Cesar Techio - Economista – Advogado
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Ao ler a crônica “Lula não fará seu sucessor”, um leitor de Foz do Iguaçu questionou, em síntese, o seguinte: "se o senador Pedro Simon (PMDB/RS) se tornou, ao longo destes anos, ‘o maior exemplo de como deve ser na essência, um verdadeiro político’ porque ele não desnudou as contradições da governadora Yeda Crusius (PSDB-RS)? A impressão que tenho é que ele está tão preocupado com o escândalo do senado que se esqueceu de defender a sua própria casa, que é o Rio Grande do Sul”. Certamente não se pode ignorar o fato de que Yeda Crusius é acusada pelo Ministério Público por formação de quadrilha e desvio de dinheiro público do Detran gaúcho. Documentos liberados pela Justiça Federal à CPI instalada para investigar indícios da participação de agentes públicos demonstram possíveis desvios de R$ 344 milhões dos cofres públicos. Neles encontram-se provas contra 40 réus na ação penal e civil pública, instauradas pela Justiça Federal com base na Operação Rodin. Pelas ruas da Grécia, com uma lanterna em plena luz do dia, Diógenes procurava “o homem”. Mais do que irônico, a robustez ética desta busca, infelizmente bate à porta dos eleitores nos dias de hoje. Eleitores conscientes procuram políticos virtuosos, autênticos, cuja ética possua mão única de direção. A alusão a Pedro Simon faz parte desta busca. Mas, é forçoso reconhecer que, se no senado vibra a bandeira da ética, no Rio Grande do Sul ignora o terremoto que atinge sua aliada política.
Esta inação estrondeia nos ouvidos dos eleitores. Parcialidade sofismável, dois pesos e duas medidas, dupla ética ou ausência dela? Quais são as implicações e motivos desta omissão? Será que tem algo a ver com o fato do seu filho Tiago Chanan Simon ter integrado recentemente o governo gaúcho? Será que o sepulcral silêncio do senador tem a ver com o fato do PMDB comandar o Banrisul e outros importantes órgãos do governo do Rio Grande do Sul? Não passa despercebido que o afastamento de José Sarney abriria vaga para o 1° Vice-Presidente Marconi Perillo (PSDB), o qual, juntamente com os democratas, na presidência do Congresso Nacional fortaleceria a oposição e conseqüentemente a vitória de Jose Serra à Presidência da República.
Essa complexa e perplexa realidade é acompanhada em todo o país, principalmente nos municípios, por defesas simplórias e estéreis por parte de políticos afinados com o PT e o PMDB. Há aqueles que dizem que nada tem a ver com o que está ocorrendo, porque não foi o PT quem elegeu Sarney para presidente do senado. Outros afirmam que Sarney na realidade sequer faz parte de verdade do PMDB, tendo apenas utilizado a sigla para se eleger. Sem cerimônia se esforçam para toldar o pouco caso, o desprezo, a insensatez e a irresponsabilidade de suas lideranças para com a pátria. Não se preocupam com a coerência que deve nortear a vida de quem pretende representar os (e não se apossar dos) anseios do povo.
É bom ficar de olho. O voto neles é manifestação subalterna de fraqueza, contra a qual a imprensa livre e todas as pessoas que possuem capacidade de raciocínio e compromisso com a justiça devem se opor. O silêncio de Pedro Simon, infelizmente everte, subverte e inverte o que se espera de sua bandeira pela ética, colocando-a a “meio pau”. Se a tática é essa, os aliados e comparsas da dissimulação, da mentira, da felonia, chegarão à audácia e ao cinismo de professarem durante a campanha política do ano que vem, que “nada têm a ver com isso”, que “não sabem de nada”. Mas, se é verdade que da estrumeira brota a flor, temos por dever nas eleições evacuá-los do cenário político nacional, estadual e municipal. Pensamento da semana: “Na vida pública, aprendemos que se pode ouvir tanto as palavras como o silêncio.” José Serra.