quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O MISTÉRIO DAS MULHERES E O CALÇADÃO DA RUA DO COMÉRCIO


















Foto: http://noticias.uol.com.br/album/2012/07/13

               
           Às vezes questões simples me fazem refletir em queda livre às profundezas dos mistérios. Andando pela Rua do Comércio passei a observar as incontáveis pedrinhas brancas e pretas colocadas lado a lado em sinuosas curvas, as quais, abaixo das belas e frondosas árvores plantadas pelo Miotto, dão a impressão de um cartão postal. Mas é o movimento de pessoas que dão vida àquele ambiente urbano. No burburinho de um final de semana, com formaturas andando soltas pelo Clube 29 de Julho, mulheres elegantes, vestidas a rigor, acompanhavam, apressadas e com cuidado, as curvas das calçadas. Mesmo compassadas, duas delas levaram as mãos aos sapatos retirando-os, indignadas, nervosas, uma aos prantos, saltos quebrados: famigeradas pedrinhas!

    Andar de sapatos sem salto em dia de gala? Impossível. E mesmo em dias triviais, as mulheres gostam de andar de salto alto. É mistério que me intriga e por mais que me esforce por descobrir o porquê desta afeição feminina, mais esbarro em teorias inexplicáveis. Afinal, por que tenho que saber? As mulheres são assim. Isto é simplesmente um fato. O mar é azul. Pergunta-se: por quê? É azul porque é. Não há um porquê. Se o porquê pudesse ser respondido, então o gosto das mulheres por salto alto não seria um mistério. E as próprias mulheres são misteriosas nos seus gostos. E são misteriosas porque nenhum porquê é relevante e, se fosse possível dar respostas a áurea que envolve a beleza de seus gostos, então não haveria mistério e a própria vida não teria mais sentido. Por isso desisti completamente de tentar compreender. Apenas me convenci de que usar salto alto não é um problema. Porque, fosse um problema, como qualquer problema poderia ser solucionado. Bastaria andar de sapatos sem saltos, por exemplo. Todavia é um mistério. E um mistério é aquilo que não pode ser solucionado, além do que, a insolubilidade é inerente ao próprio mistério. Portanto, esqueçamos a compreensão do gosto das mulheres por salto alto, pois ficaremos confusos e perdidos.

    Entretanto, desconfio que o problema tenha a ver com as pedrinhas, muitas soltas, a maioria distanciadas uma das outras e enjeitadas por frestas encardidas de bactérias de décadas. Penso em construir uma teoria sobre a quebradeira diária de saltos e o pavor das mulheres pelo calçadão central: A culpa é das pedrinhas. Mas, enquanto desenvolvo a teoria, quem sabe algum vereador piedoso faça uma indicação para o nosso nobre alcaide para que retire as famigeradas do local e faça um calçadão menos agressivo, mais limpo e amigo das nossas lindas mulheres.

Pensamento da semana: Uma mulher sem mistérios é uma mulher sem magia. Eliane Azevedo