/Concórdia e ainda Coletivo Sindical, OAB, APLER, FUNDACENTRO/SC, SINDUSCON, INSS, IACC, Procuradoria Regional do Trabalho MPT, Procuradoria Federal Especializada, FIESC, são os promotores e colaboradores do evento.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

ESCALADA


(l'acquisto di ingredienti al supermercato per fare un buchada)

Cesar Techio - Economista – Advogado cesartechio@gmail.com

Meados de abril, céu azul, final de tarde outonal, um bolo de chocolate em meio ao burburinho do centro da cidade e o Monte Kilimanjaro, com 5.892 metros de altitude, no norte da Tanzânia; o Aconcágua com 6.962 metros de altura, na Argentina e o Monte Everest, a maior montanha da superfície da terra, localizado na cordilheira do Himalaia, entre a China e o Nepal, com 8.848,43 metros de altura. Nas planícies anda a maior parte da humanidade. Andar e viver nelas não exige muito autocontrole, concentração de águia, destreza felina, força muscular, articulação de aço, movimentos curtos e sucessivos, pulos de leopardo, necessários em escaladas de grandes montanhas. Em meio a buzinas e andares apressados dos transeuntes, discorria sobre montanhismo internacional, técnicas de sobrevivência, complexidades do gelo em escarpas, convidando minha mente a navegar pelos majestosos cumes das cordilheiras de onde se pode ver os sulcos dos vales, a sinuosidade dos rios, a clareza cristalina das nuvens e a imensidão dos horizontes penetrando a alma. E fazer longas caminhadas, explicava. De Santiago de Compostela, jornada de 800 km, na Espanha ao Museu Fritz Plaumann aqui pertinho de Concórdia. Voltado para a afirmação da justiça como instrumento humanístico, tinha a impressão de que o envolvia, quase que exclusivamente, uma atmosfera intelectual, própria de quem vai fundo na doutrina, na jurisprudência e na capacidade de sintonizar suas decisões judiciais, ao amor à verdade e à dignidade do ser humano.

Por isso minha surpresa ao ouvi-lo. E mais uma lição, de que é preciso aceitar o ser que pulsa dentro de cada um de nós na sua totalidade. Se nos tornarmos somente intelectuais e não dermos atenção ao corpo que palpita cheio de emoção, energia e amor pela natureza, deixando-o preso atrás de uma pilha de livros, ele ficará desequilibrado, com fome, sede e definhará. Também se ouvirmos somente o corpo e fizermos ouvidos moucos à responsabilidade do estudo, a necessidade de crescermos intelectualmente, em consciência crítica e conhecimento, nos tornaremos pobres, miseráveis, sem idéia de quem realmente somos. Sedentários, nos tornaremos pesados, debilitados, perdidos, sem perspectivas, uma anomalia mergulhada numa vida que não vale a pena viver. Toda a cisão gera esquizofrenia, toda a divisão gera loucura e insanidade.

É no encontro entre a capacidade intelectual e o corpo disposto a dançar, caminhar e escalar montanhas que se encontra a inteireza do equilíbrio, a saúde, o sentido da existência e a verdadeira alegria de viver. Sabedoria, integridade, espirituosidade, mas também esporte e integração com a natureza. Rejubilar-se com os píncaros da consciência e de tudo o que ela é capaz. Festejar o entendimento, a inteligência. Mas também aproveitar a natureza e tudo o que ela pode nos oferecer, sem ter que fazer escolha entre uma e outra, sem conflito ou culpa. “Mens sana in corpore sano” ("uma mente sã num corpo são") já diziam os Romanos. Por que não desfrutar esse imenso universo? Ter prazer com o frescor das matas em longas caminhadas, em pescar num riacho qualquer, ter prazer com o sol, com o ar, com o cantar dos pássaros ao longo do caminho, com as montanhas, com a própria existência? O seu corpo não merece a condenação de um claustro, mas a sua gratidão. Ele é a coisa mais milagrosa e sensacional da vida. Leve ele para escalar esta belíssima chance de viver e ser feliz.

Pensamento da semana: Integridade, equilíbrio, reserva moral do judiciário, montanhista e amante da natureza. Adilton José Detoni, um concordiense de coração.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

“Hospital São Francisco e a Falência do SUS.

Cesar Techio - Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com

Prefeitos integrantes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) devem decidir a forma como poderiam contribuir e se envolver com a 49º Campanha da Fraternidade da Igreja Católica, que tem como tema, neste ano de 2012, “Fraternidade e Saúde Pública. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe a melhora e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), o qual, “inspirado em belos princípios como o da universalidade, cuja proposta é atender a todos, indiscriminadamente, deveria ser modelo para o mundo.” Em Concórdia, o Hospital São Francisco, é comandado pela Província Camiliana Brasileira da Ordem dos Ministros dos Enfermos. Na Carta de Princípios das Entidades Camilianas, se encontra estampado o compromisso e o respeito da Ordem, de seus profissionais e de suas entidades, com a valorização da vida e da saúde em todas as suas dimensões: biológica, psíquica, social e espiritual. Tal obrigação preza por valores éticos, cristãos e eclesiais dentro de uma visão holística e ecumênica e repudia a tudo quanto possa agredir ou diminuir sua plena expressão. Estes valores transparecem como compromisso inalienável, intenso, íntimo e inderrogável com uma efetiva, concreta, plena e eficaz participação complementar no SUS.

