Renato Maurício Basso
Andiamo fare uma passegiata, pero no molto píccola, breve, quiçá, para não se
perder por aí.
A coisa é breve mesmo. Nos transportemos para fora do nosso sistema solar para
compararmos o nosso pequeno sol com a maior estrela conhecida, a VY Canis
Majoris, também conhecida como VY Cma, que fica a 5 mil anos-luz da Terra e tem
2,9 bilhões de quilômetros de diâmetro, porte 1.800 a 2.100 vezes maior que o
nosso Sol. O diâmetro da superstar equivale a nove vezes a distância da Terra
ao Sol! Mas pode haver astros ainda maiores, já que hoje se conhecem
"apenas" 70 septilhões de estrelas no Universo. A VY Canis Majoris
fica na constelação de Cão Maior, na Via Láctea, e ganhou o nome da mitologia
grega. A constelação representava o cachorro de Órion, o caçador gigante.
Apesar do tamanho descomunal da Cma, não é possível vê-la da Terra - ela está
morrendo e despejando parte de sua massa em uma nebulosa que encobre nossa
visão.
De lá, então, percebemos que o nosso pequeno sol é invisível, um grão no universo,
e a Terra? Um nada, um átomo em órbita de outro átomo um pouco maior, um
elétron, um próton, um núcleo, sei lá, mas coisa ínfima mesmo, quase um nada.
Ao lado da VY Canis Majoris nosso sol nem aparece de tão minúsculo.
Como é, então, que uns miseráveis micróbios como nós, morando neste planeta,
neste microscópico sistema solar, podemos estar dotados de um cérebro que pode
abarcar essa loucura toda, pensar em inclusão em tudo isso? Quem somos? Qual a
nossa função neste contexto inexplicável? Pensar grande sem ir à loucura não é
para fracos, e é por isso que um bom vinho uma vez ou outra não faz mal, pelo
contrário.
Mas não é verdade? O que é que esses bichinhos matreiros estão fazendo por
aqui, procriando, construindo, brigando, se digladiando consigo mesmo, com seus
semelhantes e adoecendo o planeta, seu lar? Estão no caminho da destruição se
valendo do seu sistema cerebral arcaico, de uma energia que muitos chamam
espírito, ou alma. Mas que valor tem para o universo a mente de um terráqueo, o
seu espírito, a sua alma? Diante dessa imensidão toda, será que não tem uns
espíritos mais energizados, com energia em maior quantidade do que no humano?
Uns espíritos gigantes, um paradoxo? Quem somos para afirmar que a humanidade
representa a única forma de vida pensante do universo? Que somos os únicos, ou
até, os escolhidos pelo Criador? Que diferença fazem meus atos diante do
universo? Não dá nem coceira.
Não dá para buscar entender tudo o que nos é mostrado se não temos uma boa base
de conhecimento, e conhecimento para sustentar a compreensão do universo ainda
não temos. Vamos deixar quieto, por enquanto, porque o micróbio pensante está
entretido com outras prioridades, outros focos que lhe deem satisfação imediata
e uma singela possibilidade de se manter no formigueiro, de matar suas
necessidades biológicas e suas fantasias.
É de se perder, não é mesmo? Que encrenca! Em que enrascada essa maluquice pode
nos enlear... Lembro do meu filho aos nove anos de idade me perguntando “Pai, o
universo tem fim?” É aí que o bicho pega. Fiquei a ruminar uma resposta
plausível na minha cabeça pensante e acho que demorei demais, porque não deu
tempo para evitar uma segunda e não menos intrigante pergunta, “Porque se tiver
fim, tem de estar dentro de alguma coisa, não é?” E lá veio a bomba H pra
acabar de vez com minha perplexidade, “E essa outra coisa teria fim? Caso
contrário estaria, também, dentro de outra coisa maior”... Pode parar meu
filho, eu disse, isso ninguém explica, não se incomode por enquanto.
E aí “dois problemas se misturam: a verdade do Universo e a prestação que vai
vencer”, não é mesmo?
Mas não é uma barbaridade a gente não poder entender as coisas? O vivente fica
mais perdido que cachorro caído de caminhão de mudança, do que cusco em
procissão.
E lá fui eu pra VY Canis Majoris meus amigos. De lá vi só coisa que nunca tinha
visto antes, nada familiar, nada parecido com o que se vê em Brasília ou na
Conchinchina, na Rússia ou na América Latina. Mas como eu dizia no início, o
passeio tem que ser breve nessas horas, e, rapidamente, voltei à minha condição
de micróbio, tendo que me encher o saco com aumento de gasolina, inflação alta,
corrupção, impunidade, cara dura, falcatrua, violência e amargura. Como é que
vou explicar essa porcaria toda? Esse micróbio filho-da-mãe pensa que é Deus,
uns até se intitulam filhos dele, escolhidos por ele e tudo o mais. Como é que
vou explicar que o homem precisa de regras para conviver em sociedade – outros
até receberam umas tábuas, marmelo, chicote, holocaustos, dilúvios, êxodos,
escravidão e peregrinações e não aprenderam nada -, se ninguém obedece as leis
que estão aí? São os deuses da impunidade. Ninguém toca nos safados
caras-de-pau.
Que enrascada hein? Mas volto, de leve, para Canis Majoris, só para aliviar
minha mochila cheia de conceitos, preconceitos, raivas, frustrações (do ódio e
da inveja tento me afastar o mais longe possível), da eventual soberba, do medo
e da ignorância. Pronto! Acho que me sinto um pouco mais leve... então, de
volta, já, para o teu mundinho insignificante, meu filho.
