Por Rui Polidoro Pinto
O Rio Grande do Sul vive uma nova
perspectiva de desenvolvimento agroindustrial, onde o leite, o biocombustível e
a madeira aparecem como os focos principais dos investidores. É o momento de
optarmos se queremos uma agroindústria cooperativa ou se vamos nos contentar em
ser meros fornecedores de matéria-prima.
Não é a primeira vez que
oportunidades como estas aparecem com força. Na década de 70, tivemos os casos
da cana de açúcar, com o Pro-álcool; a soja e o próprio leite. O Pro-álcool foi
um belo navio que passou bem devagar por toda a nossa costa, sem que nos
atinássemos a construir um porto ou um pierzinho que fosse para permitir sua
acostagem. O resultado é que ficamos à margem dos extraordinários resultados
que o programa trouxe e que poderíamos ter explorado em muitos microclimas do
estado, ao contrário de São Paulo, por exemplo, que cada vez mais se beneficia
do Pró-Álcool.
Nos casos da soja e do leite a
situação foi diferente. Chegamos a montar e explorar sistemas que foram
fantásticos em escala e péssimos em gestão.
Agora, temos uma nova oportunidade e neste momento é imprescindível
levar em conta os ensinamentos do saudoso Roque Lauschner.
O padre jesuíta Roque Lauschner foi um dos
maiores pensadores do agronegócio latino-americano. Em 1974, no Chile, ele
escreveu “Agroindústria e desenvolvimento econômico”, onde expõe que os
conceitos de setor primário, secundário e terciário são ultrapassados e que se
deve ter uma visão do conjunto destes três elementos, de forma orgânica e
integrados na agroindústria.
Mas, conforme recupera o
professor Luís Humberto de Mello Villwock, da Unisinos, Lauschner não foi
somente um homem de ideias. Seu pensamento e ação para o desenvolvimento do agronegócio
no Rio Grande do Sul resultaram em ações concretas. No apogeu do Sistema
Fecotrigo, juntamente com a Fidene/Unijuí, ele foi um dos articuladores para a
criação da Centralsul, visando a industrialização de todo o agronegócio,
passando pelos insumos, indo à transformação da soja, incluindo o domínio de
canais de escoamento e distribuição. Na mesma época, também inspirou as
cooperativas gaúchas, na fundação, em 1976, da CCGL - Cooperativa Central
Gaúcha de Leite Ltda., que aproximadamente durante 20 anos tornou-se responsável
por mais de 70% do leite coletado no estado. Neste período, o cooperativismo
agropecuário foi responsável por 90% do capital social, 88% do patrimônio
líquido e mais de 95% das receitas do sistema cooperativista como um todo.
A visão de Lauschner também foi
responsável pela fundação, em 1993, da Associação Brasileira de Agribusiness –
ABAG, da qual participaram os notáveis Roberto Rodrigues, Nei Bitencourt de
Araújo e Odacir Klein. Tive o privilégio de participar deste grupo como
primeiro vice-presidente da Abag.
Em entrevista ao jornal O
Interior, em outubro de 1977, Lauschner justificava suas ideias citando o que
ocorria pelo mundo. “Se queremos
enfrentar as empresas multinacionais instaladas nos países em desenvolvimento,
não é com pequenas empresas que vamos poder realmente realizar uma concorrência
e um verdadeiro serviço aos produtores associados das cooperativas”,
afirmava. A essência do cooperativismo é
a capacidade de aglutinação. É isto que o faz um sistema poderoso, multiplicador
dos esforços individuais. Esta é a hora de exercitarmos este poder, de
superarmos todos os obstáculos em favor da intercooperação.
Temos duas opções: ou nos
tornamos fornecedores de matérias-primas ou assumimos as rédeas e tocamos a
agroindústria cooperativa
RUI POLIDORO PINTO