Em se tratando de instituição ligada a Igreja Católica, com mais razão vivencia com fidelidade a proposta do SUS que ela mesma (Igreja) divulga através do Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2012 quando trata da “Participação complementar das Instituições Privadas sem fins lucrativos no SUS” (item 11). Todavia, em que pese a harmonia entre os princípios Camilianos e a práxis, aqui em Concórdia vivenciada pelos abnegados profissionais de saúde (médicos, enfermeiras e demais profissionais do Corpo Clínico), tenho dificuldade em imaginar de que forma o Sistema Único de Saúde poderia superar a si mesmo e ser consolidado como um sistema justo, diante das terríveis incongruências que se constata no tratamento aos seus conveniados.
Uma das mais visíveis contradições é a baixíssima e vergonhosa remuneração paga aos profissionais de saúde. A tabela de valores SUS está defasada e não condiz com a realidade nacional.

É muito fácil criticar os médicos e falar em mercantilização da medicina, em exigir direitos, deslembrando que eles também possuem os seus direitos, inclusive o de sobreviverem e o de sustentarem as suas famílias. Todo o candidato a prefeito e a vereador, antes de concorrer a uma vaga no executivo ou legislativo, deveria se submeter a um estágio num Pronto Socorro Hospitalar. Nele constataria a dedicação extrema, a excelência do atendimento, o sacrifício e o profissionalismo estendido pelas madrugadas, noite após noite, diante das emergências. Gritos de desespero e mãos que salvam, curam e lutam pela vida dos pacientes, para depois, em troca, receber uma humilhante e absurda miséria do SUS.

Então, para a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) a sugestão: que recomende a seus integrantes e aos futuros candidatos ao pleito municipal deste ano, que estagiem nos Prontos Socorros Municipais. Esta seria uma forma muito interessante de se envolverem com a realidade da saúde pública. Eleitos, poderiam buscar uma efetiva promoção da saúde em favor do povo sofrido, mas pelo menos com a consciência de que ela envolve também, e prioritariamente, uma remuneração menos humilhante e mais digna aos profissionais de saúde.


Pensamento da semana:
Jairo Prado, 66 anos, empresário de sucesso e médico há mais de quarenta anos, ligado na medicina do futuro. Por amor, ideal e vocação: plantão no Pronto Socorro popular na noite de sábado para domingo de Páscoa. Exemplo para a juventude.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

JOVENS, FAÇAM O TÍTULO DE ELEITOR.


Cesar Techio - Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com

Não deve ser difícil para um jovem estudante, em fase de formação, reconhecer um mau político. Sua maneira de agir, sua fala, seus hábitos o denunciam. É só prestar atenção. Mas aqui vão algumas dicas. O político ignorante está separado do sofrimento do povo. Ao redor de si ele cria projetos, sonhos, idéias; age e pensa como uma ilha, desconectado da realidade da vida e do cotidiano dos eleitores. A juventude, apartada dos vícios da política, tem muito mais aptidão para sacar a farsa hipnótica dos shows, do marketing e da propaganda massiva criada pelos políticos em anos de eleições. A mudança de hábitos, talvez, seja a mais visível estratégia para iludir os eleitores. O futuro candidato, que nunca pegou no colo uma criança estranha, faz questão de ser fotografado nesta pose.

“E o avô, o pai, a mãe, como vão? Manda um abraço prá eles”, dispara o indigitado político diante de um eleitor atônito, quando todos sabem que o seu avô e seu pai morreram há mais de dez anos. Dorminhoco até durante o dia, cria hábitos noturnos e é capaz de passar a noite saindo de um baile para outro. E dança com todos. Questionado sobre a mudança de hábitos, busca a lenda da sabedoria, “encontrada nas corujas, que vivem a noite”, justifica. E quanto mais se aproxima o pleito, mais sorrisos, tapinhas nas costas, churrascos e promessas. Prometem tudo. E ninguém pode dizer que eles têm alguma patologia ou que precisam de tratamento psiquiátrico, já que as promessas são para o futuro e este a Deus pertence.

Também não precisam, sequer, apontar as fontes de financiamento, demonstrar de forma técnica a necessidade e viabilidade do que prometem. As promessas são a pedra angular das campanhas. Afinal elas exercem uma grande atração sobre os eleitores, principalmente as promessas sonhadoras, impossíveis de serem cumpridas e as de cunho criminoso, de ajuda pessoal. Sob o manto da ritualística do estelionato, os políticos safados aplicam o famoso 171 para cativar a mente dos eleitores, principalmente daqueles com alto potencial de credulidade.

Conto algumas histórias: Certo candidato a vereador sedizente humilde e em época eleitoral, resolveu capinar em torno da igrejinha da pequena localidade em que nasceu e para aonde não havia mais retornado. Ninguém votou nele. Outro, diante de um acidente de trânsito, forçou a polícia a franquear-lhe a passagem com a desculpa de que era parente da vítima. Ao aproximar-se do atropelado, viu que se tratava de um cavalo. Outro, megalomaníaco, resolveu montar acampamento para dormir nas comunidades, sempre cercado por seguranças. Caiu na gozação popular. O que fazer com estes políticos? São positivamente loucos.

Nenhum psicanalista que seja leal à sua análise e enfoque científico pode afirmar que se trata de pessoas sãs ou equilibradas. O problema é que a Justiça Eleitoral, por mais boa vontade que os juízes tenham, não possui mecanismos para detectar estas metamorfoses. A única forma de defenestrar estes desvios é prestar bem atenção nas atitudes dos candidatos e nas suas mudanças de hábitos em ano eleitoral. E depois votar contra eles.

Pensamento da semana: Jovem acima de 16 anos: Compareça até o cartório eleitoral com uma cópia e a original da identidade e com comprovante de residência de pelo menos três meses. Até o dia 9 de maio. Ter o título de eleitor e votar é um exercício de cidadania.