Amanhecer gelado em Concórdia - SC
Cesar Techio
Economista – Advogado - cesartechio@gmail.com
Há extrema e urgente necessidade de que a comunidade escolar adote estratégias mais eficientes, completas, maduras e de horizontes mais largos, com relação às greves dos professores que pipocam em vários estados da federação. Mas, o mais importante de tudo, diz respeito ao tipo de formação que é dada em nossas escolas. O que se espera é que, o valor que permeia a estrutura escolar se torne eficaz na promoção de uma especial preocupação por todos aqueles desprovidos dos meios para viver com dignidade. Aí se inserem, por evidente, os professores e professoras, os quais são a pedra angular do sistema. Por estes motivos, o planejamento educacional deve ser feito em função da dignidade humana, sob a perspectiva da compreensão das causas da miséria, da pobreza e da injustiça social.
Sob esta ótica, a atual sistemática das greves não atende a necessidade de uma correspondente reflexão a respeito da justiça, que deveria estar presente no currículo escolar e que deveria ter como objetivo concreto a análise das causas da pobreza, do desemprego, da funesta concentração de renda, dos baixos salários pagos aos professores, da perversidade do sistema capitalista, do problema da alienação, etc. Considerando estes fundamentais aspectos, manter os alunos em sala de aula é premissa inalienável, inderrogável, com a qual não se pode transigir. Ocorre que a educação, a meu ver, é serviço essencial, equiparado ao serviço do médico que salva vida, ao do bombeiro que apaga incêndio, entre outros. Sem educação e uma formação ajustada a uma bitola ética exigente, que permita plena capacidade de reflexão e consciência clara da realidade em que vivemos, produziremos uma juventude idiotizada, massa de manobra de um sistema de explorados e exploradores.
O problema não está na greve, mas na estratégia da greve que lança os alunos para fora da sala de aula. Reivindicações são absolutamente legítimas, entretanto, devem nascer de um contexto escolar operante e não esvaziado. Assim, ao invés de se cruzar os braços durante o período de greve, alunos e professores deveriam permanecer em sala de aula, com alteração parcial do conteúdo curricular, destinado a discutir o processo educativo, as causas da miséria social, o baixo e aviltante salário pago aos professores, as causas da exploração da classe trabalhadora, etc. Formar novas lideranças em prol da promoção da causa dos explorados frente à injustiça social deveria ser missão permanente, principalmente em época de greve. Qual a visão da comunidade escolar (professores, alunos e pais) frente ao materialismo? Qual a preocupação diante do egoísmo e da incompetência dos governantes? O que significa austeridade versus consumismo capitalista? Porque o governo não representa os interesses do povo explorado, dos pobres, dos professores e porque não cumpre a lei? O que podemos e devemos fazer para mudar isso? Qual o caminho mais eficaz e de resultado para mudar essa realidade? Vamos eleger representantes da classe dos professores para cargos eletivos na próxima eleição? Qual o candidato a vereador, deputado estadual, federal, prefeito e governador da comunidade escolar? Ora, se são os políticos que, no comando da máquina pública, fazem e desfazem da classe dos professores e, conseqüentemente, da comunidade escolar (pais e alunos), não seria razoável ampliar a pauta de discussão para temas tais como: “pedido de impeachment do governador” e “apresentação de candidatos da classe dispostos a cumprir e a fazer cumprir a lei”? Essa consciência, por óbvio, não se adquire com greves que colocam alunos para fora das salas de aula, em inércia mental, rumo a um futuro sombrio e burro.
Pensamento da semana: “As mães reféns do crack” é o título de reportagem da revista Veja do dia 22/06/2011. É preciso refletir sobre essa devastadora realidade que acaba com as famílias. Em sala de aula!