Vamos trabalhar com o que temos de palpável, senão complica tudo. Pois então,
nós micróbios – que deveríamos ser macrobióticos e não matar animais para comer
– e lá do fundo da plateia, meio na penumbra o cara grita “não abro mão do meu
churrasco”, e eu concordo -, nós micróbios devoradores de outros micróbios e
que somos devorados por ainda outros micróbios, precisamos nos organizar para
manter a nossa colônia viva dentro do macrocosmo. É uma questão de
sobrevivência gente. Uns micróbios aí, os do mal, estão bagunçando o coreto e a
coisa não está andando conforme manda o figurino. Sabe aquelas amebas que moram
no intestino? Essas mesmo, as que vivem na podridão, do estrume, se você não
controla o número delas, acaba sendo por elas, e por outras, devorado. Vê como
fica se tua imunidade vai abaixo de um índice razoável...É caixão na certa!
Gelo em Marte, diz a Viking, lembra dessa? Bem atual, não é? No entanto, não há
galinha em meu quintal...
Mas que é difícil a tarefa de organizar a colônia humana, lá isso é uma grande
verdade, ainda mais com essa bicharada toda querendo ganhar espaço, poder,
dinheiro, idolatrias de toda sorte. E é em todo o lugar, em todo o
aglomeramento. Moluscos, antas, metidos a parar em pé, sobre dois pés, vomitando
impropérios de estelionatos e orgias em nome da justiça social...uma tristeza.
Mais triste, porém, o admirável gado novo que os segue, ou o que é o cúmulo da
desesperança, aqueles que assistem a tudo de forma passiva e covarde, esses são
os piores. Nem Jeová, Jesus de Nazaré ou Maomé, são suficientes para controlar
os ímpetos da humanidade, que falar de Buda (não o molusco), pastor ou pagé.
É amigo, viver não é fácil não. Ninguém se entende, estamos todos perdidos,
todos em busca de uma explicação para tudo que é coisa e pouca coisa é
explicada. Religar o ser ao transcendente? Mas será que algum dia já foi ligado
a Isso? É engano em cima de engano e não é para menos que o pixuleco tem o
número 171 no peito. O estelionato é o delito mais abundante no relacionamento
humano, e está tudo bem. Que barbaridade, que pouca vergonha, que falta de brio
e de capacidade para se indignar com a roubalheira que essas amebas estão a
praticar, autorizados pelo nosso voto. Giárdias vorazes. Vocês não irão
muito longe, não irão tomar conta do organismo todo, da sociedade toda.
Serão punidos pela sua volúpia que nasceu das guerrilhas e nos porões, pela
gula, por seu dolo. O seu voo é de galinha e seu destino é ciscar o chão em
busca de vermes outros que é o seu alimento.
Aliás, que projeto social tinha um tal Guevara? Ops, o cara é fera, estão dando
a escolas o nome dele. Menos. Cheirou uns talcos, fumou uns boa-noites
fedorentos, saiu de uma aldeiazinha na Argentina e foi matar gente em florestas
tropicais, enlouquecido pelo ópio vermelho. Qual era mesmo a sua proposta para
as gerações futuras, para a educação, para a melhoria da sociedade? Nenhuma
pessoal. Seu negócio era metralhadora e terror, nada mais, tudo para alcançar
fama, um bolivarzinho de cuecas, libertador de arrotos e flatos com cheiro de
enxofre do quinto dos infernos.
Que plano prático tem essa corja de protozoários para a evolução mental, ética,
moral, da sociedade brasileira nesse pedaço de torrão desse grão de areia no
cosmo? Precisa responder ou vocês tem a resposta bem na frente dos seus
narizes, nos mensalões, petrolões, apedeutas e falastrões que infectam palácios
planaltinos e repartições públicas no meio do nada? Até uma prefeitazinha
metida a besta lá no interior do Maranhão (bem, lá tem escolas excelentes e
bons professores sarnentos para ensiná-la), teve o topete de meter a mão na
merenda escolar das criancinhas. Está tudo dominado, não é? Por quanto tempo
ela irá ficar em cana Dias Toffoli? Como é primária, tem bons antecedentes,
coisa e tal, tempo irrisório. E a farra continua com esses vermes fervilhando
numa ebulição desenfreada dentro dos cofres públicos, sem que a sociedade
conteste, berre, grite... a impunidade é uma droga!
Que mais se quer? Estão infiltrados no próprio Poder Judiciário, na sua mais
alta Corte. Alerta vermelho pessoal! O paciente está ficando com sua imunidade
muito baixa e pode ir a óbito. Vamos ministrar o remédio devido urgentemente
antes que seja tarde demais. Temos bons médicos e creolina da boa para extirpar
a bicheira.
Como é que iremos evoluir se não nos mostram o caminho certo, se não nos dão o
exemplo de retidão, de postura correta? Bactérias e vírus não brigam entre si
em suas colônias, ao contrário, procriam velozmente em ambiente favorável para
manter sua espécie. Mas e o micróbio humano? Precisa de sacanagem na busca do
poder e o brasileiro tem a lei de Gerson em prática desde mil e quinhentos. É,
olhando lá de cima, de Canis Majoris, é tudo ninharia, mas como incomoda...
Em que universo estamos inseridos, hein meu filho? Será que tem fim? E eu que
ia ser breve... Que micróbio pretensioso eu sou... Já pensou?