Foto: http://noticias.uol.com.br/album/2012/07/13
Às vezes questões
simples me fazem refletir em queda livre às profundezas dos mistérios. Andando
pela Rua do Comércio passei a observar as incontáveis pedrinhas brancas e
pretas colocadas lado a lado em sinuosas curvas, as quais, abaixo das belas e
frondosas árvores plantadas pelo Miotto, dão a impressão de um cartão postal.
Mas é o movimento de pessoas que dão vida àquele ambiente urbano. No burburinho
de um final de semana, com formaturas andando soltas pelo Clube 29 de Julho,
mulheres elegantes, vestidas a rigor, acompanhavam, apressadas e com cuidado,
as curvas das calçadas. Mesmo compassadas, duas delas levaram as mãos aos
sapatos retirando-os, indignadas, nervosas, uma aos prantos, saltos quebrados:
famigeradas pedrinhas!
Andar de sapatos sem salto em dia de gala?
Impossível. E mesmo em dias triviais, as mulheres gostam de andar de salto
alto. É mistério que me intriga e por mais que me esforce por descobrir o
porquê desta afeição feminina, mais esbarro em teorias inexplicáveis. Afinal,
por que tenho que saber? As mulheres são assim. Isto é simplesmente um fato. O
mar é azul. Pergunta-se: por quê? É azul porque é. Não há um porquê. Se o
porquê pudesse ser respondido, então o gosto das mulheres por salto alto não
seria um mistério. E as próprias mulheres são misteriosas nos seus gostos. E
são misteriosas porque nenhum porquê é relevante e, se fosse possível dar
respostas a áurea que envolve a beleza de seus gostos, então não haveria
mistério e a própria vida não teria mais sentido. Por isso desisti
completamente de tentar compreender. Apenas me convenci de que usar salto alto
não é um problema. Porque, fosse um problema, como qualquer problema poderia
ser solucionado. Bastaria andar de sapatos sem saltos, por exemplo. Todavia é
um mistério. E um mistério é aquilo que não pode ser solucionado, além do que,
a insolubilidade é inerente ao próprio mistério. Portanto, esqueçamos a
compreensão do gosto das mulheres por salto alto, pois ficaremos confusos e perdidos.
Entretanto, desconfio que o problema tenha a ver com
as pedrinhas, muitas soltas, a maioria distanciadas uma das outras e enjeitadas
por frestas encardidas de bactérias de décadas. Penso em construir uma teoria
sobre a quebradeira diária de saltos e o pavor das mulheres pelo calçadão
central: A culpa é das pedrinhas. Mas, enquanto desenvolvo a teoria, quem sabe
algum vereador piedoso faça uma indicação para o nosso nobre alcaide para que
retire as famigeradas do local e faça um calçadão menos agressivo, mais limpo e
amigo das nossas lindas mulheres.
Pensamento da semana: Uma mulher
sem mistérios é uma mulher sem magia. Eliane Azevedo